4.6 Um teste de fé
Um
episódio marcante provou a fé dos neoadventistas. Vislumbro neste caso uma
semelhança com a história narrada no Segundo Livro de Crônicas, capítulo 20,
quando o rei de Judá, Josafá, foi afrontado e insultado por três nações
cananeias. Faço aqui rapidamente um resumo de fato bíblico e, a seguir, passarei
a relatar o que aconteceu no Boqueirão.
Moabitas,
amonitas e meunitas, povos vizinhos de Judá, resolveram se unir e pelejar
contra os hebreus. Um mensageiro avisa ao rei Josafá sem esconder de que se
tratava de grande multidão. O monarca teve medo e buscou ao Senhor e apregoou
de imediato um jejum generalizado à nação. Diante do Templo, em prece, ele
clama por socorro urgente, pois o inimigo já estava a caminho, não deixando de
relembrar feitos antigos quando o Eterno libertara seu povo. Confiado na
onipotência de Jeová e consciente da pequenez dos judeus, o rei clamou: “Ah!
Nosso Deus, acaso, não executarás Tu o Teu julgamento contra eles? Porque em
nós não há força para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós, e
não sabemos o que fazer; porém os nossos olhos estão postos em Ti”. Toda a
gente ali presente, calada, esperava uma resposta, um alento, um sopro de
segurança. O Espírito Santo Se utiliza do levita Jaasiel e acalenta a multidão,
afirmando não ter o que temer, pois Ele próprio, Deus, se encarregaria de
protegê-los e guerrear contra a tríade inimiga: “Não temais nem vos assusteis
por causa dessa grande multidão, pois a peleja não é vossa, mas de Deus”. E o
mais interessante foi o que Deus mandou Judá fazer, em termos militares,
bélicos e em relação ao uso da força – NADA! Para ouvintes boquiabertos, o
Senhor falou: “Neste conflito, não tereis que pelejar; tomai posição, ficai
parados e vede o salvamento que o SENHOR vos dará... Não temais, nem vos
assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o SENHOR é convosco”. Diante de
tamanha promessa, Josafá teve certeza do livramento e, ali mesmo, ajoelhando-se
com a nação, adorou por meio de um louvor comunitário.
Em ato de
obediência, no outro dia pela manhã, Josafá dispôs o exército e, à frente, o
coral do Templo. Entendeu que, numa
guerra, o exército, mesmo que não fosse lutar, deveria estar presente, cabendo
ao povo e aos cantores o louvor. Não teriam que se preocupar senão em prestar
culto por meio do louvor. A fé viva e atuante é aquela que espera no Senhor:
“Tendo eles começado a cantar e a dar louvores, pôs o SENHOR emboscadas contra
os filhos de Amon e de Moabe e os do monte Seir que vieram contra Judá, e foram
desbaratados”. Sem levantar uma espada, Judá venceu. Sem matar um judeu, os
inimigo se autodestruíram, confusos, sem
entender, inicialmente, o porquê daquele momento adverso, infausto e
tormentoso. O autoextermínio foi assim retratado: “Os filhos de Amon e de Moabe
se levantaram contra os moradores do monte Seir, para os destruir e exterminar;
e tendo eles dado cabo dos moradores de
Seir, ajudaram uns aos outros a
destruir-se.” Assim foi o fim daqueles que tentaram incomodar os eleitos do
Senhor.
E o que a
comunidade adventista do Boqueirão, o primeiro núcleo de guardadores do sábado
em Itabuna, tem a ver com essa história?
Após a
aceitação da mensagem bíblica por parte de alguma agricultores e trabalhadores
rurais da comunidade que se uniram à Igreja
Adventista, houve uma mudança radical na forma de se comercializar,
falar, reunir e escolher amigos. Novos hábitos, bem mais sadios, foram
implantados. As rotinas foram alteradas, buscando-se algo mais próximo do
Criador. Conversações frívolas, festividades vãs e ajuntamentos inúteis foram
deixados para trás. Talvez o conjunto disso tudo acabou provocando despeito,
zanga e mal-estar em alguns vizinhos não tão crédulos e zelosos pela causa de
Deus. Um temerário fazendeiro da família Badaró, que morava nas adjacências,
não aceitando ou mesmo aturando aquelas inusitadas reuniões de crentes, mandou
um recado para João Roberto Ramos. “Se continuassem a ocorrer as reuniões
sabáticas, ele mesmo iria com seus capangas obstruí-las, utilizando se
necessário da força física e das armas”.
Em período anterior, pré-aceitação do
Adventismo, João Roberto resolveria a pendenga de outra forma, pois a coragem e
a bravura sempre lhes foram características congênitas. Mas agora seria
diferente, entregou o problema e o insulto nas mãos divinas. Diante da afronta
ele confiaria em Deus. Apresentaria seus louvores e orações Àquele que poderia
livrar os devotos.
Chegando o
sábado, os membros apresentaram-se na congregação como de costume, mas foram
aconselhados pelo líder que não se sentassem em seus locais habituais. O grupo
foi dividido em dois: homens na frente, armados com suas respectivas Bíblias, e mulheres e crianças nos bancos
derradeiros. Orações, louvores e intercessões levantadas aos céus pedindo
livramento. E assim começou o culto. Sem alterações do ponto de vista do ritual
sabático.
Mais tarde
ocorreu algo que fez alterar o batimento cardíaco dos fiéis mais inconstantes. Tiros
são ouvidos! Pensavam tratar-se de um aviso dado pelo algoz de que ele estaria
chegando com seu bando. O que fazer? A recomendação é que se continuasse com a
programação e não fosse esquecido em momento algum que a proteção vem do Senhor.
Mais estampidos! Orações e louvores redobrados, então! Assim foi durante toda a
programação matinal. Mas os valentões não apareceram. O que aconteceu
finalmente?
Culto realizado,
toda a membresia, agradecida, retornou aos seus respectivos lares. No trajeto
ou mesmo durante aquela tarde tomaram ciência do que havia acontecido. Quando o
grupo ofensor se preparava para ir ao local de culto, foi surpreendido por
outro bando oponente, que estava ali para acertar antigas diferenças e rixas. O
grupo que se preparava para atacar foi fortemente atacado! O temerário
fazendeiro não morreu em virtude de ter se refugiado num local pantanoso
existente nas cercanias de sua propriedade, ficando somente com a cabeça de
fora para conseguir respirar enquanto os oponentes se rivalizavam!
Que belo
testemunho de fé viveram nossos pioneiros. Não tentaram promover defesa com
suas próprias forças, mas confiaram em quem os podia ajudar. Enquanto o inimigo
se preparava para atacar, os fiéis, tal qual no tempo de Josafá, oravam e
cantavam louvores. E a Providência encontrou um meio de socorrê-los.
(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.6.)
Clóvis Silveira Góis Júnior
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