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segunda-feira, 23 de maio de 2022

A MORTE – Gibran Khalil Gibran



A Morte

 

            Então, Almitra falou, dizendo: “Gostaríamos de interrogar-te a respeito da Morte”.

            E ele disse:

            “Quereis conhecer o segredo da morte.

            Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?

            A coruja, cujos olhos, feitos para a noite, são velados ao dia, não pode descortinar o mistério da luz.

            Se quereis realmente contemplar o espírito da morte, abri amplamente as portas do vosso coração ao corpo da vida.

            Pois a vida e a morte são uma e a mesma coisa, como o rio e o mar são uma e a mesma coisa.

            Na profundidade de vossas esperanças e aspirações dorme vosso silencioso conhecimento do além.

            E como sementes sonhando sob a neve, assim vosso coração sonha com a primavera.

            Confiai nos sonhos, pois neles se ocultam as portas da eternidade.

            Vosso temor da morte é semelhante ao temor do camponês quando se encontra diante do rei, e este entende-lhe a mão em sinal de consideração.

            O camponês não se regozija, apesar do seu temor, de receber as insígnias do rei?

            Contudo, não está ele mais atento ao seu temor do que à distinção recebida?

            Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se no sol?

            E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?

 

            É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.

            É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.

            É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

  

Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.        

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O ERRANTE, UM LIVRO E IRONIA E AMARGURA

 

          O livro começa assim: “Encontrei-o nas encruzilhadas, um homem que tinha apenas uma capa e um bordão, e um véu de dor sobre a face. Cumprimentamo-nos um ao outro, e eu lhe disse: “Venha à minha casa e seja meu hóspede”. E ele veio... E contou-nos muitas histórias naquela noite, e também no dia seguinte...”

          O livro relata estas histórias, que refletem a experiência (e a amargura) dos dias. E também a poeira – e a paciência – das estradas.

          Muitas dessas histórias são realmente fábulas, nas quais os animais manifestam todas as loucuras do homem, como a história do rato e do gato, ou das rãs, ou da hiena e o crocodilo.

          Mas, em outras histórias, os heróis são mesmo homens, que têm pouco das qualidades e muito dos defeitos que distinguem o gênero humano.

        Contrariamente a outros livros de Gibran, este não é uma mensagem de compaixão e de compreensão, mas uma explosão de amargura e de ironia para com a estupidez e pequenez dos homens. E sua leitura é um excelente antídoto para o que há de bondade, às vezes imerecida, nos outros livros, e contribui para dar à mensagem global de Gibran um benéfico caráter de realismo e equilíbrio. Uma leitura para mentes maduras.

* * *

    

          


segunda-feira, 9 de maio de 2022

A RELIGIÃO – Gibran Khalil Gibran


A Religiã
o
 

          E um velho sacerdote disse: “Fala-nos da Religião.”

          E ele disse:

          “Tenho eu falado de outra coisa hoje?

          Não é a religião todas as nossas ações e reflexões?

          E tudo que não é ação nem reflexão, mas aquele espanto e aquela surpresa sempre brotando na alma, mesmo quando as mãos talham a pedra ou manejam o tear?

          Quem pode separar sua fé de suas ações, ou sua crença de seus afazeres?

          Quem pode espalhar suas horas perante si, dizendo: ‘Esta é para Deus, e essa é para mim; esta é para minha alma, e essa é para meu corpo’?

          Todas vossas horas são asas que adejam através do espaço, passando de um Eu a outro.

          Aquele que veste sua moralidade como veste seus melhores trajes, melhor seria que andasse desnudo.

          O vento e o sol não cavarão buracos na sua pele.

          E aquele que traça sua conduta pela ética, encarcera seu pássaro cantor numa gaiola.

          A mais livre canção não chega através de barras e arames.

          E aquele para quem a adoração é uma janela a abrir, mas também a fechar, não visitou ainda o santuário de sua alma, cujas janelas permanecem abertas de aurora a aurora.

