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sábado, 8 de junho de 2019

SONHO DAS ESMERALDAS – Luiz Gonzaga Dias


Sonho das Esmeraldas 

                “As tuas esmeraldas eram falsas!”
                                 Paulo Setúbal

 I
Varando a selva, uma existência inteira,
Lutando contra o índio, abrindo sendas,
Engrandecendo a pátria brasileira,
Cavalheiro do século das lendas.

A fome, o frio, a perfídia e a canseira,
Não lhe detém o passo, e são prebendas...
Possuindo por feudo a selva inteira,
Por prêmio a morte... Aventura, as comendas.

Esmeraldas! Ecoa o grito insano,
Como fim da epopeia de ambições.
Esmeralda? Mentira! Puro engano!

Em farrapos, em febre, tiritante,
Morre pobre, mas rico de ilusões,
Fernão Dias Paes Leme o Bandeirante!

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FIM DA EPOPEIA DAS ESMERALDAS

II
“Ah! Mísero demente! O teu tesouro é falso!
Tu caminhaste em vão por sete anos no encalço,
De uma falaz, de um sonho malfazejo”.
                                                                     Olavo Bilac

Nada detém o bandeirante rude!
O índio, a fera, a fome, a mataria,
Esquece a idade, o amor, despreza tudo,
Apenas vendo a glória que lhe guia.

Forra-lhe o peito, como férreo escudo,
O orgulho de renome e de honraria.
A todo afeto o coração é mudo,
Somente um sonho enorme acaricia.

Esmeraldas! Anelo que alucina!
Que tortura, que fere, que fulmina,
Mas anima a esperança que socorre...

Esmeraldas? Miragem delirante!
Iludido e feliz, o Bandeirante,
Escabuja, estortega, arqueja e morre!...

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PALAVRAS DESPRETENSIOSAS
           Ao receber dos Editores o livro de poesias “Imagens Mutiladas”, de Luiz Gonzaga Dias, poeta baiano, para algumas palavras de apresentação, após leitura demorada, penso que qualquer cousa que se diga, sempre será muito pouco. Quando se fala da Bahia, aqui no Sul, temos a impressão de pauperismo. Entretanto, a terra do autor é uma dessas aldeias que me acostumei a ver no Nordeste, quando fui lecionar em Pernambuco. Ao olhar as fotografias de São Felix, temos a vaga ideia de uma cidade perdida nas suas tradições.
           
            Terminada a leitura, temos a impressão de angústia e de que o atavismo do destino tenha perseguido o autor. Mas a finalidade de seus versos se evidencia pelo cunho religioso, como em “Temor”, ora pende para o amargo travo da existência como em “Dualismo”, aparecendo o filósofo perdido no cosmos.

            Se existe beleza em poesia, podemos tomar como exemplo, certamente, os sonetos “Natal dos corações bons” (E mensagens de amor pelos caminhos), ou então o soneto “Verão” (E sorrisos de luz pelos caminhos).

            Essas frases recordam o saudosismo de Vicente de Carvalho, quando descrevia o caminho feito de espumas, os punhados de claridade esparsos pelas ondas.

            Entretanto, a influência ‘bilaqueana’ mostra-se nos sonetos “Almas Mortas”, “Morreu uma Ilusão”, “Maestro Chiquinho”. Neste último derrama-se tanto a efêmera banalidade do cotidiano quanto a suprema ventura de ser um mito ou uma quimera, a dantesca glória de ser um maestro louco, pagando assim um alto preço à imortalidade.

            O autor, parece-nos também, não fugiu à leitura de Augusto dos Anjos, como por exemplo nos poemas “Convicção”, “Não gostei não”, “Escrúpulo”, “Antero de Quental” e tantos outros colhidos ao acaso, dentro desta limitação em que vivemos de tempo e de vontade afundados no marasmo da vida, sem liames com as cousas do espírito. Por isso é uma heroica aventura publicar um volume de poesias (tanto para a editora como para o autor), em um país como este, onde os gestos fidalgos não têm seguidores a apenas avulta a mediocridade.

            A cólera que sacode o justo, que grita contra esse estado de pauperismo moral (da elite) e físico (do proletariado), não encontra senão esparsos ecos.

            E o problema do conflito de classes não deixa de ter espaço, principalmente em “Escrúpulo”, “Causa Antiga”, “Ironia das guerras civis”, mas não é uma constante no volume, como realmente deveria ser. Porque é através dos poetas que se faz a preparação para as lutas imortais de todos os povos, para a conquista da liberdade real, não apenas fictícia.

            Mas, como grandeza perene do livro, resta uma noção de fetichismo, de qualquer cousa de bem brasileiro, como por exemplo a solidão dos sertões tão à mostra na obra de Euclides da Cunha.

            Ou então aquele atavismo presente em “Inocência” que nos apresenta alguns dos tipos mais sofredores de toda a nossa literatura, caminhando passo a passo com os romances de Graciliano Ramos ou as obras de Jorge Amado, onde a literatura madura chega, para tornar-se daí para a frente imorredoura. Quando chegará, para o povo, o tempo em que a literatura há de cantar suas canções?

            Qual a literatura que não ficará eterna, reproduzindo esses anseios?

                                                                             Dezembro, de1962    

                                                               Paschoal Roberto Turatto.  


(IMAGENS MUTILADAS)
Luiz Gonzaga Dias
1963

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