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sábado, 23 de junho de 2018

POLÍTICA EXTERNA DE GENTE GRANDE – Marco Antônio Villa


Não é novidade dizer que vivemos uma crise de lideranças. O atual processo eleitoral é uma demonstração inequívoca. Não há registro na história republicana de uma carência tão significativa de líderes como agora. Esse processo não é produto do acaso. Deve-se a uma estrutura política que rejeita a novidade e novas formas de ação política. Até o momento, o arcaico vence de goleada o moderno. A ruptura entre a sociedade civil e o Estado e seus braços – como os partidos políticos – se aprofundam. E o maior prejudicado é o cidadão que encontra por todos os lados a frustração.

Os presidenciáveis possuem enorme dificuldade de ter uma visão de totalidade dos dilemas que o País enfrenta. Abusam de clichês, de soluções que não são soluções. Dão a impressão que desconhecem o que está ocorrendo no mundo. São provincianos. E quanto se referem ao exterior é sempre de forma subserviente.
Insistem alguns na importância da globalização, da liberdade comercial, mas em nenhum momento tocam na questão geopolítica.
A inserção do Brasil no mundo é no campo das mercadorias. Isso como se o planeta vivesse em paz e, pior, para todo o sempre. Os conflitos que ocorrem no mundo, as áreas de influência que foram redefinidas com o fim da Guerra Fria, as contradições, entre outros exemplos, entre Estados Unidos e China, são absolutamente ignorados.

Dada a importância econômica do País, sua extensão territorial, a presença no hemisfério sul, além de estar distante das zonas mais conflituosas do mundo, dão ao Brasil a necessidade de estabelecer uma política externa que combine a presença econômica, seu poderio militar e os interesses estratégicos do país. O Itamaraty, que poderia ser esse corpo permanente de Estado — e não de governo — para elaborar propostas de interesse nacional, de há muito abandonou o papel de indutor da política externa. É uma tradicional repartição pública. Um escritório burocrático, cinzento, modorrento. Sua principal preocupação são as festas, coquetéis e intrigas internas que desservem à República.

É urgente que o País tenha uma política externa de, no mínimo, médio prazo. Um passo positivo foi ter abandonado a relação de amizade e aliança com os países bolivarianos. Mas só isso não basta. É necessário pensar grande, pensar do tamanho do Brasil. A nossa inserção no mundo não pode ocorrer de forma subordinada. Precisamos ter um diálogo de igual para igual com as potências de um mundo multipolar.



Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos (1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993). É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia (USP) e Doutor em História (USP)


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