         

          Vossa vida cotidiana é vosso templo e vossa religião.

          Todas as vezes que penetrais nela, levai convosco todo o vosso ser.

          Levai o arado, a forja, o macete e a lira,

          Todas as coisas que modelaste por necessidade ou por prazer.

          Pois nos vossos sonhos, não podeis elevar-vos acima de vossas realizações nem cair abaixo de vossos fracassos.

          E levai convosco todos os homens.

          Pois na vossa adoração, não podeis voar acima de suas esperanças nem aviltar-vos abaixo de seu desespero.

          E se quereis conhecer a Deus, não procureis transformar-vos em decifradores de enigmas.

          Olhai, antes, à vossa volta e encontrá-Lo-eis a brincar com vossos filhos.

          E erguei os olhos para o espaço e vê-lo-eis caminhando nas nuvens, estendendo Seus braços no relâmpago e descendo na chuva.

          E O vereis sorrindo nas flores e agitando as mãos nas árvores.”

 

O PROFETA

Gibran Khalil Gibran

  

Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.        

 

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A LOUCURA EM CADA UM DE NÓS

 

          O Louco é mais um livro de Gibran composto exclusivamente de parábolas.

          Para Gibran, o louco é um homem que, um dia, por acidente, perde as sete máscaras que ele “havia confeccionado e usado em sete vidas”. E assim, torna-se capaz de ver o sol na sua plenitude (isto é, naturalmente, a verdade) e passa a ser tratado como louco pelos outros homens, ainda separados da luz pelas suas próprias máscaras.

          As parábolas do livro são cenas da vida, vistas, contadas e julgadas por um homem sem máscara.

          Assim, chega o leitor a se perguntar: quem é louco e quem não é louco? E o que é a loucura? Uma estupidez e uma cegueira, ou uma compreensão mais profunda da vida?

          Gibran não é um psiquiatra, mas um sábio e um poeta que nos conduz ao mundo mais fascinante de todos: o que existe dentro de nós mesmos.

          E é lá que cada um decide se é um louco ou se não é um louco.

          Um livro que nos desafia e nos encanta, e ora nos humilha, ora nos diviniza.

* * *

                                                                                                                                                                                                       

sexta-feira, 8 de abril de 2022

A BELEZA – Gibran Khalil Gibran


A Beleza

 

            E um poeta disse: “Fala-nos da Beleza”.

            E ele respondeu:

            “Onde procurareis a beleza e como a podereis encontrar a menos que ela mesma seja vosso caminho e vosso guia?

            E como podereis falar a menos que ela mesma teça vossas palavras?

 

            Os aflitos e os feridos dizem: A beleza é amável e suave.

            Como uma jovem mãe,  meio encabulada na sua glória, ela caminha entre nós.

            Os apaixonados dizem: Não, a beleza é uma força poderosa e temível.

            Como a tempestade, ela sacode a terra abaixo e o céu acima.

            Os cansados e os gastos dizem: A beleza é um murmúrio suave. Fala em nosso espírito.

            Sua voz cede aos nossos silêncios como uma luz tênue que treme por medo da sombra.

            Mas os turbulentos dizem: nós a ouvimos gritar entre as montanhas.

           E com seus gritos chegavam o tropel de cavalos, o bater de asas e o rugir de leões.

           À noite, os guardas da cidade dizem: A beleza despontará do Oriente, com a aurora.

            E, ao meio-dia, os trabalhadores e os transeuntes dizem: Nós a temos visto inclinada sobre a terra, das janelas do poente.

            No inverno, os prisioneiros  da neve dizem: Ela virá com a primavera, pulando sobre as colinas.

            E no calor do verão, os ceifeiros dizem: Nós a vimos dançar com as folhas do outono, e havia neve no seu cabelo.

 

            Todas as coisas, vós dissestes da beleza.

