A. P. Alencart y Cyro de Mattos (foto de Jacqueline Alencart)
Antologia Poética Da Não Resignação da Mulher
Cyro de Mattos
Sob a
coordenação de Alfredo Perez Alencart, enorme poeta que é também professor
universitário, promotor cultural de larga extensão, foi publicada no ano
passado em Salamanca, Espanha, a antologia
No Resignación, obra que reúne 136
poetas. 72 mulheres e 64 homens, de 35 países representando cinco continentes.
A antologia é um depoimento contundente ante o ultraje vergonhoso que vem sendo
praticado contra a mulher, ao longo dos séculos, e, entre os poetas, estão
presentes os brasileiros Álvaro Alves de Faria, Helena Parente
Cunha, Alice Spíndola, Marcia Barroca e Rizolete Fernandes.
Obra de
flexões poéticas diversas, de nobre alcance em sua problemática existencial,
testemunha a vergonhosa atitude machista contra quem, sendo a outra parte do
homem, alimenta a criação, afasta o sal da terra, a tristeza e a agonia. Acende
os risos. Traz na forma do sol o fruto sazonado. De onde vem o leite para
causar o espanto e adoçar as cores do mundo. Sem teus fluidos, sabemos, que o
mundo seria luto, a natureza sem matriz perdida de sentido. Ninguém saberia da
alegria na casa onde se ouvirá: “Morre, noite!”
Essa
antologia, com ilustração do pintor espanhol Miguel Elias, o selo editorial do
Ajuntamento de Salamanca, merece divulgação sob vários aspectos. Contra uma
situação lamentável, vitimando a mulher sob a violência, o preconceito, a
desigualdade de oportunidades, o desempenho inferior e a exploração sexual,
Álvaro Alves de Faria diz “Sueño, mujer, tu espacio, tus alas”, Yolanda Izard
versifica “Las voces de las mujeres se escriben en el silencio de la cocina”,
Hiroshi Tomita “Que no se desangre el amor/en la sombra,/en la niebla”,
Gioconda Belli escribe: “El hombre que me ame/no dudará de mi sonrisa”, Gloria
Sánchez: “¡Esclava del horror!”. Horror é o que oferece os telejornais diários,
notícias nas quais o telespectador acostumou-se recebê-las sem pensar na dor,
na desgraça de quem supõe ser uma vida de todos e para todos.
Sinto-me
enriquecido em participar, como brasileiro, dessa antologia com inúmeras vozes
poéticas expressivas. Em meu “Poema da Mulher Não Resignada”, observo: “Para
onde vá sem voz/ Deixa que seja levada./Maneira de ser conduzida/Expressa o
espaço inútil. /Golpeada na afronta,/Indisponível de si mesma. /Pousa vazia de
sentidos /No rito de cama e mesa./Rolam anos de vergonha, /O que podemos achar
nela?/Amanhecer é preciso/ Apesar das opressões...“.
*Cyro de Mattos é escritor e poeta. Membro Titular da
Academia de Letras da Bahia e do Pen Clube do Brasil. Primeiro Doutor Honoris
Causa da Universidade Estadual de Santa Cruz, sul da Bahia. . Um dos
idealizadores da Academia de Letras de Itabuna (ALITA).
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