Anúncio do Evangelho (Lc 1,39-45)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
Lucas.
— Glória a vós, Senhor.
Naqueles dias, Maria partiu para a região montanhosa,
dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. Entrou na casa de
Zacarias e cumprimentou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a
criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as
mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a mãe
do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus
ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. Bem-aventurada aquela
que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Frei Alvaci
Mendes da Luz, OFM:
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Nascimento
de Jesus: Deus se deixa encontrar nas periferias
No Natal celebramos esta realidade: Deus “se fez diferente”
e é na “diferença” que Ele vem ao encontro do ser humano como chance de
enriquecimento vital e de intercâmbio criativo. Deixemo-nos surpreender pelo
Deus da vida que rompe esquemas, crenças, legalismos, bolhas...; ou nossa
vivência de fé se reduzirá a um ritualismo fechado, impedindo sair de nós
mesmos.
Se Deus correu o risco de encarnar-se, de nascer pobremente
e crescer como salvação a partir da exclusão deste mundo, já não há excluídos
para Ele, ninguém fica fora d’Ele. E o lugar principal para a festa é ali onde
Ele aparece: nos “aforas”, onde não há lugar, onde tudo parece esgotar-se e é
condenado a crescer em meio às ameaças e às intempéries das situações
humanas.
Jesus, em Belém, encontrou o seu lugar: nas periferias. A
periferia passa a ser terra privilegiada onde nasce o “novo”, por obra do
Espírito. Ali aparece o broto original do “nunca visto”, que em sua pequenez de
fermento profético torna-se um desafio ao imobilismo petrificado e um
questionamento à ordem estabelecida.
Jesus se fez presente no lugar onde se encontravam aqueles
que não tinham “lugar”, os “deslocados”, os socialmente rejeitados e que foram
a razão de seu amor e do seu cuidado; fez-se solidário com os “sem lugares” e
os convidou a caminhar para um novo lugar. Na Gruta, Jesus teve sua preferência
e escolheu o seu “lugar”, o lugar entre os mais pobres, vítimas daqueles que se
fazem donos dos lugares.
Um “lugar” é sempre mais do que um simples lugar. A
geografia de cada “lugar” revela lembranças, referências, ansiedades, medos,
saudades...; cada “lugar” guarda histórias, presenças e tem força de memória.
Há vidas, pessoas, caminhos, acontecimentos, experiências... Na verdade, o
“lugar geográfico” se confunde com o “lugar interior”. É no lugar geográfico
que o lugar do coração encontra seu suporte e seu repouso. Quando dizemos: “não
tenho lugar”, “estou sem lugar”, “tenho medo deste lugar”... queremos
significar que o coração não encontrou no lugar geográfico o seu lugar próprio.
O Natal nos convida a imaginar lugares em movimento, lugares
de encontro, de desafio, lugares provocativos e criativos..., enfim, lugares
carregados de presença. Celebrar o Natal implica um contínuo êxodo do “lugar
estreito e dispersivo” ao “lugar expansivo e unificador”; ali vivemos uma
permanente travessia dos “nossos lugares rotineiros e auto-referenciais” para
os “amplos lugares cristificados”.
A travessia para a Gruta é um risco, é um salto para um
outro “lugar”, é deixar-se afetar por este “outro lugar”: lugar iluminado por
uma Presença despojada de poder, de riqueza, de prestígio... O mistério do
Nascimento é profundamente “espacial”: um lugar vital, dramático, que
questiona, ilumina, vitaliza e carrega de sentido os lugares cotidianos. Ele nos
ajuda a ter acesso a um “lugar inspirador”, um polo de referência e de atração,
onde nos sentimos acolhidos, integrados e pacificados na “presença”
d’Aquele que, na Gruta, assume e ilumina todos os lugares, sobretudo dos mais
excluídos.
A Gruta de Belém é o espelho dessa experiência originária
que transforma o “caos” cotidiano em “cosmos” e que, somando-se a outras
experiências semelhantes, ativa o modo original de ser e de estar no mundo.
