4º Domingo do Tempo Comum - 29/01/2017
Anúncio do Evangelho (Mt 5,1-12a)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.
— Glória a vós, Senhor.
Naquele tempo, Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte
e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los:
”Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o
Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque
serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão
misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados
filhos de Deus.
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça,
porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados sois vós, quando vos
injuriarem e perseguirem, e mentindo disserem todo tipo de mal contra vós, por
causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa
nos céus.
— Palavra da Salvação.
— Glória a vós, Senhor.
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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. André
Teles:
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A lógica surpreendente das bem-aventuranças
O Evangelho que nos foi confiado é um programa para alcançar
a felicidade, a vida ditosa, prazerosa, bem-aventurada. Na boca de Jesus brilha
sempre a palavra chave: “Felizes”.
A felicidade, proclamada aqui por Ele, é já uma realidade
presente na sua pessoa e na sua missão.
Todas e cada uma das bem-aventuranças são autobiográficas.
Jesus viveu-as durante 30 anos antes de proclamá-las. Elas são, portanto, a
expressão do que constitui o centro mesmo da sua pessoa e da sua vida, dos seus
sentimentos, atitudes; numa palavra, do seu mistério.
Poderíamos dizer que as bem-aventuranças são o auto-retrato
de Jesus. Elas são o compêndio do ministério de Jesus. Não é lei que se impõe
por si mesma; é confissão: “o Reino chegou”.
As Bem-aventuranças não são uma doutrina, mas um estilo de
vida, um modo de proceder. Jesus não prega diretamente uma moral. Proclama a
“irrupção” da graça, do amor, da misericórdia, da justiça de Deus na história
da humanidade.
Porque tem a certeza de que chegou a “hora” de Deus intervir
na história, Jesus fica feliz e proclama “felizes” os até agora indefesos,
oprimidos e marginalizados, mas que mantiveram viva a confiança em Deus.
Jesus fala da felicidade não no singular, mas no plural. Em
outras palavras, o que Ele afirma é que a felicidade de cada um está em íntima
relação com a felicidade dos outros, com quem cada um convive.
Todos sabemos que nas nossas igrejas fala-se muito mais da
renúncia ao prazer, da mortificação, do sofrimento, da austeridade, do
sacrifício, da suportabilidade e da resignação, ao passo que pouco se escuta
sobre aquilo que deve mover as pessoas a buscar ser felizes, a deleitar-se com
tudo aquilo que de bom Deus pôs no mundo e na vida, desfrutar o prazeroso, o
sensível, o corporal. Não é comum encontrar pessoas que, espontaneamente,
associem Deus e a religião à alegria de viver e, em geral, a tudo aquilo que
nos faz sentir melhor, sentir-nos bem e ser mais felizes.
Portanto, o centro da fé cristã não está na religião com
suas exigências de sacrifícios e renúncias, com suas verdades e suas normas,
mas na felicidade dos seres humanos.
“A ética de Jesus é a ética do prazer de viver para todos,
da felicidade compartilhada por todos, sem excluir ninguém. E isso é o que mais
custa assumir e aceitar como projeto de vida, porque a ascética mais dura não é
a da renúncia, mas sim da doação” (José Maria Castillo).
Os enunciados das bem-aventuranças soam à primeira vista
como “idealistas”, “utópicas”, não possíveis de serem colocadas em prática no
mundo em que vivemos. No entanto, pela sua provocação e questionamento, elas
são a proposta mais realista, mais revolucionária e mais eficaz jamais
pronunciada.
As bem-aventuranças são a exposição mais exigente e, ao
mesmo tempo mais fascinante, da mensagem e da “intenção de Cristo”. Elas são a
plenificação daquilo que é o mais humano em nós.
Poderíamos dizer que as Bem-aventuranças são a
quinta-essência do seguimento de Jesus.