            Porém, na verdade, não falastes dela, mas de desejos insatisfeitos.

            E a beleza não é um desejo, mas um êxtase.

            Não é uma boca sequiosa, nem uma mão vazia que se estende.

            Mas, antes, um coração inflamado e uma alma encantada.

            Ela não é a imagem que desejais ver, nem a canção que desejais ouvir.

            Mas, antes, a imagem que contemplais com os olhos velados, e a canção que ouvis com os ouvidos tapados.

            Não é a seiva por baixo da cortiça enrugada, nem uma asa atada a uma guarra,

            Mas, sim, um pomar sempre em flor, e uma multidão de anjos em voo.

           

            Povo de Orphalese, a beleza é a vida quando a vida desvela seu rosto sagrado.

            Mas vós sois a vida, e vós sois o véu.

            A beleza é a eternidade olhando para si própria num espelho.

            Mas vós sois a eternidade, e vós sois o espelho.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran



Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

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UMA LÁGRIMA E UM SORRISO

 

          Gibran escreveu livros mais importantes do que este, mas nenhum que contenha tanta ternura e tanta inspiração.

          Uma Lágrima e um Sorriso é o primeiro livro escrito por Gibran. Ele era ainda jovem. Seu gênio não tinha sido disciplinado pela arte e a maturidade. Voava livremente nos espaços ilimitados. Entregava-se sem reserva aos seus ímpetos de compaixão e idealismo. Falava ao vento, às flores, às ondas como se falasse a amigos humanos, e registrava suas impressões com todo o transbordamento emocional e verbal do romantismo.

          O resultado é este livro fascinante, que ressuscita em nós sonhos mais longínquos e nos faz reviver as deliciosas ilusões de nossos 15 anos, quando transformar o mundo pelo entusiasmo nos parecia ao alcance da mão, e quando uma palavra de amor nos abria o paraíso.

          Ler este livro é como nos reencontrar com nosso Eu mais jovem, um Eu esquecido e enterrado por baixo das decepções e amarguras da vida, e que o idealismo de Gibran e seu estilo colorido e inspirado conseguem trazer à vida, para nossa surpresa e nossa delícia.

 MANSOUR CHALLITA

         

 

          

           

 

sexta-feira, 25 de março de 2022

O PRAZER – Gibran Khalil Gibran




O Prazer

 

            Então, um ermitão que visitava a cidade uma vez por ano, acercou-se e disse: “Fala-nos do Prazer”.

            E ele respondeu dizendo:

            “O prazer é uma canção de liberdade,

            Mas não é a liberdade.

            É o desabrochar de vossos desejos,

            Mas não é a sua fruta.

            É um abismo olhando para um cume,

            Mas não é nem o abismo nem o cume.

            É o engaiolado ganhando o espaço,

            Mas não é o espaço que o envolve.

            Sim, na verdade o prazer é uma canção de liberdade.

            E de bom grado eu vos ouviria cantá-la de todo o vosso coração; porém, não gostaria que perdêsseis vosso coração no canto.

            Alguns de vossos jovens procuram o prazer como se fosse tudo na vida, e são condenados e repreendidos.

            Eu preferiria nem condená-los, nem repreendê-los, mas deixá-los procurar.

            Pois encontrarão o prazer, mas não só ele.

            Sete são suas irmãs, e a última dentre elas é mais bela que o prazer.

            Não ouviste falar do homem que cavava a terra à procura de raízes e descobriu um tesouro?

 

            E alguns de vossos anciãos recordam seus prazeres com remorso, como se fossem erros cometidos num estado de embriaguez.

            Mas o remorso é o escurecimento da alma e não o seu castigo.

            Deveriam, antes, recordar seus prazeres com gratidão, como recordariam uma colheita de verão.

            Todavia, se acharem conforto no remorso, deixemo-los se confortarem.

            E há entre vós aqueles que não são jovens para procurar, nem velhos para recordar.

