(Bahia, 1956 – o magnífico)
Os meninos
da revista Mapa – Glauber Rocha, Fernando da Rocha Perez*, Calasans Neto, Sante
Scaldaferri, Paulo Gil Soares** - decretam e promovem guerra sem quartel a
Edgard Santos, reitor da Universidade Federal, a quem a cultura da Bahia tanto
deve.
Mapa
expressa em suas páginas as modernas tendências da arte e da literatura, a
poesia, a pintura, o cinema, a gravura, o teatro, destrói e propõe, influi mas,
ah!, corre perigo, vai deixar de aparecer, não tem anunciantes, não há dinheiro
para pagar papel e oficina, problemas que afligem e derrotam as publicações de
vanguarda.
Um lambe-botas
qualquer, é o que mais existe, vai correndo levar, a Edgard Santos o que lhe parece
ser a boa, a grata notícia: a revista da subversão não mais circulará, a
gráfica já não lhe faz crédito, menos ainda o fornecedor de papel, os ataques a
administração do Reitor estarão silenciados para sempre, viva, viva! Edgard Santos
escuta, Agradece a informação, manda pagar imediatamente o papel e a oficina, exige
apenas dos credores sigilo sobre quem está assumindo as despesas, os meninos não
devem saber: poderiam recusar, pior ainda poderiam entrar em crise de consciência
devido aos ataques ao Reitor.
Risonho, na
mesa do almoço comenta o episódio, estamos Odorico, Carlos Bastos e eu: essa revista
Mapa é o que há de melhor na Universidade, já pensaram se desaparecesse agora o
que iriam dizer de mim? Iriam me chamar de reacionário, intolerante, teriam
razão. Enquanto eu for reitor a circulação da revista está garantida, só que os
meninos não devem desconfiar.
Faz uma pausa, saboreia o acarajé, sabe da Universidade,
dos professores e dos alunos, Magnífico Reitor:
- São
meninos de talento, amanhã serão os mestres. Mas entre eles tem um moleque, um
tal de Glauber, esse é gênio, vai deslumbrar o mundo.
* Fernando da Rocha Perez, escritor.
** Paulo Gil Soares, cineasta.
(NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)
Jorge Amado
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“Sou deveras incompetente, inepto, a lista das coisas que
todo
mundo sabe fazer e eu não sei é longa. Aqui inscrevo apenas
alguns exemplos: não sei dançar, cantar, assoviar, nadar,
multiplicar, dividir por mais de dois números, empregar os verbos, pronunciar
corretamente, dirigir automóvel (mas já soube andar de bicicleta com razoável equilíbrio).
Não sirvo para grande coisa.” (Jorge Amado)
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JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da
ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido
pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os
Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.
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