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domingo, 20 de setembro de 2020

A ALEGRIA E A TRISTEZA – Gibran Khalil Gibran




A Alegria e a Tristeza


            Então uma mulher disse: “Fala-nos da Alegria e da Tristeza”.

            E ele respondeu:

            “Vossa alegria é vossa tristeza desmascarada.

            E o mesmo poço que dá nascimento a vosso riso foi muitas vezes preenchido por vossas lágrimas.

            E como poderia não ser assim?

            Quanto mais profundamente a tristeza cravar a sua garra em vosso ser, tanto mais alegria podereis conter.

            Não é a taça que contém vosso vinho a mesma que foi queimada no forno do oleiro?

            E não é a lira que acaricia vossa alma a própria madeira que entalhada a faca?

            Quando estiverdes alegres, olhai no fundo de vosso coração, e achareis que o que vos deu tristeza é aquilo mesmo que está vos dando alegria.

            E quando estiverdes tristes, olhai novamente no vosso coração e vereis que, na verdade, estais chorando por aquilo mesmo que constitui vosso deleite.

 

            Alguns dentre vós dizeis: “A alegria é maior que a tristeza”, e outros dizem: “Não, a tristeza é maior”.

            Porém, eu vos digo que elas são inseparáveis.

            Vêm sempre juntas; e quando uma está sentada à vossa mesa, lembrai-vos de que a outra dorme em vossa cama.

            Em verdade, vós estais suspensos como os pratos de uma balança entre vossa tristeza e vossa alegria.

            É somente quando estais vazios que estais equilibrados.

            Quando o guarda do tesouro vos suspende para pesar seu ouro e sua prata, então deve a vossa alegria ou a vossa tristeza subir ou descer.”

 

(O PROFETA)

Gibran Khalil Gibran

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Gibran Khalil Gibran - Poeta libanês, viveu na França e nos EUA. Também foi um aclamado pintor. Seus textos apresentam a beleza da alma humana e da Natureza, num estilo belo, místico, conseguindo com simplicidade explicar os segredos da vida, da alegria, da justiça, do amor, da verdade.

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 “HÁ DENTRO DE MIM UM PODER IMPACIENTE POR SE REVELAR”


 

       Essas qualidades bastavam para produzir uma grande obra literária e humana, mas não explicam essa irradiação intensa que emana de O Profeta e que, tanto quanto o valor da obra, provoca o entusiasmo dos leitores.

          Essa irradiação provém da fé do Gibran em sua missão. Gibran não considerava O Profeta como um simples livro, mas como sua mensagem, com a razão pela qual fora enviado a este mundo, com a palavra em torno da qual toda a sua vida se concentrava.

          Desde a juventude, Gibran estava consciente de possuir um poder excepcional que procurava sua expressão. Em cartas a amigos, encontram-se repetidamente declarações como estas:

          “Sinto que há nas profundezas do meu coração uma grande força que se quer manifestar, mas é ainda incapaz de fazê-lo. Meus sentimentos são como as marés de um oceano. Minha alma é como uma águia de asas partidas. Sofre dolorosamente quando vê os pássaros voar nos espaços, porque não pode ainda imitá-los.”

          Aos 15 anos, tenta dar forma a essa força impaciente por se exteriorizar, e debuxa uma primeira versão, em árabe, de O Profeta. De regresso a Boston, lê para sua mãe trechos do livro que “iria transformar o mundo”. A mãe acalma a exaltação do filho: “É um bom trabalho, Gibran, mas seu tempo ainda não chegou. Deixa-o amadurecer.”

            Gibran aceita o conselho, que corresponde, aliás, à sua própria convicção. Mas O Profeta não o abandona nunca mais. Escreve e publica outros livros, mas deixa O Profeta amadurecer em sua alma.

            Em 1910, começa a redigi-lo em inglês. E enquanto suas obras árabes já o cobriam de glória, escreve a seu editor Emile Zeidan:

            “Os vinte anos que vivi como escritor e como pintor foram simplesmente uma época de preparação e de desejo. Ainda não produzi nada que mereça ficar à face do sol.”

            E continua a polir O Profeta. Reescreve-o cinco vezes em inglês, antes de remetê-lo ao editor, em 1923. Durante essa gestação de 25 anos, a mensagem se forma no fundo de seu coração, como uma pérola se forma no fundo do mar.

            E quando a pérola é enfim expelida, ele suspira de alívio: “Enfim, pronunciei-a, a palavra que carrego desde que nasci e que vim a este mundo para pronunciar”, declara, jubiloso, a um amigo. Mais tarde, lamentará ter escrito tanto. Confia a May Ziadé, sua amiga espiritual: “Por que escrevi e publiquei tantos livros? Eu nasci para viver e escrever um único livro, um pequeno livro. Nasci para viver e sofrer e pronunciar uma única palavra, vívida e alada.”

          E o mais impressionante é que essa palavra não era considerada por Gibran como uma mensagem simplesmente teórica, simplesmente intelectual: ele lhe submetia sua maneira de viver e de ser. Há um incidente particularmente significativo. Uma vez, Gibran comprou uma casa, em Boston, e a reformou para servir a uma associação feminina. A associação fracassou, deixando a casa imprópria para qualquer outra locação. Para recuperar o dinheiro investido, Gibran devia acionar a associação em juízo. Mas uma das diretoras vai vê-lo e sacode O Profeta na sua face, dizendo: “Foi o senhor quem escreveu este livro, não foi? Que pretende fazer dele agora?” apesar da insistência dos amigos, Gibran desistiu do processo. “Se o tivesse continuado, explicava, não poderia abrir outra vez o pequeno livro.”

            Independentemente de tais incidentes, Gibran viveu na atmosfera de seu livro, à sombra de suas alturas. Nunca se casou. Nunca se interessou por negócios. Dedicou toda a sua vida a escrever e pintar. Sua residência foi sempre a mais simples, a mais modesta, tanto em Paria como em Boston e Nova Iorque; e seu modo de viver não se alterou quando a venda de seus livros e quadros o tornou milionário.

            E essa fé em si mesmo e em sua missão, essa transposição da pregação para a própria vida do pregador confere a obra de Gibran a sedução mística que dotava de força extraordinária, por exemplo, as palavras de Ghandi. Os homens são particularmente atraídos para os que creem no que pregam e submetem seus atos ao seu ideal.

           

APRESENTAÇÃO

Mansour Challita

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Editora Vozes Ltda.

BRASIL 1974

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