            E no seu temor de procurar e recordar, desprezam todos os prazeres por medo de afugentar ou ofender o espírito.

            Porém, na sua renúncia está seu prazer.

            E, assim, eles também descobrem um tesouro embora cavem com mãos trêmulas à procura de raízes.

            Mas, dizei-me, quem é que pode ofender o espírito?

            Ofende o rouxinol a quietude da noite, ou o pirilampo, as estrelas?

            E poderá vossa flama ou vossa fumaça sobrecarregar o vento?

            Crede que o espírito é um poço tranquilo que podeis perturbar com um bastão?

 

           Muitas vezes, ao negardes a vós mesmos um prazer, nada mais fazeis do que represar vosso desejo nos recessos de vosso Eu.

            E quem sabe se o que parece omitido hoje não espera pelo amanhã?

            Mesmo vosso corpo conhece sua herança e seus direitos, e vós não o podeis iludir.

            E vosso corpo é a harpa de vossa alma;

            A vós pertence tirar dele música melodiosa ou ruídos dissonantes.

 

            E agora vós perguntais em vosso coração: ‘Como distinguiremos o que é bom no prazer do que é mau?’

            Ide, pois, aos vossos campos e pomares e, lá, aprendereis que o prazer da abelha é sugar o mel da flor,

            Mas que o prazer da flor é entregar o mel à abelha.

            Pois, para a abelha, uma flor é uma fonte de vida.

            E para a flor, uma abelha é uma mensageira de amor.

           E para ambas, a abelha e a flor, dar e receber o prazer é uma necessidade e um êxtase.

            Povo de Orphalese, nos vossos prazeres, imitai as flores e as abelhas.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

 

Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

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O PRECURSOR

 

          Gibran foi sempre atraído pela ideia de que há, dentro de cada um de nós, um Eu maior, destinado a revelar-se um dia e a vencer.

          Cada um de nós é assim o precursor de si mesmo.

          E para chegar ao alvo, precisamos conhecer o caminho.

          Este livro procura sugerir o caminho através de duas preleções e 23 parábolas, todas escritas no estilo mágico de Gibran e variando em extensão de quatro linhas a quatro páginas.

          Dá ideia da beleza e força das imagens a curta história do catavento:

          “Disse o catavento ao vento: - Como és enfadonho e monótono! Não podes soprar numa outra direção a não ser no meu rosto? Perturbas a estabilidade que Deus me deu.

          E o vento não respondeu. Riu-se, apenas, no espaço.”

         

* * *


           

 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A PRECE – Gibran Khalil Gibran


A Prece

 

Então uma sacerdotisa disse: “Fala-nos da Prece”.

E ele respondeu dizendo:

“Vós rezais nas vossas aflições e necessidades; pudésseis também rezar na plenitude de vossa alegria e nos dias de abundância.

Pois que é a oração senão a expansão de vosso ser para o éter vivente?

            E se constitui conforto exalar vossas trevas no espaço, maior conforto sentireis quando exalardes a aurora de vosso coração.

            E se não podeis reter vossas lágrimas quando vossa alma vos chama para orar, ela vos deveria esporear repetidamente, embora chorando, até que aprendêsseis a orar com alegria.

            Quando rezais, vos elevais até encontrardes, nas alturas, aqueles que estão orando à mesma hora, e que, fora da oração, talvez nunca encontrásseis.

            Portanto, que a vossa visita a esse templo invisível não tenha nenhuma outra finalidade senão o êxtase e a doce comunhão.

            Pois se penetrardes no templo unicamente para pedir, nada recebereis.

            E se nele entrardes para vos curvar, ninguém vos erguerá.

            E mesmo se aí fordes para mendigar favores para outros, não sereis atendidos.

            Basta-vos entrar no templo invisível.

            Não vos posso ensinar a rezar com palavras.

