5 de julho de 2018
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Péricles Capanema
A final da Copa do Mundo se dará em 15 de julho no
Estádio Luzhniki, em Moscou. Grandes repercussões esportivas, celebrações e
tristezas, que pouco a pouco se apagarão. Outra final, mais importante,
acontecerá um dia depois, a 1124 quilômetros dali, em Helsinque (capital da
Finlândia). Grandes repercussões políticas para todos, especialmente de
imediato para os europeus. O que muitos temem, agravar-se-á ao longo dos dias.
O Kremlin e a Casa Branca [fotos acima] anunciaram
simultaneamente que Donald Trump e Vladimir Putin se reunirão em Helsinque, 16
de julho. Sarah Huckabee, porta-voz do governo dos Estados Unidos, afirmou que
as discussões versarão sobre segurança. O conselheiro Acácio dificilmente
melhoraria a frase… Sauli Niinistö, presidente da Finlândia, por sua vez,
garantiu que a agenda da cúpula será discutida nas duas próximas semanas.
De fato, nos bastidores, os temas já estão sendo aventados,
há semanas provavelmente. E a cúpola dos dois líderes mundiais só se dará
porque acerca dos assuntos a serem divulgados em Helsinque já houve acordo
substancial. E também houve concordância, pelo menos nas linhas gerais, a
respeito dos assuntos ventilados em reserva, e que não serão informados ao
público.
O encontro dos dois presidentes, o terceiro, será mais
importante, sob muitos aspectos, pela simbologia e pelo clima criado em
Helsinque pelas duas superpotências. Antes haviam se reunido meio de passagem
por ocasião do G-20 em Hamburgo, julho de 2017, e durante a conferência da APEC
(Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico) em novembro de 2017. Agora é
diferente, viagem só para o encontro, os Estados Unidos e a Rússia vão se
encontrar para tratar dos seus mais importantes assuntos comuns.
Do local escolhido emana simbologia. Em Helsinque estiveram
juntos Gerald Ford e Brejnev em 1975 [foto ao lado], do que resultou
aprofundamento da détente (distensão). Ali se reuniram também George
Bush e Gorbachev em 1990, no ambiente da glasnot e
da perestroika, e ainda Bill Clinton e Boris Yeltsin em 1997. Sob vários
aspectos, como em ocasiões anteriores, o mais importante será o clima que
resultará da conferência.
E os assuntos? Lembro a frase conhecida, atribuída ao senador
Valadares, “reunião, só depois do assunto decidido”. Já houve decisões. Na
diplomacia e na política sempre foi assim. Os negócios provavelmente tratados
causam temores nas capitais europeias. Declarações recentes do Presidente dos
Estados Unidos a propósito não tranquilizaram: “Já disse desde o primeiro
dia — estar bem com a Rússia, estar bem com a China, estar bem com todos é
coisa muito boa”.
Estar bem com a China, estar bem com a Rússia, já deixa
muita gente mal à vontade, pois com que subliminarmente delimita o campo só
para três grandes players. O restante vai para o segundo plano. Ademais,
hoje estar bem com a Rússia, significa não estar bem com todo mundo. Muita
gente vai ser prejudicada na política de estar bem com a Rússia. Quem?
O caso da Crimeia está na pauta. Pelo jeito, os Estados
Unidos caminharão para acomodação, deixando a Europa isolada. Com o tempo, a
Europa tenderá também à acomodação, é a esperança de Moscou. De outro lado, a
situação da Ucrânia apresenta pontos semelhantes. Daí, como ficarão as nações
que fazem fronteira com a Rússia? Que valor têm as atuais garantias
norte-americanas relativas à efetiva independência delas?
O grande tema do encontro começa a aparecer claro: zonas de
influência. Os Estados Unidos deixarão que imerja uma ainda não oficial zona de
influência russa? Existiu na prática durante toda a Guerra Fria. Voltará?
Outros temas. O futuro da Síria. Relações entre Pequim,
Washington e Moscou. Não foi veiculado, mas existe ainda sobre a mesa o apoio
russo ao regime de Nicolás Maduro, ingerência brutal e crescente na América do
Sul. Como reagirão os Estados Unidos?
Donald Trump estará em Bruxelas em 11 e 12 de julho para
reunião da OTAN — encontro de Chefes de Estado. Depois irá à Inglaterra em 13
de julho. Londres se sentiu enfraquecida em sua posição de isolar Vladimir
Putin com o anúncio da cúpula na Finlândia. A seguir, no dia 16, o presidente
dos Estados Unidos encontrará Vladimir Putin. Ele não poderá em Bruxelas
reafirmar fortemente os laços com a OTAN — organização fundada para fazer
frente ao expansionismo soviético e hoje barreira contra os sonhos do
grão-nacionalismo imperialista de Putin —, se quiser trombetear êxitos em
Helsinque. E nem é provável que apoie a posição firme de Londres em relação ao
autocrata russo. Para chegar em Helsinque com possibilidades de triunfo
publicitário, o presidente dos Estados Unidos precisaria baixar o tom no
endosso público aos objetivos da OTAN e à diplomacia de Therese May em seus
esforços para conter o expansionismo russo.
Em vista das preocupações provocadas pelo quadro geral, John
Bolton, assessor para a Segurança Nacional dos Estados Unidos, procurou jogar
água na fervura: “Não penso que devamos, necessariamente, esperar
resultados específicos ou decisões. É importante, depois de certo tempo sem
cúpula bilateral, permitir que os presidentes conversem sobre todos os temas
que queiram, seja privadamente ou em reunião ampliada. Seguiremos suas
diretrizes depois de tais discussões”.
Nessas circunstâncias, só fatos — e não palavras — podem
acalmar. Daqui a duas semanas conheceremos os resultados de verdadeira final de
Copa do Mundo no âmbito político. Os divulgados. Acalmarão? Que Deus nos ajude!
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