Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Lau Siqueira nasceu em Jaguarão (RS), mas atualmente reside
na Paraíba. Siqueira publicou 7 livros, quais sejam: “O Comício das Veias”,
Editora Ideia, 1993; “O Guardador de Sorrisos”, Editora Trema, 1998; “Sem Meias
Palavras”, Editora Ideia, 2002 e “Texto Sentido”, Editora Bagaço, 2007, todos
esgotados.
Pela Editora Casa Verde, de Porto Alegre, publicou “Poesia
Sem Pele”, 2011, “Livro Arbítrio”, 2015 e “A memória é uma espécie de cravo
ferrando a estranheza das coisas”, lançado em dezembro de 2017 em Jaguarão e
Porto Alegre (RS). Teve poemas incluídos em importantes antologias no Brasil,
Portugal, Argentina e Moçambique. Tem poemas traduzidos para outros idiomas e
escreve para jornais, blogs, portais e revistas.
“Em João Pessoa será no dia 2 de fevereiro, a partir das 19
horas, na Budega Arte Café, um lugar onde tem acontecido muita coisa importante
na arte contemporânea da Paraíba.”
Boa Leitura!
Escritor Lau Siqueira, é um prazer contarmos com a sua
participação na Revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que mais o encanta na
arte poética?
Lau Siqueira - Definitivamente, são os estranhamentos.
As provocações que muitas vezes encontramos num único verso. Muitas vezes, até
mesmo o que eu não entendo direito e de certa forma nem sei como me
ganhou,provoca um imenso prazer estético. A emoção inesperada é indescritível
para um leitor. Um prazer sem parâmetros fora da leitura. Tem texto que desafia
o leitor, e isso é o que mais me interessa na poesia. Isso não significa que
esse encantamento venha de uma imensa complexidade.
Algumas vezes vem da
simplicidade, ainda que a simplicidade seja exatamente o que há de mais
complexo. Mas, observe por exemplo esses dois versos de James Joyce: “O
vento indomável que passa não vai mais/ Voltar, não vai voltar.” Há um
tipo de deslumbramento aí que leva você a pensar que ele não está falando
exatamente do vento. E realmente não está. O vento é só o motivo. Esses versos
estão como epígrafe no meu livro.
Apresente-nos o processo para seleção dos textos que compõem
o seu livro “A memória é uma espécie de cravo ferrando a estranheza das
coisas”.
Lau Siqueira - Na verdade nunca levo muito a sério
qualquer critério para a seleção dos textos nos meus livros. Escrevo de forma
quase compulsiva com silêncios absurdos, às vezes. Quando escrevo um poema e
sinto que ele não se completou, não tenho o menor pudor em rasgar ou deletar.
Trabalho num poema enquanto vejo nele uma possibilidade. Quando não, tanto faz
o tempo que tenha investido na criação. Elimino imediatamente. Acredito que em
todos os meus livros aconteceu praticamente o mesmo processo. No mais, não
tenho compromisso com temáticas e apenas vou escrevendo. O desafio é a
linguagem. As domas da palavra. A forma é o conteúdo. É como se eu estivesse
escrevendo um único livro publicado em capítulos. Assim, quando vou finalizar o
livro me importo menos com isso. É como se cada poema tivesse vida própria.
Como se cada poema justificasse o livro. Um processo, aliás, que se dá quase
que naturalmente, com poucas intervenções mais objetivas.
Como foi a escolha do título?
Lau Siqueira - Eis a parte mais difícil. Até porque
comecei a escrever esse livro com outro propósito. Seria outro livro, bem
diferente. Era para atender o convite de outra editora com uma proposta muito
específica. No meio do caminho mudei tudo, e o título que eu tinha para o outro
livro perdeu o sentido. Então comecei a recompor tudo, escrever outros poemas,
até decidir colocar um ponto-final. Mas, e o título? Eu tinha ficado sem
perspectiva de título com as mudanças. Essa, talvez, tenha sido a parte mais
difícil. Foi então que percebi o quanto a estrofe de um poema completava o meu
olhar sobre o conjunto da obra. Daí, resolvi bater o martelo e a editora topou.
Quais temáticas estão sendo abordadas nesta obra literária?
Lau Siqueira - Na verdade, a minha preocupação maior é
com a forma. Gosto de desconstruir meus próprios motivos. Os temas abordados
são o que menos importa. No entanto, parece que tem sido uma tendência nos meus
últimos livros. Vou realizando rupturas sequenciais, mas sempre com um pé na
filosofia, no minimalismo, abordando o tempo, a condição humana, a vida
contemporânea. Os temas realmente dialogam com o momento vivido. Ah, também,
este talvez seja o meu livro com o maior número de poemas eróticos. Ainda escrevo
um livro apenas com poemas eróticos ou mesmo pornográficos. Acho desafiador
demais. Difícil demais não cair na mesmice e na vulgarização da própria
linguagem poética.
Como foi a escolha da imagem para capa?