            Deus não escuta vossas palavras, exceto quando Ele próprio as pronuncia através de vossos lábios.

            E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.

            Mas vós que nascestes das montanhas, e das florestas, e dos mares, podeis encontrar suas preces no vosso coração.

            E se somente escutardes na quietude da noite, ouvi-los-ei dizendo em silêncio:

            Deus nosso, que és nosso Eu alado, é Tua vontade em nós que quer.

            É teu desejo em nós que deseja.

            É Teu impulso em nós que pode transformar nossas noites, que Te pertencem, em dias que também Te pertencem.

            Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que nasçam em nós.

            Tu és nossa necessidade; e dando-nos mais de Ti, Tu nos dás tudo.”

 

(O PROFETA)

Khalil Gibran Khalil

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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.


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OS DEUSES DA TERRA OU NA FRONTEIRA DO SUPRANATURAL

 

          Este livro constitui uma categoria à parte na obra de Gibran. Pois é o único que tem por heróis deuses – e não homens. Nos outros livros de Gibran, mesmo os heróis dotados de sublime grandeza fazem parte da humanidade. Até Jesus no livro Jesus, o Filho do Homem, é apresentado como homem.

          Em Os Deuses da Terra, os três heróis do livro são deuses, que falam num estilo de apocalíptica majestade. E o livro é, na realidade, um poema épico que parece desenrolar-se num lugar fora ou além desta Terra.

          Começa com os seguintes versos:

          “Quando caiu a noite da

                           duodécima grande era

          E o silêncio, a maré da alta da

                  noite, engoliu as colinas,

          Os três deuses nascidos da terra,

          Os Senhores Titãs a vida,

          Apareceram sobre as montanhas.

          Rios corriam à volta de seus pés;

          A neblina flutuava sobre seus peitos,

          E suas cabeças elevavam-se majestosamente

          Acima do mundo.”

         

          O livro todo se desenvolve na mesma atmosfera, feita de imagens imponentes e de evocações sobre-humanas.

          Barbara Young o considera um dos poemas mais belos de toda literatura anglo-saxônica.

          São três os deuses heróis do livro, e cada um deles representa um dos aspectos da divindade: Força esmagadora e altiva – Providência Compassiva – Amor e Bondade.

          E eles conversam entre si.

          Mas de que conversam os deuses quando conversam? E quando desejam, o que desejam?

          Os homens, mortais, desejam a imortalidade. Mas os deuses, imortais, estão satisfeitos com sua imortalidade?

          E qual é o papel do amor na vida dos deuses?

          As respostas de Gibran levam-nos para um mundo diferente, fora do espaço e do tempo.

          Um livro de inspiração, de iluminação, que faz ressaltar como a vida e o amor dos homens são efêmeros e os torna, assim mesmo, infinitamente mais desejados.

* * *

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

O BEM E O MAL – Gibran Khalil Gibran

 


O Bem e o Mal

 

          E um dos anciãos da cidade disse: “Fala-nos do Bem e do Mal”.

           E ele respondeu:

            “Do bem que está em vós, poderei falar, mas não do mal.

            Pois que é o mal senão o próprio bem torturado por sua fome e sede?

            Em verdade, quando o bem sente fome, procura alimentos até nos antros escuros, e quando sente sede, desaltera-se até em águas estagnadas.

 

            Vós sois bons quando vos identificais com vós próprios.

            Porém, quando não vos identificais com vós próprios, não sois maus.

            Pois a casa que se divide não se torna antro de ladrões; é, apenas, uma casa dividida.

            E um navio sem leme pode vaguear sem rumo entre recifes perigosos, e não se afundar.

            Vós sois bons quando vos esforçais por dar de vós próprios.

            Porém, não sois maus quando vos limitais a procurar o lucro.

            Pois, quando lutais pelo lucro, sois simplesmente raízes que se agarram à terra e sugam seu seio.

