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quarta-feira, 4 de julho de 2018

HISTÓRIAS DA MÃE NATUREZA - Paulo Coelho


O leão e os gatos

Um leão encontrou um grupo de gatos conversando. "Vou devorá-los", pensou.
Mas começou a sentir-se estranhamente calmo. E resolveu sentar-se com eles, para prestar atenção no que diziam.
- Meu bom Deus - disse um dos gatos, sem notar a presença do leão. - Oramos a tarde inteira! Pedimos que chovessem ratos do céu!
- E, até agora, nada aconteceu! - disse outro. - Será que o Senhor não existe?
O céu permaneceu mudo. E os gatos perderam a fé.
O leão levantou-se, e seguiu seu caminho, pensando: "veja como são coisas. Eu ia matar estes animais, mas Deus me impediu. Mesmo assim, eles pararam de acreditar nas graças divinas: estavam tão preocupados com o que estava faltando, que nem repararam na proteção que receberam".
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Em silêncio

A árvore estava tão cheia de maçãs, que seus galhos não conseguiam se mexer com o vento.
- Por que não fazes barulho? Afinal, todos nós temos alguma vaidade, e precisamos chamar a atenção dos outros - comentou o bambu.
- Não preciso. Meus frutos são minha melhor propaganda - respondeu a árvore.
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A margarida e o egoísmo

"Sou uma margarida num campo de margaridas", pensava a flor. "No meio das outras, é impossível notar minha beleza".
Um anjo escutou o que ela pensava, e comentou:
- Mas você é tão bonita!
- Quero ser única!
Para não ouvir reclamações, o anjo a transportou até a praça de uma cidade.
Dias depois, o prefeito foi até lá com um jardineiro, para reformar o local.
- Aqui não tem nada que interessa. Revirem a terra e plantem gerânios.
- Um minuto! - gritou a margarida. - Assim vocês vão me matar!
- Se existissem outras como você, poderíamos fazer uma bela decoração - respondeu o prefeito. Mas é impossível encontrar margaridas nas redondezas, e você, sozinha, não faz um jardim.
Logo em seguida arrancou a flor.
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A solidariedade

O leitor Álvaro Conegundes conta que, durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Os porcos-espinhos, percebendo a situação, resolveram se juntar em grupo; assim, se agasalhavam e protegiam mutuamente.
Mas os espinhos de cada um feriam os companheiros mais próximos e, por isto, tornaram a se afastar uns dos outros.
Voltaram a morrer congelados. E precisaram fazer uma escolha: ou desapareciam da face da Terra, ou aceitavam os espinhos do semelhante.
Com sabedoria, decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima podia causar, - já que o mais importante era o calor do outro.
E terminaram sobrevivendo.

Diário do Nordeste, 30/06/2018



 

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