23/06/2018
Eu quero agradecer, em meu nome e em nome de todas as
pessoas comuns, cidadãos simples do meu país como eu, pelas últimas decisões
tomadas pelo nosso Egrégio Supremo Tribunal Federal.
Sim, o Supremo fez de nós pessoas melhores do que pensávamos
ser.
Quando olhávamos aqueles Ministros sob suas togas, com
passos lento e decididos, altivos, queixos erguidos, vozes impostadas ditando
verdades absolutas e supremas, envoltos numa aura de extrema importância e
autoridade, nos sentíamos pequenos, minguados e reles plebeus diante de uma
Corte que beirava o sublime, o inatingível e o intangível.
Com essas decisões o Supremo conseguiu fazer com que a minha
percepção sobre mim e sobre nós mudasse. Eles não são deuses. São pessoas tão
pequenas e tão venais, que qualquer comparação que eu faça de mim e de nós em
relação a eles, seria desqualificar-nos a um nível abissal. Tudo aquilo é
fantasia, tudo aquilo é pose e tudo aquilo não passa de um teatro, mas nós
somos reais.
Foi aí que eu vi o quanto somos mais importantes que eles!
Enquanto as divindades supremas encarnam seus personagens de retidão e lisura,
mas com suas decisões abduzem a moral e destroem o país (e de quebra a reputação
do Judiciário), nós brasileiros comuns e sem toga trabalhamos arduamente dia e
noite para construir o país, ou pelo menos para minimizar os danos que eles
provocam.
Então... Como é que um dia eu pude vê-los como sendo
superiores a nós? Eu estava enganado. Nós somos muito superiores a eles, mesmo
sendo zés, joãos, marias, desde o pequeno ambulante ao médico ou engenheiro.
Nós somos as verdadeiras autoridades, porque nossa autoridade não foi conferida
por um político malandro capaz de tudo com uma caneta. Nossa autoridade nos foi
dada pela nossa força de continuar tentando fazer um Brasil melhor.
Fico sinceramente com pena é dos advogados, que são
obrigados a chamar esses ministros de Excelência, ainda que com a certeza de
que não há excelência alguma nos serviços que eles estão prestando à nação.
Acho que deve ser o mesmo sentimento de ser obrigado a chamar o cachorro do rei
de "my lord".
Agora eu sei o quanto somos bem maiores que eles, mesmo sem
aquelas expressões em latim e doutrinas rebuscadas cheias de pompas e
circunstâncias, que no final significam apenas passar perfume em merda. Se há
alguém realmente importante no Brasil, esse é o Excelentíssimo Povo Brasileiro,
que apesar de tudo é obrigado a sentir o mau cheiro que vem da grande Corte, e
mesmo com náuseas e ânsia de vômito, tem que acordar as 5 da manhã pra fazer
aquilo que eles não fazem: Produzir.
Obrigado, Supremo, por nos mostrar que hoje o rei sou eu e o
meu povo.
Marcelo Rates Quaranta
Articulista
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