            Certamente, a fruta não pode dizer à raiz: ‘Sê como eu, madura e plena, e sempre generosa de tua abundância’.

            Pois, para a fruta, dar é uma necessidade como, para a raiz, receber é uma necessidade.

            Vós sois bons quando falais plenamente acordados.

            Porém, não sois maus quando adormeceis enquanto vossa língua tartamudeia sem propósito.

            E mesmo um discurso gaguejante pode fortalecer uma língua débil.

            Vós sois bons quando andais rumo a vosso objetivo, firmemente e com passos intrépidos.

            Porém, não sois maus quando ides coxeando.

            Mesmo aqueles que coxeiam não andam para trás.

            Mas vós que sois fortes e velozes, guardai-vos de coxear por complacência na presença dos coxos.

            Vós sois bons de inumeráveis maneiras, e não sois maus quando não sois bons.

            Estais apenas ociosos e indolentes.

            Pena que as gazelas não possam ensinar a velocidade às tartarugas!

 

            Na vossa ânsia pelo vosso Eu-gigante está vossa bondade; e essa ânsia está em todos vós.

            Mas em alguns, essa ânsia é uma torrente que se precipita impetuosamente para o mar, carregando os segredos das colinas e as canções da floresta.

            Em outros, é uma corrente preguiçosa que se perde em meandros, e serpenteia, arrastando-se, antes de atingir a costa.

            Mas que aquele que muito deseja se guarde de dizer àquele que pouco deseja: ‘por que és lento e atrasado?’

            Pois o verdadeiramente bom não pergunta ao desnudo: ‘Onde está tua roupa?’ nem ao desabrigado: ‘Que aconteceu à tua casa?’ “

 

(O PROFETA)

Khalil Gibran Khalil

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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

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ASAS PARTIDAS O PRIMEIRO AMOR DE GIBRAN

         

          Este romance, vivido e escrito por Gibran, é o romance de cada um de nós. O romance de nosso primeiro amor. O romance de nossas primeiras alegrias e sofrimentos.

          “Que jovem, pergunta o autor, não se lembra da primeira mulher que transformou o torpor de sua mocidade num despertar, ao mesmo tempo terrível e cheio de doçura?

          Para todo jovem, há uma Selma que surge na primavera de sua vida quando menos a espera e dá a seu isolamento um sentido poético e povoa sua solidão e enche suas noites de melodia.”

          Gibran e sua Eva foram expulsos do Paraíso.

          Mas a narração de seu amor e de sua expulsão constitui um deleite literário de permanente encantamento.

          Asas Partidas continuará a ser lido e amado enquanto houver amor e beleza neste mundo, enquanto o homem for sensível à primavera e ao luar, e enquanto o mal e a ganância prevalecerem às vezes contra jovens enamorados, sacrificando-lhes os sonhos de felicidade.

* * *

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

O TEMPO – Gibran Khalil Gibran

 


O Tempo

 

E um astrônomo disse: “Mestre, que dizes do tempo?”

E ele respondeu:

“Gostaríeis de medir o tempo, o ilimitado e o incomensurável.

Gostaríeis de ajustar vosso comportamento e mesmo reger o curso de vossa alma de acordo com as horas e as estações.

Do tempo, gostaríeis de fazer um rio, na margem do qual vos sentaríeis para observar correr as águas.

          

 Contudo, o que em vós escapa ao tempo sabe que a vida também escapa ao tempo.

            E sabe que ontem é apenas a recordação de hoje e amanhã, o sonho de hoje.

            E aquilo que canta e medita em vós continua a morar dentro daquele primeiro momento em que as estrelas foram semeadas no espaço.

            Quem, dentre vós, não sente que seu poder de amar é ilimitado?

            E, porém, quem não sente esse amor, embora ilimitado, circunscrito dentro do seu próprio ser, e não se movendo de um pensamento amoroso a outro, e de uma ação amorosa a outra?

