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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

A PRECE – Gibran Khalil Gibran


A Prece

 

Então uma sacerdotisa disse: “Fala-nos da Prece”.

E ele respondeu dizendo:

“Vós rezais nas vossas aflições e necessidades; pudésseis também rezar na plenitude de vossa alegria e nos dias de abundância.

Pois que é a oração senão a expansão de vosso ser para o éter vivente?

            E se constitui conforto exalar vossas trevas no espaço, maior conforto sentireis quando exalardes a aurora de vosso coração.

            E se não podeis reter vossas lágrimas quando vossa alma vos chama para orar, ela vos deveria esporear repetidamente, embora chorando, até que aprendêsseis a orar com alegria.

            Quando rezais, vos elevais até encontrardes, nas alturas, aqueles que estão orando à mesma hora, e que, fora da oração, talvez nunca encontrásseis.

            Portanto, que a vossa visita a esse templo invisível não tenha nenhuma outra finalidade senão o êxtase e a doce comunhão.

            Pois se penetrardes no templo unicamente para pedir, nada recebereis.

            E se nele entrardes para vos curvar, ninguém vos erguerá.

            E mesmo se aí fordes para mendigar favores para outros, não sereis atendidos.

            Basta-vos entrar no templo invisível.

            Não vos posso ensinar a rezar com palavras.

            Deus não escuta vossas palavras, exceto quando Ele próprio as pronuncia através de vossos lábios.

            E não vos posso ensinar a oração dos mares e das florestas e das montanhas.

            Mas vós que nascestes das montanhas, e das florestas, e dos mares, podeis encontrar suas preces no vosso coração.

            E se somente escutardes na quietude da noite, ouvi-los-ei dizendo em silêncio:

            Deus nosso, que és nosso Eu alado, é Tua vontade em nós que quer.

            É teu desejo em nós que deseja.

            É Teu impulso em nós que pode transformar nossas noites, que Te pertencem, em dias que também Te pertencem.

            Nada Te podemos pedir, pois Tu conheces nossas necessidades antes mesmo que nasçam em nós.

            Tu és nossa necessidade; e dando-nos mais de Ti, Tu nos dás tudo.”

 

(O PROFETA)

Khalil Gibran Khalil

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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.


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OS DEUSES DA TERRA OU NA FRONTEIRA DO SUPRANATURAL

 

          Este livro constitui uma categoria à parte na obra de Gibran. Pois é o único que tem por heróis deuses – e não homens. Nos outros livros de Gibran, mesmo os heróis dotados de sublime grandeza fazem parte da humanidade. Até Jesus no livro Jesus, o Filho do Homem, é apresentado como homem.

          Em Os Deuses da Terra, os três heróis do livro são deuses, que falam num estilo de apocalíptica majestade. E o livro é, na realidade, um poema épico que parece desenrolar-se num lugar fora ou além desta Terra.

          Começa com os seguintes versos:

          “Quando caiu a noite da

                           duodécima grande era

          E o silêncio, a maré da alta da

                  noite, engoliu as colinas,

          Os três deuses nascidos da terra,

          Os Senhores Titãs a vida,

          Apareceram sobre as montanhas.

          Rios corriam à volta de seus pés;

          A neblina flutuava sobre seus peitos,

          E suas cabeças elevavam-se majestosamente

          Acima do mundo.”

         

          O livro todo se desenvolve na mesma atmosfera, feita de imagens imponentes e de evocações sobre-humanas.

          Barbara Young o considera um dos poemas mais belos de toda literatura anglo-saxônica.

          São três os deuses heróis do livro, e cada um deles representa um dos aspectos da divindade: Força esmagadora e altiva – Providência Compassiva – Amor e Bondade.

          E eles conversam entre si.

          Mas de que conversam os deuses quando conversam? E quando desejam, o que desejam?

          Os homens, mortais, desejam a imortalidade. Mas os deuses, imortais, estão satisfeitos com sua imortalidade?

          E qual é o papel do amor na vida dos deuses?

          As respostas de Gibran levam-nos para um mundo diferente, fora do espaço e do tempo.

          Um livro de inspiração, de iluminação, que faz ressaltar como a vida e o amor dos homens são efêmeros e os torna, assim mesmo, infinitamente mais desejados.

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