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sexta-feira, 21 de abril de 2017

QUANDO APAGA SEU SORRISO É PORQUE NÃO VALE MAIS A PENA

Por Wal Reis

Poucas coisas são mais tristes do que ter que seguir adiante deixando parte de você para trás. Mas quando a rua é de mão única, essa é a rota possível.

Quando a vontade de mandar flores ao delegado passa (oi, Zeca Baleiro). Quando buscar o sono é mais sedutor que saudar o novo dia. Quando gera mais dúvida do que certeza. Quando apaga seu sorriso é porque não vale mais a pena.

É duro encarar, mas alguns amores têm prazo de validade. O amor pelo trabalho, o amor pelo seu chão e sim: o amor pelo outro. As pequenas evidências de que acabou chegam devagar, mas intoxicam. E, na ânsia de ressuscitar a fase boa, fechamos os olhos para os sinais quando, no fundo, sabemos que nada mais pode ser feito pelo doente terminal.

Palavras e atitudes já não vão na mesma direção. A presença física não garante a presença emocional e vice-versa. Sua aflição é apenas sua aflição. A música que te emociona só emociona a você e o amor desafina.

Mas e os planos? Ainda ontem estávamos carimbando passaportes para tantas viagens, selecionando o cardápio de um jantar romântico, esperando a turnê de nosso cantor favorito chegar por aqui. Não foi na semana passada que rimos juntos da mesma piada sem graça? Contamos segredos bobos e outros nem tanto? Concordamos que a ausência jamais seria tolerada? Combinamos o próximo Natal?

Sim e não eram mentiras: eram verdades provisórias. Um cenário perfeito, mas cenário. Desmontável depois que a temporada acaba, deixando o dolorido silencioso de um teatro vazio, com luzes apagadas e sem movimentação no backstage.

Não deu tempo de fazer aquela massagem prometida depois de um dia estressante. Também não te terei dormindo no meu colo enquanto enrolo os dedos distraidamente no seu cabelo e leio um livro qualquer em uma tarde preguiçosa de domingo. Não vamos ser testemunhas oculares dos sucessos e fracassos um do outro.

Você não estará por perto para eu te contar sobre o último capítulo do livro porque nossa história termina muito antes da contracapa fechar. E talvez a gente chore ao lembrar de todas essas miudezas de nossa breve vida em comum, mas apenas enquanto a tinta estiver fresca e o quadro parecer inacabado. Depois, assim que concedermos a distância necessária para apreciar as pinceladas que até então pareciam confusas e desordenadas, finalmente a gente vai sorrir constatando que criamos uma valiosa obra-prima.


WAL REIS
Jornalista, geradora de conteúdos editoriais, especialista em fazer 54 coisas ao mesmo tempo, incluindo escrever sobre o que realmente me importa. Procuro retratar nos meus textos a contramão da história, o lado menos óbvio e politicamente incorreto, aquele que mais se aproxima da realidade...
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