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domingo, 11 de julho de 2021

ITABUNA CENTENÁRIA, UM POEMA: Como Pássaro, fugi - Paulo Bezerra

 


Como Pássaro, Fugi

Paulo Bezerra

 

Como pássaro, fugi para a montanha,

fugi das ciladas, busquei esconderijos,

esqueci, cobri o rosto, da estranha

força que mantém os nervos rijos.

 

Atiram flechas, esticam arco e cordas

para tentar, em vão, reter-me o passo.

Rodeia-me, espreita-me a horda

que prepara, em cada trilha, a mim, seu laço.

 

Mas, como pássaro fugi, esguio e firme

trouxe, nas asas, teu ser e o pus a salvo

para que tudo que disse se confirme

e o teu corpo não seja mais o alvo.

 

Da blasfêmia, do ódio e do inimigo,

te escondi, junto a mim, em meu recanto.

Tendo você, a salvo, aqui comigo,

pra te curar a dor, secar teu pranto.

 

(somos, assim, feitos um pro outro)

 

 

(O ESTRO QUE ILUMINA O SER)

Paulo Bezerra

.................


PREFÁCIO 

 

            "Conheci Paulo, advogado, quando da realização  do primeiro Concurso para Juiz do Trabalho realizado pelo TRT de Alagoas, em 1992. Ansioso, esperançoso, nervoso, como todo candidato. Vinha da Bahia – terra de Carlos Coqueijo Costa, Orlando Gomes, J.J. Calmon de passos e José Augusto Rodrigues Pinto, trazendo, na bagagem, ao invés de roupas, livros, em busca de um ideal: ser juiz.

            Conheci Paulo, juiz, já em 1993. Vitorioso, realizado, feliz, pois como ele mesmo diria mais tarde, chegou a esta terra 'trazendo uma mala de esperança, de alegria e de luta'.

            De luta, porque estressado de uma maratona de 10 horas de estudos, durante dois anos inteiros.

            De alegria, porque finalmente, o filho de um caminhoneiro e de uma nordestina Severina, anualmente buchuda e doce por toda a vida, era Juiz. Esse nordestino também tão Severino.

            De esperança, porque todos os que se lançam em busca de algo e conseguem, se enchem de esperança para novos rumos.

            Conheci Paulo, poeta, em 1994, quando, ao receber o título de cidadão palmarino, deixou transparecer em seu discurso, inserido ao final  deste livro, o estro que lhe ia n’alma.

            Não é de admirar que um filho da terra de Castro Alves, Dorival Caymmi, Jorge Amado, Caetano Veloso e Dias Gomes, tenha percebido a poesia no ar, à sua volta, e dela sorvido.

          Um advogado, forma-se. Um juiz, instrui-se.

            Mas um poeta, nasce. Porque o poeta já trás no sangue, nos gens, a sensibilidade, a poesia.

           O poeta já nasce com olhos de poeta, com ouvidos de poeta, com alma de poeta.

            Paulo, poeta, certamente, herdou do seu pai, caminhoneiro, a beleza absorvida por este, nas muitas horas de solidão, quando vagava pelas paisagens das estradas.

          Paulo, poeta certamente herdou de sua mãe, doce por toda a vida, os cantos e encantos das muitas horas de suave colóquio, dela com o ser que lhe crescia no ventre.

          Não me cabem méritos nem reconhecimento público, para ser escolhido para prefaciar esta obra, a não ser o respeito e a admiração por esta mesma obra.

 

            É bom saber que, em tempos em que os homens andam cada vez mais esquecidos dos sentimentos, revela-se um novo poeta.

            É bom saber que, da mesma pena de onde brotam sentenças de direito trabalhista, brotam também poesias. Porque isto dá ao poeta a qualidade da poesia que não é mero sonho, mas traz a marca da experiência de vida.

            Dá ao juiz a qualidade de decidir, sem esquecer os valores mais sutis do sentimento, as questões mais humanas do ser humano. E dá ao leitor a oportunidade de ótimos momentos de reflexão, de devaneios, de divagação, enfim, da melhor poesia".

 

José Antônio Esteves Nunes


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