9 de março de 2017
Paulo Roberto Campos
Mãe e filhas jogando xadrez (obra de Francis Coates Jones,
1857 – 1932)
A respeito deste dia “Dia Internacional da Mulher”
publicou-se, ad nauseam, textos e mais textos em todos os jornais
impressos ou on-line. Tal dia não passa de uma absurda invencionice imposta
pelo movimento feminista, copiando uma imposição de propaganda do regime
comunista na antiga URSS. Hoje vemos que realmente o comunismo não morreu — ele
“espalhou seus erros pelo mundo”, sendo um deles o chamado “feminismo”. E certa
mídia colabora lampeiramente para espalhar tais erros.
Assim, a mídia repetiu baboseiras infindas e duras críticas
a mulheres que se defendem enquanto esposas e mães, como se esses
substantivos tão nobres e elevados não pudessem ser considerados “direitos da
mulher”. Para a mídia esquerdista e para o “movimento feminista” o “direito da
mulher” é, por exemplo, o “direito ao aborto” — o direito da mulher matar o
próprio filho que está gestando!
Entretanto, em meio às mencionadas baboseiras, encontrei um
texto primoroso. Ele foi publicado há exatos cinco anos no “Dia Internacional
da Mulher”, (“Folha de S. Paulo”, 8-3-12), de autoria da jovem Talyta Carvalho
[foto abaixo]. Imagino que esse texto foi rasgado, pisado e queimado pelas
“feministas” radicais, que, no fundo, desejariam mesmo era “queimar” como
“herege” a própria autora, acusando-a de ser contrária ao “empoderamento
feminino”, à “igualdade de gênero”, à “lei do feminicídio”, de ser
“politicamente incorreta”, “preconceituosa” etc.. Acusações levianas, mas que
nos estimulam a divulgar largamente o interessantíssimo artigo, que abaixo transcrevo.
Talyta Carvalho (Filósofa especialista em
renascença e
mestre em ciências da religião
pela PUC-SP)
Não devemos nada ao feminismo
Talyta Carvalho (*)
As feministas chamaram de libertação a saída forçada do lar
para trabalhar; sua intolerância tornou constrangedor decidir ser dona de casa
e cuidar dos filhos.
Na história da espécie humana, a ideia de que a mulher
deveria trabalhar prevaleceu com frequência muito maior do que a ideia de que
deveria ficar em casa cuidando dos filhos.
Não raro, o trabalho que cabia à mulher era árduo e de
grande impacto físico. Para a mulher comum na pré-história, na Idade Média, e
até o século 19, não trabalhar não era uma opção.
Uma das conquistas do sistema econômico foi que, no século
20, a produtividade havia aumentado tanto que um homem de classe média era
capaz de ter um salário bom o suficiente para que sua esposa não precisasse
trabalhar.
No período das grandes guerras e no entreguerras, a
inflação, os altos impostos e o retorno da mulher ao mercado de trabalho (que
significou um aumento da mão de obra disponível) diminuíram de tal modo a renda
do homem comum que já não era mais possível que maioria das mulheres ficasse em
casa.
Esse movimento forçado de saída da mulher do lar para o
trabalho as feministas chamaram de libertação.
Óbvio que não está se defendendo aqui que as mulheres não
possam trabalhar, não casar, não ter filhos ou que não possam agir de acordo
com as suas escolhas em todos os âmbitos da vida. Não é essa a questão para as
mulheres do século 21 pensarem a respeito.
O ponto da discussão é: em que medida a consequência do
feminismo, para a mulher contemporânea, foi o estrangulamento da liberdade de
escolha?
Explico-me. Por muito tempo, as feministas
reivindicaram a posição de luta pelos direitos da mulher, exceto se esse
direito for o direito de uma mulher não ser feminista.
Assumir uma posição crítica ao feminismo é hoje o
equivalente a ser uma mulher que fala contra mulheres. Ilude-se quem pensa que
na academia há um ambiente propício à liberdade de pensamento.
Como mulher e intelectual, posso afirmar sem pestanejar:
nunca precisei “lutar” contra meus colegas para ser ouvida, muito pelo
contrário. A batalha mesmo é contra as colegas mulheres, intolerantes a
qualquer outra mulher que pense diferente ou que não faça da “questão de
gênero” uma bandeira.
Não ser feminista é heresia imperdoável, e a herege deve ser
silenciada. Até mesmo porque há muito em jogo: financiamentos, vaidades,
disputas de poder, privilégios em relação aos colegas homens — que, se não
concordam, são machistas e preconceituosos, claro.
Outro direito que a mulher do século 21 não tem, graças ao
feminismo, é o direito de não trabalhar e escolher ficar em casa e cuidar dos
filhos — recomendo, sobre a questão, os livros “Feminist Fantasies”, de Phyllis
Schlaffly, e “Domestic Tranquility”, de F. Carolyn Graglia. Na esfera
econômica, é inviável para boa parte das famílias que a esposa não trabalhe.
Na esfera social, é um constrangimento garantido quando
perguntam “qual a sua ocupação?”. A resposta “sou só dona de casa e mãe” já
revela o alto custo sóciopsicológico de uma escolha diferente daquela que as
feministas fizeram por todas as mulheres que viriam depois delas.
O erro do feminismo foi reivindicar falar por todas, quando
na verdade falava apenas por algumas. De fato, casamento e maternidade não são
para todas as mulheres. Mas a nova geração deve debater esses dogmas modernos
sem medo de fazer perguntas difíceis.
De minha parte, afirmo: não devo nada ao feminismo.
* * *
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