            E não é o tempo, exatamente como o amor, indivisível e insondável?

            Contudo, se em vossos pensamentos deveis dividir o tempo em estações, que cada estação envolva todas as outras estações,

            E que vosso presente abrace o passado com nostalgia e o futuro com ânsia e carinho.”

         


(O PROFETA)

GIBRAN KHALLIL GIBRAN


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O Jardim do Profeta: Um Livro de Ternura e Nostalgia

 

 Gibran estava trabalhando neste livro quando a morte chegou.

Nos seus planos, o livro fazia parte de uma trilogia, assim concebida:

O Profeta: As relações do homem com o homem.

O Jardim do Profeta: As relações do homem com a Natureza.

A Morte do Profeta: As relações do homem com Deus.

 

Deste último livro, Gibran deixou somente a ideia do epílogo. E é de uma amargura profunda: Al-Mustafa volta à cidade de Orfalese, e lá apedrejam-no na praça pública.

No Jardim do Profeta, pelo contrário, a ternura abrange até os seres inanimados: “Tu e a pedra não sois senão um só. A única diferença está no ritmo das pulsações do coração. Teu coração bate um pouco mais rapidamente.”

O Profeta termina com a partida de Al-Mustafa da cidade de Orfalese. O Jardim do Profeta abre-se com a chegada de Al-Mustafa à sua ilha natal, onde reencontra a casa que foi de seu pai e de sua mãe e aqueles que foram seus companheiros de infância. Dialoga com eles de mil assuntos da vida. Depois despede-se e se vai... “E seus pés eram rápidos e silenciosos; e, num momento, como uma folha levada pelo vento, encontrava-se muito longe deles, e eles viram como uma luz pálida subindo para as alturas.”

Um livro fresco e belo, cheio de conceitos profundos, de ternura e de nostalgia.

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terça-feira, 19 de outubro de 2021

A CONVERSAÇÃO – Gibran Khalil Gibran


A Conversação

          Então, um literato disse: “Fala-nos da Conversação”.

          E ele respondeu:

          “Vós conversais quando deixais de estar em paz com vossos pensamentos.

          E quando não podeis mais viver na solidão de vosso coração, procurai viver nos vossos lábios, e encontrais então uma diversão e um passatempo nas vibrações emitidas.

          E em grande parte de vossas conversações, o pensamento é meio assassinado.

          Pois o pensamento é uma ave do espaço que, numa gaiola de palavras, pode abrir suas asas, mas não pode voar.

          Há entre vós aqueles que procuram os faladores, por medo da solidão.

          A quietude da solidão revela-lhes seu Eu desnudo, e eles preferem escapar-lhe.

          E há aqueles que falam e, sem saber ou prever, traem uma verdade que eles próprios não compreendem.

          E há aqueles que possuem a verdade dentro de si, mas não a expressam em palavras.

          No íntimo de tais pessoas, o espírito habita num silêncio rítmico.

          Quando encontrardes vosso amigo na rua ou no mercado público, deixai que o Espírito que está em vós ponha em movimento vossos lábios e dirija vossa língua.

          E que a voz escondida na vossa voz fale ao ouvido de seu ouvido.

          Pois sua alma guardará a Verdade de vosso coração, como é lembrado o sabor do vinho.

          Mesmo depois que a sua cor houver sido esquecida, e a taça que o continha não mais existir.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

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"O Profeta

 

A milenar sabedoria do Oriente.

A beleza imortal de uma prosa inspirada.

O reencontro do homem com o que ele tem de melhor.

Uma atmosfera elevado onde o homem se sente superior a todas as misérias, e feliz.

O conforto moral numa época de angústia e perplexidade.

É tudo isto que lhe oferece este pequeno livro único, companheiro inseparável de milhões de homens e mulheres em todo o mundo.

Apresentado numa tradução brasileira que conserva toda a essência e a sedução do original, constituindo-se numa verdadeira recriação artística."

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