Sônia Coutinho
Sônia Coutinho nasceu em Itabuna, em 1939, e era filha do
poeta simbolista Nathan Coutinho (1911-1991). Teve 11 livros publicados e traduziu outros 3.
Na infância começou as primeiras leituras, livros infantis e
contos de Maupassant, frequentava a biblioteca do pai. Licenciada em inglês,
formada pela Faculdade de Letras da Universidade Federal da Bahia. Jornalista
com passagem como redatora pelo “Jornal do Comércio”, “O Jornal”, “O Globo” e
agência Reuters, no Rio de Janeiro.
Sua ficção une arte e documento para situar o real
imbrincado nas limitações da condição humana. Desenganos, desencontros,
problemas existenciais e psicológicos na cidade grande informam o herói em
crise que a autora logra exibir com surpreendente força em suas narrativas.
Seu primeiro livro, "O Herói Inútil", foi lançado
em 1964, em Salvador, pela Editora Macunaíma. Romancista, contista e tradutora,
Sonia ganhou duas vezes o Prêmio Jabuti de Literatura. Em 1979, com "Os
Venenos de Lucrécia", e em 1999, com "Os Seios de Pandora".
Em 2006, a escritora recebeu o Prêmio Clarice Lispector, da
Biblioteca Nacional, para o melhor livro de contos com "Ovelha Negra"
e "Amiga Loura". Entre outros títulos da autora, destaque para
"Uma Certa Felicidade", "Mil Olhos de Uma Rosa" (2001),
"O Caso Alice" (1991) e "O Jogo de Ifá" (2001).
Sônia Coutinho foi casada com o poeta, escritor e jornalista
Florisvaldo Mattos, com quem teve uma filha.
Participou de várias antologias nacionais e internacionais e
teve sua obra também publicada nos Estados Unidos, na França e na Alemanha. Seu
conto "Toda Lana Turner Tem Seu Johnny Stompanato", publicado
originalmente em seu livro "O Último Verão de Copacabana", foi
incluído na antologia "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século",
organizado por Italo Moriconi.
Em 1994 ganhou o título de mestre em teoria da comunicação
com a tese-ensaio "Rainha do Crime — Ótica Feminina no Romance Policial”.
Sônia Coutinho faleceu
no dia 24 de agosto de 2013.
Trecho do conto Camarão no jantar de Sônia Coutinho:
“E chega a noite do prometido jantar.
Não quero descrever a angústia dessa mulher, na sala, meia-luz, enquanto o tempo passa e a comida esfria.
Rogério está atrasado meia hora, mas ela ainda não sente inquietação. De vez em quando, vai até a cozinha dar uma olhada no bobó. Para acompanhar, há apenas arroz, uma refeição simplificada.
Agora, Rogério está atrasado uma hora, mas ainda sente esperanças.
Uma hora e meia de atraso, toda e qualquer possibilidade vai desaparecendo deste mundo.
Ah, mas que história insuportável. Ah, meu Deus, que dor. Terrível, a dor dessa perda.
Um amor que, no entanto, ela continua achando que não levou tão a sério quanto merecia.
Por que teve aquela reação tão radical, quando soube que ele era casado? Por que não fez como todas as outras, foi levando? Como não percebeu na mesma hora que tinha de ser humilde, porque jamais esqueceria aquele amor?
Um homem que, quem sabe — e isso alimenta sua dor —, ela talvez tivesse conquistado, no início, se fosse mais esperta.”
Não quero descrever a angústia dessa mulher, na sala, meia-luz, enquanto o tempo passa e a comida esfria.
Rogério está atrasado meia hora, mas ela ainda não sente inquietação. De vez em quando, vai até a cozinha dar uma olhada no bobó. Para acompanhar, há apenas arroz, uma refeição simplificada.
Agora, Rogério está atrasado uma hora, mas ainda sente esperanças.
Uma hora e meia de atraso, toda e qualquer possibilidade vai desaparecendo deste mundo.
Ah, mas que história insuportável. Ah, meu Deus, que dor. Terrível, a dor dessa perda.
Um amor que, no entanto, ela continua achando que não levou tão a sério quanto merecia.
Por que teve aquela reação tão radical, quando soube que ele era casado? Por que não fez como todas as outras, foi levando? Como não percebeu na mesma hora que tinha de ser humilde, porque jamais esqueceria aquele amor?
Um homem que, quem sabe — e isso alimenta sua dor —, ela talvez tivesse conquistado, no início, se fosse mais esperta.”
(Texto organizado por Eglê Santos Machado)
Fontes: A TARDE – Cultura/Literatura 25/08/2013, Cyro
de Mattos/ ”Itabuna, chão de minhas raízes” e Projeto Releituras.
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