Lau Siqueira - A Editora Casa Verde cuida muito bem
disso para mim, mesmo me consultando sempre. Por isso as escolhas não são
difíceis. O projeto gráfico e a capa são assinados pelo poeta Roberto
Schmitt-Prym, um dos mais competentes profissionais da área que conheço. Ele
convocou a artista plástica Bianca Santini para fazer um desenho abstrato,
conforme eu tinha solicitado e, particularmente, adorei o resultado. As três
capas dos meus livros pela Casa Verde são excelentes. Criativas, diferenciadas.
Portanto, o contato com esses profissionais me tranquiliza. A editora Laís
Chaffe cuida de tudo com muito profissionalismo.
O que mais o encanta em “A memória é uma espécie de cravo
ferrando a estranheza das coisas”?
Lau Siqueira - O que mais me encanta é conseguir fazer um
livro viável, do ponto de vista do custo da edição.Mesmo estando radicalmente
fora dos grandes esquemas de distribuição e das grandes editoras. Mesmo sem
grandes atenções da mídia. Temos vendido por e-mail, e sempre existe a
possibilidade de um novo lançamento. Essa “sustentabilidade” é desafiadora, mas
me encanta. Ou seja: sem patrocínio, meus livros vão sendo pagos pelos leitores
e leitoras aos quais sou sempre muito grato.
Sabemos que todos os textos publicados na obra o marcaram de
forma peculiar e enigmática. Cada texto é um pedacinho do Lau Siqueira.
Apresente-nos um dos textos publicados no livro.
Lau Siqueira - Tem um texto que responde de forma mais
objetiva essa questão. É o poema “Sessenta”, um longo poema que escrevi no dia
em que completei 60 anos. Mas vou colocar aqui o poema “Tapera”, bem mais
curto:
“O tempo é uma casa
desabitada e esquecida
no meio da estrada.
Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não
viu nada.”
desabitada e esquecida
no meio da estrada.
Quem passou por ela
e viu apenas uma
casa, na verdade não
viu nada.”
Comente o momento da criação deste texto.
Lau Siqueira - Eu tenho viajado muito pelo interior da
Paraíba a trabalho. Gosto de fotografar e então fotografo muita coisa.
Paisagens, pessoas, imagens aleatórias. Muitas dessas fotografias acabam
virando poemas. Certa vez, nas minhas “andanças sertânicas”, me deparei com uma
casa abandonada. Era tão significativa aquela imagem entre pedras e mandacarus,
que eu parei e fui tragado pelo que vi. Depois, já no computador e revendo
aquela imagem, comecei a pensar no que representava tudo aquilo. Aquela
confluência enorme de linguagens habitando uma imagem de abandono. Comecei a
pensar nas pessoas que circularam por ali, suas vidas, suas tragédias, suas
vitórias... quem sabe? Assim nasceu esse poema. É um olhar sobre o abandono, o
imperceptível.
Após o lançamento do livro no Rio Grande do Sul, teremos
lançamento da obra em João Pessoa. Qual o dia, horário e local do evento?
Lau Siqueira - Em João Pessoa será no dia 2 de
fevereiro, a partir das 19 horas, na Budega Arte Café, um lugar onde tem
acontecido muita coisa importante na arte contemporânea da Paraíba. Em
dezembro, fiz dois lançamentos no Sul: em Jaguarão e Porto Alegre. Depois de
João Pessoa, vamos ver onde mais é possível. Já existem alguns lançamentos
previstos em Natal (RN), Maceió (AL) e Aracaju (SE). Com calma, vamos vendo
onde mais poderemos promover o livro.
Por quanto será comercializado o livro no local do evento?
Lau Siqueira - Nos lançamentos têm sido vendidos a R$
30,00 à vista; no cartão, R$ 32,00.
Quem não puder comparecer, como deve fazer para comprar o
livro?
Lau Siqueira - A editora também está recebendo pedidos
por e-mail: casaverde@casaverde.art.br ou lchaffe@gmail.com. Aliás, na editora os
meus três últimos livros estão disponíveis. Recomendo não apenas por serem meus
livros, mas por representarem um tipo de resistência ao mercado formal do livro
que tanto tem excluído a literatura brasileira contemporânea.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom
conhecer melhor o escritor Lau Siqueira. Agradecemos sua participação na
Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Lau Siqueira - Estejam atentos e atentas às ebulições
da literatura brasileira. Claro que alguns dos “jovens escritores” já vêm de
uma longa estrada, como eu. Mas, uma novíssima geração vem escrevendo com muita
qualidade. A novidade é que no mundo machista dos livros nunca vi tanta mulher
escrevendo tão bonito. Não deixe de comprar livros. Leia, mas também presenteie
amigos e amigas. Surpreender alguém com boa literatura é sempre um tipo de
sedução. Que tal começar com meus livros?
Divulga Escritor, unindo você ao mundo através da Literatura
Contato: divulga@divulgaescritor.com
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