Entrar no espaço do Nascimento de Jesus configura e ordena, de modo novo e
diferente, os lugares por onde transitamos. Sabemos que o espaço faz parte do
ar que respiramos em nível fisiológico e biológico, como faz parte das nossas
experiências interiores. No entanto, vivemos um tempo de confusão de “lugares”,
conseqüência de uma confusão interior. Nossa sociedade parece estar indo à
deriva porque não sabe mais reconhecer “espaços diferentes e vitais”, porque
tudo se torna igual e os lugares não falam mais, pois carecem de sentido e se
revelam como lugares vazios. Os espaços são violados, os “lugares sagrados” são
profanados, os “ambientes” carregados de sentido e de história já não revelam
mais nada...
Esse é o primeiro sintoma de uma visão humana desastrosa e
desastrada. Na insignificância e no achatamento dos espaços está o primeiro e
mais grave esmagamento do pensamento e da consciência, a ruptura das relações
sociais, a indiferença para com o lugar do outro que é diferente, frieza
ecológica e o definhamento das experiências religiosas.
Descer ao lugar da Gruta para encontrar uma Criança desperta
em nós um novo “olhar” para perceber, com mais nitidez e intensidade, os
lugares por onde transitamos, uma nova disposição para dar sentido e valor aos
lugares cotidianos, um olhar solidário para perceber o lugar do outro, uma nova
sensibilidade para “ver” a Presença d’Aquele que ocupa todos os lugares.
Não é comum prestar atenção ao lugar ocupado pelo outro,
sobretudo o outro que pensa e sente diferente; é normal perceber, delimitar,
defender e fechar-se no próprio lugar. Isso se faz de maneira tão zelosa que
nem se vê aquilo que está para além do próprio lugar. São grandes os riscos de
se viver em horizontes tão estreitos. Tal estreiteza aprisiona a solidariedade
e dá margem à indiferença, à insensibilidade social, à falta de compromisso com
as mudanças que se fazem urgentes. O próprio lugar se torna uma couraça e o
sentido do serviço some do horizonte inspirador de tudo aquilo que se faz.
O profeta Isaías nos recomenda ampliar o “lugar interior”:
“Alarga o espaço de tua tenda, estende sem medo tuas lonas, alonga tuas cordas,
finca bem tuas estacas” (Is. 54,2). Um “lugar sagrado” que nasce do coração,
carregado de afeto, de inspiração, de vitalidade...
Ampliar os espaços do coração implica agilidade,
flexibilidade, criatividade, solidariedade e abertura às mudanças e às novas
descobertas. Algumas fortalezas e seguranças pessoais caem quando os “espaços
interiores”, abrasados e iluminados pelo Nascimento de Jesus, começam a romper
as paredes e se encarnam em “lugares exteriores”, marcados pela beleza e
encantamento: lugar familiar, lugar celebrativo, lugar social, lugar de
convivência, lugar de trabalho... um lugar nobre que só tem sentido quando
carregado de presenças.
Só quem transita com liberdade pelos “lugares interiores”
será capaz de ir ao encontro dos outros e entrar em sintonia com eles. O “lugar
externo” é o prolongamento do lugar percorrido e saboreado internamente. Não
tem sentido ampliar os lugares externos se nossa mente permanece estreita, se
nosso coração continua insensível, se nossas mãos estão atrofiadas, se nossa
criatividade sente-se bloqueada...
Lugar amplo é convite a sonhar alto, a pensar grande, a
aventurar-se, ousar ir além, lançar por terra nosso modo arcaico de proceder,
romper com os espaços rotineiros e cansativos para ir ao encontro dos “novos
lugares” dos excluídos e marginalizados. Precisamos levantar-nos cotidianamente
de nossos “lugares”: há sempre um “lugar ferido” que nos espera, um “ambiente
atrofiado” a ser curado, um “espaço” excluído a ser visitado...
Texto bíblico: Lc 2,1-14
Na oração: É o ser humano mesmo o verdadeiro lugar a partir
do qual Deus se encontra e se dá a conhecer; cada pessoa é o autêntico lugar da
eterna presença de Deus.
O melhor presente: uma “uma cesta natalina” repleta de
sensibilidade, tolerância, compreensão, alegria, acolhida, proximidade,
generosidade, solidariedade...
Este é o verdadeiro Natal: que, em Jesus, nossos espaços
cotidianos sejam incubadores de encontros humanizadores, foco de reconhecimento
da dignidade de todas as pessoas.
Um Santo Natal a todos!
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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