Muito acima do peso, dentes proeminentes e usando óculos
fundo de garrafa, ou seja, gorda, dentuça e quatro olhos, sinceramente,
torna-se um prato cheio no colégio para seus colegas gozarem a vontade,
colocarem apelidos maldosos e tratarem a pessoa com desprezo constante. E,
naquele tempo, não existia esse nome americano bonito (bullying) para
caracterizar o comportamento. Era uma montanha de apelidos sacanas e
depreciativos, sem o mínimo respeito humano pela aquela menina de dezesseis
anos apenas, e outros independentes das suas idades.
Na verdade, não existiam combates punitivos com relação a
esse comportamento, já que qualquer um que tivesse um diferencial qualquer
(físico ou gestual) era logo apelidado de alguma forma. Era uma característica
dessa cidade do interior, que é muito peculiar no norte/nordeste, onde esse
comportamento faz parte dos seus folclores!
Depois de sofrer anos seguidos nas garras dos colegas
sacanas e debochados, um dia, o pai de Maria Rosa (esse era o seu nome), por
ser funcionário público federal, foi transferido através de uma boa promoção
para trabalhar em S. Paulo. Foi um grande furor dentro da família, pois, com
esse deslocamento inesperado, seus vencimentos seriam quadruplicados e, pela
sua capacidade técnica, ainda teria uma séria de benefícios complementares
(casa, carro, plano de saúde especial, além de outras coisas mais que são destinadas
aos funcionários graduados dessa bendita nação.
Como teria o prazo de quinze dias para se apresentar,
trataram todos de preparar seus paninhos de bunda e, sem despedidas maiores,
seguiram todos num voo da TAM e os apetrechos num caminhão da King Transportadora.
Chegaram e se aconchegaram numa bonita e confortável casa num condomínio
fechado e de alto gabarito, deixando todos (os pais, Maria Rosa, o irmão Luiz e
a empregada que eles levaram por ser alguém que já estava com a família há mais
de dez anos) deslumbrados com a mudança radical de status.
Todos se posicionaram em suas atividades e, Maria Rosa que
era uma aluna exemplar, matriculou-se em uma maravilhosa escola, começou a
malhar diariamente, colocou um aparelho ortodôntico para corrigir as arcadas
dentárias e, para completar, fez uma cirurgia oftalmológica, eliminando,
categoricamente, a necessidade de usar óculos. Abreviando, o fato é que depois
de cinco anos ano, Rosinha (como era chamada em casa), tornou-se uma mulher
linda, charmosa, sensual e com o semblante feliz que nunca foi visto durante a
sua vida de discriminação na sua cidade natal. Formou-se em jornalismo, fez um
teste na Globo logo foi escalada para apresentar um dos jornais, já com o
pseudônimo sofisticado de Rosana Rosenberg.
Com um ano na Plim-Plim, namorou vários galãs, viajou por
meio mundo e casou-se com Marcelo Anthony, complementando a sua realização de
ter vencido uma série de adversidades que jamais imaginou que pudesse
acontecer!
Então, nada disso adiantaria se não fosse à oportunidade de
voltar a sua cidade natal como uma mulher consagrada, vencedora e, acima de
tudo, linda e desejada. Preparou um projeto sobre o modismo atual do combate ao
“bullying” e seguiu no jatinho particular global, chegando à cidade recebida com
as maiores honras. Fez seu trabalho, viu uma porção que, no passado, lhe
criticavam, gordos, barrigudos, feios, idiotizados e com seus trejeitos
interioranos, aparecerem em sua frente, ainda com as manias de apelidos idiotas
e depreciativos. Sentiu pena de ver os olhares de inveja!
O fato é que riu muito intimamente, sentiu-se vingada e, no
fim do dia, voltou para sua maravilhosa vida em Sampa, não deixando de, no
íntimo, agradecer aquele povo que, com seus comportamentos, lhe deram forças e
coragem para dar uma volta por cima e transformar-se em outra pessoa.
Esse fictício exemplo mostra que, quando queremos...também
podemos! Jamais nos acomodarmos e achar que não temos capacidade para realizar
nossos sonhos. Lógico que temos que enfrentar uma grande luta, porém seja
sempre guerreiro meu amigo ou amiga! Se outros podem, vocês também podem, pois,
não existem pessoas mais especiais do que vocês!
Antonio Nunes de Souza, escritor,
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