De fato, percebemos uma resistência surda frente às
bem-aventuranças, não porque nosso coração não se reconheça nelas, mas porque
parecem tão impossíveis, tão distantes estamos delas…; vivemos mergulhados em
tantas contradições, profundos dramas e violências que nos parecem
desmenti-las. Incomoda-nos e inquieta-nos sua mensagem de humildade, de
mansidão, de paz, de pureza, de misericórdia… quando, na realidade, estamos
envolvidos em construir, em fomentar um mundo que é arrogante, agressivo,
violento, intolerante, excludente, injusto…
Temos resistências em escutá-las porque elas nos colocam de
novo frente à verdade para a qual nascemos, diante do mais original de nosso
coração e de nossas entranhas humanas. A ética de Jesus nas bem-aventuranças
encontra resistência para ser assumida por nós precisamente em virtude de sua
desconcertante humanidade.
As bem-aventuranças nos esperam no pequeno, no cotidiano, no
próximo mais próximo, e nos impulsionam a proclamar: a paz é possível, a
alegria é uma realidade, a justiça não é um luxo, a mansidão está ao alcance da
mão… Elas nos dizem que nascemos para a bondade, a beleza, a compaixão…
Ao formular as bem-aventuranças, Mateus traça o perfil que
caracterizará os seguidores de Jesus; elas condensam as atitudes básicas que os
cristãos devem ter na relação com os outros, seguindo as pegadas do Mestre.
Jesus propõe a ventura sem limites, a felicidade plena para seus seguidores.
Deus não quer a dor, a tristeza, o sofrimento; Deus quer precisamente o
contrário: que o ser humano se realize plenamente, que viva feliz… Jesus
acreditava na vida, e queria que todos vivessem intensamente.
Por isso, as bem-aventuranças podem ser escutadas como uma
mensagem que brota do mais profundo da vida e que tem como finalidade
apresentar a qualquer pessoa o mais humano que existe em nós.
Ao proclamar bem-aventurados os pobres, os que choram, os
perseguidos, os humildes… Jesus, certamente, jamais quis sacralizar a dor
humana. Ele constata a situação do povo, de pobreza, humilhação,
submissão; percebe o esforço que o povo faz para mudar a situação, e o proclama
feliz nesta busca, porque esta busca mora no próprio coração de Deus.
Aos olhos de Jesus nada é mais perigoso para o espírito
humano do que vidas satisfeitas, acomodadas, sem desejos, sem a afeição das
esperas e o desassossego das buscas; corações quietos, indolentes, medrosos,
covardes, petrificados, sensatamente contentes com aquilo que são e têm.
Como são, ao contrário, humanamente repletos de vida os que
quase nada são e têm, os que ainda se encantam com as buscas, os que sonham e
lutam por um mundo novo. Sua vida é penosa, sem dúvida, mas repleta de razões,
criatividade, entusiasmo e vitalidade.
As diferentes ciências (psicologia, filosofia, antropologia,
etc) nos fazem cair na conta de que todos os seres humanos desejam ser felizes.
Também elas nos permitem compreender que a felicidade não é uma situação
existencial que possamos agarrar e possuí-la. Também não é uma sucessão
interminável de prazeres que acabam por nos esgotar, mas uma forma de ser e de
viver. Ela não emana do que temos ou fazemos, mas do centro de nosso ser.
A felicidade que buscamos é o que realmente somos, e isto só
se revela quando a mente se cala. Ser feliz, portanto, consiste em experimentar
na existência a plenitude de nossa verdadeira identidade.
Ser feliz é deixar viver a criatura livre, alegre e simples
presente dentro de cada de nós. A felicidade é, assim, o livre curso da vida, o
fluxo contínuo da Vida em nós que se “entretece” com a vida dos outros.
Texto bíblico: Mt. 5,1-12
Na oração: O melhor modo de fazer esta oração é seguir um
dos “modos de orar” proposto por S. Inácio, ou seja: “Contemplar o significado
de cada palavra da oração” (EE. 249). (meditação diária)
* Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas,
impedindo-lhe de viver a dinâmica das bem-aventuranças.
* Olhe no mais íntimo de você mesmo e pergunte-se: há um
coração que deseja coisas grandes ou um coração adormecido pelas coisas? Seu
coração conservou a inquietude da busca ou você tem se deixado sufocar pelas
“coisas”, que terminam por atrofiá-lo?
Pe. Adroaldo Palaoro, sj
Diretor do Centro de Espiritualidade Inaciana – CEI
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