20 de maio de 2019
Pe. David Francisquini*
Ao contemplar certos aspectos da natureza, o homem muitas
vezes fica tão tomado de admiração que sai de seu microcosmo para remontar a
Deus, num verdadeiro ato de louvor ao Criador de todas as coisas, visíveis e
invisíveis. A Escritura Sagrada costuma mencionar com frequência a águia como a
ave forte e veloz, que vive entre o céu e a terra. Contemplativa e guerreira,
ela simboliza valores próprios a ensinar os homens a viver nesse vale de
lágrimas com os olhos postos nas alturas.
Conhecida como a rainha das aves, a águia é combativa e
majestosa, voa alto, muito alto, com a força própria de sua natureza nobre e,
portanto, cheia de direitos. Se ela conquista os mais altos píncaros é graças à
sua natureza, pois possui todas as prerrogativas de verdadeira rainha. Para
indicar uma nação aguerrida que às vezes vem de longe para conquistar outros
povos e submetê-los ao seu arbítrio, o Deuteronômio (28, 49) a
compara a uma águia que irá devorar todos os frutos dos estados a serem
subjugados. Não sem razão, os povos afeitos à luta costumam tomar por símbolo a
águia.
No espírito do livro bíblico citado acima, as águias não se
compadecem de suas presas. Assim acontecerá com toda a geração perversa e
adúltera que abandona a Lei de Deus, passando a viver apenas para a satisfação
de seus caprichos. De uma sociedade forjada por pessoas desse naipe não ficará
pedra sobre pedra, como disse Nosso Senhor a respeito do povo judeu. Quais
presas fáceis, elas poderão saltar como cabritos, mas a águia se apoderará
delas para o seu sustento e o de seus filhotes.
Até a ira de Deus tem elegância, majestade, agilidade e
nobreza, por isso ela é santa. Para estabelecer a ordem no mundo que Lhe virou
as costas, Deus se serviu de sua Mãe, em Fátima, para anunciar que uma nação
predadora e má — a Rússia — espalharia seus erros pelo mundo. Ela é a nação que
vem de longe para tomar com a precipitação não da águia, mas de um abutre, as
carnes apodrecidas das nações pecadoras.
Uma particularidade dos urubus é que eles parecem não fazer
muita força para voar, enquanto o apetite só faz aumentar a ousadia deles de
pularem sobre a carniça. Assim é a ave de mau agouro russa: enquanto não
promove a guerra cruenta, prepara-se para ela iludindo nações com promessas
fátuas, e, para anestesiá-las mais eficazmente, utiliza-se da mídia
colaboracionista, das cátedras de colégios e universidades a fim de impor a sua
revolução cultural e confiscar todos os seus frutos. Como os urubus para se
defender das turbulências provocadas pelas tempestades são capazes de voar
acima das nuvens e aguardar o momento oportuno para atacar, assim a Rússia —
com astúcia e magnetismo viperinos — enfrenta todos os obstáculos que encontra
pela frente, ora pela mentira, ora por ameaças, ora pela guerra, a fim de tirar
a vida da presa escolhida para depois comê-la e digeri-la.
É de modo particular assustadora a infiltração das ideias
comunistas nos meios religiosos, na hierarquia eclesiástica, ditando as suas
máximas até nos mais altos postos da Santa Igreja, a fim de fazer prevalecer as
suas falácias sopradas pelos espíritos malignos para corromper as almas. Para
enfrentar inimigo tão ágil e tão poderoso, é preciso ter ascese constante, o
que infelizmente não presenciamos ao nosso derredor. Nem mesmo as pessoas
sagradas — já anestesiadas — se interessam mais em alertar as suas ovelhas para
o perigo, pois aqui se aplica o ensinamento divino de que os filhos das trevas
são mais sagazes do que os filhos da luz.
Os maus costumam ter a agudeza de espírito e, na espreita,
esperar o momento e a ocasião para avançar para se apoderarem, por exemplo, de
um alto posto na sociedade civil ou religiosa para impor as suas ideias e fazer
a sua propaganda nefasta. Com efeito, Nossa Senhora advertiu em Fátima que a
Rússia espalharia seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à
Igreja, que várias nações seriam aniquiladas caso os homens não fizessem oração
e penitência. Onde está a oração? Onde está a penitência?
Dr. Plinio Corrêa de Oliveira considerou na 8ª. Estação
da Via Sacra — Jesus consola as filhas de Jerusalém — escrita
por ele, que naquele momento trágico não faltaram almas boas que percebiam a
enormidade do pecado que se praticava e temiam a justiça divina. “Não
presenciamos nós algum pecado assim? Onde estão e o que fazem os filhos da
Santa Igreja neste momento que é trágico como trágica foi a Paixão, momento em
que uma humanidade inteira está escolhendo por Cristo ou contra Cristo? Quantos
míopes que preferem não ver nem pressentir a realidade que lhes entra olhos
adentro!”
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* Sacerdote da Igreja do Imaculado Coração de Maria –
Cardoso Moreria (RJ).
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