12 de abril de 2017
Roberto de Mattei (*)
Atentado terrorista perpetrado por islamitas em igreja, no
Domingo de Ramos (9-4-17), na cidade egípcia de Tanta
Os massacres de Tanta [foto acima] e Alexandria são um
brusco chamado à realidade para o Papa Francisco, na véspera de sua viagem ao
Egito. Os atentados no Oriente Médio e na Europa não são desastres
naturais, evitáveis com encontros ecumênicos, como o que o Pontífice terá em 28
de abril com o Grande Imã de Al-Azhar, mas são episódios que nos lembram a
existência na Terra de divisões ideológicas e religiosas profundas que só podem
ser remediadas pelo retorno à verdade. E a primeira verdade a recordar, se não
se quiser mentir para si mesmo e para o mundo, é que os autores dos atentados
do Cairo, como de Estocolmo e de Londres, não são desequilibrados ou
psicopatas, mas portadores de uma visão religiosa que desde o século VII
combate o Cristianismo. Não só a Europa, mas o Ocidente e o Oriente cristão,
definiram ao longo dos séculos a sua própria identidade defendendo-se de
ataques do Islã, que nunca renunciou à sua hegemonia universal.
Diversa é a análise do Papa Bergoglio, que na homilia do
Domingo de Ramos reiterou sua proximidade com aqueles que “sofrem com um
trabalho de escravos, sofrem com os dramas familiares, as doenças [...] Sofrem
por causa das guerras e do terrorismo, por causa dos interesses que se movem
por detrás das armas que não cessam de matar”. Erguendo os olhos por cima
do papel, o Papa acrescentou que reza também pela conversão do coração “daqueles
que fabricam e traficam as armas”. O Papa repetiu o que tem declarado muitas
vezes: não é o Islã em si mesmo, e nem o seu desvio que ameaça a paz do mundo,
mas os “interesses econômicos” dos traficantes de armas. Na entrevista com o jornalista Henrique Cymerman, publicada
no diário catalão “La Vanguardia” em 12 de junho de 2014, O Papa Francisco
disse: “Descartamos toda uma geração para manter um sistema econômico que
não se sustenta mais, um sistema para sobreviver deve fazer a guerra, como
sempre fizeram os grandes impérios. Mas, já que não se pode fazer a terceira
guerra mundial, então se fazem guerras locais. O que isso significa? Que se
fabricam e vendem armas e, assim, fazendo os balanços das economias idólatras,
as grandes economias mundiais que sacrificam o homem aos pés do ídolo de
dinheiro, obviamente se curam.”
O Papa não parece acreditar que se possa escolher entre
viver e morrer para realizar um sonho político ou religioso. O que moveria a
História seriam os interesses econômicos, que antes eram os da burguesia contra
o proletariado, e hoje são os das multinacionais e dos países capitalistas
contra “os pobres da terra”.
A essa visão dos acontecimentos, que provém diretamente do
economicismo marxista, contrapõe-se atualmente a geopolítica do presidente dos
Estados Unidos, Donald Trump, e do presidente da Federação Russa, Vladimir
Putin. Trump e Putin redescobriram os interesses nacionais dos seus respectivos
países, e no tabuleiro do Oriente Médio travam uma dura partida no jogo
diplomático e midiático, não excluindo transpô-la para o plano militar. O Islã
agita por sua vez o espectro da guerra religiosa no mundo.
Quais são as palavras que, na véspera da Santa Páscoa, os
fiéis esperam do Chefe da Igreja Católica? Esperamos ouvi-lo dizer que as
verdadeiras causas das guerras não são nem de ordem econômica, nem de ordem
política, mas acima de tudo de ordem religiosa e moral. Que as guerras têm suas
origens mais profundas nos corações dos homens e sua raiz última no pecado. Que
foi para redimir o mundo do pecado que Jesus Cristo sofreu a sua Paixão, que é
agora também a Paixão de uma Igreja perseguida em todo o mundo.
Na oração pela paz que compôs em 8 de setembro de 1914,
assim que eclodiu o primeiro conflito mundial, Bento XV exortou a implorar
privada e publicamente “a Deus, árbitro e dominador de todas as coisas,
para que, lembrando-se de sua misericórdia, afaste este flagelo da ira com
o qual faz justiça pelos pecados dos povos. Imploremos que, nas nossas orações,
nos assista e ajude a Virgem Mãe de Deus, cujo felicíssimo nascimento, que
celebramos neste mesmo dia, refulja para o transviado gênero humano como aurora
da paz, devendo Ela dar à luz Aquele no qual o eterno Pai queria reconciliar
todas as coisas ‘ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo
quanto existe na terra e nos céus’ (Col. 1, 20)”.
É um sonho imaginar que um Papa venha a dirigir à humanidade
palavras deste quilate, em uma situação internacional tempestuosa como a que
vivemos hoje?
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(*) Fonte: “Il Tempo”, Roma, 10-4-2017. Matéria traduzida do
original italiano por Hélio Dias Viana.
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