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sábado, 24 de dezembro de 2016

CONSTRUINDO UM FELIZ NATAL - Eglê S Machado

Construindo um Feliz Natal


          Na solidão da noite saí para a rua pensando em Jesus Menino e vi o menino de rua olhando para meu coração com olhos cheios de medos e esperanças...

          Mas eu estava com pressa, queria ver Papai Noel, o bom velhinho e dei de cara com aquele velhinho solitário e cansado, também a olhar para o meu coração com olhos medrosos, mas ainda mantendo a esperança...

          Voltei para casa, abri o armário - quanta roupa sem uso há anos! - que farei com tudo isso?

          De repente senti sobre mim o olhar daquela mulher que sempre encontro sob a marquise da padaria aconchegando ao corpo o seu bebê seminu. Ela me fitava olhos medrosos e mão estendida na esperança de uma esmola.

          Foi ao sentir na minha frente aqueles olhos cheios de medos e de esperança que descobri a quem pertencia tudo aquilo que ocupava o meu armário.

          Cobertores, lençóis, casacos cheirando a naftalina, não são usados há tempos, alguns nunca foram usados por falta de oportunidade; os olhares, os corpos trêmulos lá fora me dizem que são seus legítimos donos, eu não tenho o direito de reter o que não é meu. Nada me pertence, negar isso a eles é roubá-los.

          Abro minha despensa. Vinhos, guloseimas, alimentos prestes a terem prazos de validade vencidos, pois estocados há meses para que nada falte à minha família. Senti a força do chamado dos que na rua aguardam um milagre de Natal um pouco de alimento para saciar sua fome urgente. Fiquei envergonhada, perturbada resolvi ir à igreja rezar um pouco, precisava espairecer apagar tais visões de minha alma já que não posso mudar nada, o mundo é assim mesmo!... Só posso é rezar pelos que padecem e rezei, conversei muito com ELE. Diante do presépio ali adornado me expliquei, perguntei, mas em resposta senti de novo no coração aqueles olhares dizendo-me “você pode construir um Feliz Natal”.

          Como vou começar a construir esse Feliz Natal? Que tenho de fazer? E de repente fiquei frente a frente com aquele rapaz que procurou Jesus desejando segui-lo, mas teve que voltar para casa triste porque tinha muitos bens. Aí aprendi que o desapego é o caminho ideal, a ferramenta indispensável para a construção de um Natal Feliz.

          Resolvi ir à luta!

          Voltei-me para a realidade da minha vida. Parei alguns segundos diante do meu espelho que me mostrou uma enorme interrogação. E passei a olhar para minha empregada, para o velhinho, para a criança de rua e para a mulher do bebê seminu como partes de minha vida, pela primeira vez os senti de fato no meu coração, percebi o quanto são diletos convidados do aniversariante do mês de dezembro e experimentei um grande afeto para com esses meus irmãos.

          Finalmente eu tinha começado a construir um Feliz Natal...



Eglê S Machado

Academia Grapiúna de Letras-AGRAL

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