Páscoa do Senhor - Domingo 16/04/2017
Anúncio do Evangelho (Jo 20,1-9)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo
João.
— Glória a vós, Senhor.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de
Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha
sido retirada do túmulo.
Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o
outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do
túmulo, e não sabemos onde o colocaram”.
Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. Os
dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e
chegou primeiro ao túmulo. Olhando para dentro, viu as faixas de linho no
chão, mas não entrou.
Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e
entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão e o pano que
tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num
lugar à parte.
Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado
primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.
De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura,
segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Padre André Teles:
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RESSURREIÇÃO de JESUS,
Ressurreição Cósmica
“De repente, houve um grande tremor de terra: o anjo
do Senhor desceu do céu e, aproximando-se, retirou a pedra e sentou-se nela”
(Mt 28,2)
Iniciamos o Tempo Quaresmal sendo convocados a refletir
sobre os “biomas brasileiros e defesa da vida”. Tal como Jesus, a natureza é
também lugar do padecido, da harmonia quebrada, da bondade violentada, da
beleza ferida... “A criação geme em dores de parto” (Rom 8,22). Jesus e a
Criação carregam a Cruz às costas até o Gólgota.
Há uma crise ecológica que se alastra rapidamente, quebrando
o equilíbrio vital que sustenta a natureza toda. O uso desordenado dos recursos
naturais e o “descuido” como modo habitual de viver, faz sofrer tanto o ser
humano como a própria natureza.
No entanto, a novidade do universo é expressa pelo
Apocalipse:
“Eis que faço novas todas as coisas”- 21,5).
A Ressurreição de Jesus nos oferece uma perspectiva para ver
essa novidade , enquanto a “comunidade de vida” se desenvolve e caminha em
direção ao “Grande Mar Cósmico”.
“Na verdade, o ventre da Terra contraiu-se, a natureza gemeu
em dores de parto.
O túmulo rompeu-se e a pedra rolou. De repente a
Vida!” (Zé Vicente)
O “mistério pascal” é o salto para a novidade, para a
beleza, para a transcendência. Imersos na natureza, a Ressurreição nos faz
descobrir a verdadeira extensão da Vida.
A luz da Ressurreição ilumina toda a Criação: a vida de
Cristo na vida da Terra nos traz alegria e esperança. O universo inteiro é o
“habitat” do Cristo Cósmico.
A aparição de Jesus Ressuscitado no primeiro dia da semana
foi entendida como a aurora do “primeiro dia” da Nova Criação de todas as
coisas. À luz deste “novo dia” de Deus, Cristo aparece como o primogênito de
toda a Criação, que reconcilia todas as coisas no céu e na terra.
O “primogênito entre os mortos” é também o “primogênito de
toda criatura”, por quem todas as coisas foram criadas. A Ressurreição pulsa em
nós e na natureza com o coração de Deus.
Em Cristo, todas as criaturas apontam para o Criador. Elas
também apontam para além de si mesmas, para o futuro da redenção, para sua
forma verdadeira e permanente no Reino de Deus. À luz da Ressurreição
compreendemos a Criação como “criação de Deus”, porque confiamos na fidelidade
de seu Criador, e percebemos a capacidade que ela tem de se transformar, em
vista de sua plenitude.
A Ressurreição é colocada no grande contexto da Criação em
que o próprio ser humano participa. A Ressurreição é encontro com a vida plena,
em um processo da Criação que chega a seu desfecho. Pela Ressurreição,
romperam-se todas as amarras do espaço e do tempo. Cristo ganhou uma dimensão
cósmica. A evolução se transformou numa verdadeira revolução.
O Gólgota remete aos gemidos de parto, e o túmulo vazio
representa a concretização do parto. Nova história, nova criação está iniciada.
O Cristo cósmico surge então como motor da evolução, como seu libertador e seu
plenificador.
A salvação é salvação de toda a Criação e de todas as criaturas,
e não pode ficar restrita à “salvação da alma humana” nem à bem-aventurança da
existência humana. A “ressurreição dos mortos” ocorre nesta terra e leva os que
receberam a vida para uma “nova terra onde mora a justiça, de acordo com sua
promessa” (2Pd. 3,13). O Reino de Deus não é um reino “no” céu, mas ele vem
“assim na terra como no céu”. Ressurreição e vida eterna são promessas de Deus
para os todos os seres desta terra. Por isso, também a ressurreição da natureza
há de levar não para o Além, mas para o Aquém da nova criação de todas as
coisas. Não é para o céu que Deus salva sua Criação, mas Ele renova a terra.
A terra é o palco da vinda do Reino de Deus, por isso a
ressurreição para o Reino de Deus é a esperança desta terra. Sobre esta terra embebida
em sangue esteve a Cruz de Cristo, por isso Deus lhe permanece fiel e afastará
dela toda dor, sofrimento e morte, para Ele mesmo nela vir morar.
“O Reino de Deus é o reino da ressurreição na terra” (Bonhoeffer).
Somos já “seres ressuscitados”: sentimos hoje a urgência de
seguir os caminhos de uma ética ecológica para que possamos nos situar, na
Criação, numa atitude participativa e de cuidado responsável. Cresce um novo
modo de pensar e de conceber o universo enquanto “teia de relações”. Isto
significa que há uma unidade fundamental e uma vasta rede de inter-relações,
conectados a todos os elementos da natureza.
Todos os seres, vivos e não vivos, são parceiros numa
verdadeira “dança cósmica”, numa grande comunhão universal. Fazemos parte de
uma “rede” de relações múltiplas e recíprocas, nas quais o próprio Cristo
Ressuscitado se faz presente, como fonte de vida. Para chegar a viver o Novo
Céu e a Nova Terra é preciso renovar radicalmente este céu tantas vezes opaco e
esta terra tão violada.
Se não houver uma “salvação da natureza”, também não poderá
haver uma salvação definitiva do ser humano, pois os seres humanos são seres da
natureza. Isto obriga a todos os que esperam a ressurreição a permanecerem
fiéis à terra, a respeitá-la, cuidá-la e amá-la como a si mesmos.
Na perspectiva da natureza, a ressurreição de Cristo
significa que com Ele teve início a universal “destruição da morte” (1Cor.
15,26), e que se torna visível o futuro da Nova Criação, quando a morte deixar
de existir.
A ressurreição dos mortos, a destruição da morte e a
ressurreição da natureza constituem os pressupostos para a eterna Criação que
participa da habitação do Deus vivo e eterno.
A Criação “no princípio” está orientada para este fim. De
acordo com isto “toda a Criação geme conosco” e esta é a verdadeira
ressurreição da natureza.
Este é o lado cósmico da esperança da ressurreição. As
forças do pecado e da morte, destrutivas e contrárias a Deus, são expulsas da
criação, que é boa, e na presença do Deus vivo esta se transformará em uma
criação eternamente viva.
O Deus que ressuscita os mortos é o mesmo Deus que chamou
todas as coisas do nada à existência; Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos é
o Criador do novo ser de todas as coisas.
Ressurreição e Criação constituem, portanto, uma unidade,
pois a ressurreição dos mortos e a destruição da morte são a completude da
criação original.
Texto bíblico: Mt 28,1-10
Na oração: Fico maravilhado com a nova comunidade universal
de vida que emerge da Noite Pascal. A Luz da Ressurreição integra tudo.
Considero como nosso Senhor ressuscitado revela toda a vida
futura do universo como uma comunidade em evolução de esplendor e diversidade
crescentes. Reflito como Cristo nos leva a evoluir para uma humanidade em
plenitude, vivendo uma relação plena com todas as criaturas.
Fraternizo com todas as criaturas e me faço humano em toda
minha plenitude.
Páscoa: um salto para a transcendência... para o Novo Céu e
Nova terra
Uma inspirada Páscoa a todos(as)
Pe. Adroaldo Palaoro sj
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