Não é novidade dizer que vivemos uma crise de lideranças. O
atual processo eleitoral é uma demonstração inequívoca. Não há registro na
história republicana de uma carência tão significativa de líderes como agora.
Esse processo não é produto do acaso. Deve-se a uma estrutura política que
rejeita a novidade e novas formas de ação política. Até o momento, o arcaico
vence de goleada o moderno. A ruptura entre a sociedade civil e o Estado e seus
braços – como os partidos políticos – se aprofundam. E o maior prejudicado é o
cidadão que encontra por todos os lados a frustração.
Os presidenciáveis possuem enorme dificuldade de ter uma
visão de totalidade dos dilemas que o País enfrenta. Abusam de clichês, de
soluções que não são soluções. Dão a impressão que desconhecem o que está
ocorrendo no mundo. São provincianos. E quanto se referem ao exterior é sempre
de forma subserviente.
Insistem alguns na importância da globalização, da
liberdade comercial, mas em nenhum momento tocam na questão geopolítica.
A
inserção do Brasil no mundo é no campo das mercadorias. Isso como se o planeta
vivesse em paz e, pior, para todo o sempre. Os conflitos que ocorrem no mundo,
as áreas de influência que foram redefinidas com o fim da Guerra Fria, as
contradições, entre outros exemplos, entre Estados Unidos e China, são
absolutamente ignorados.
Dada a importância econômica do País, sua extensão
territorial, a presença no hemisfério sul, além de estar distante das zonas
mais conflituosas do mundo, dão ao Brasil a necessidade de estabelecer uma
política externa que combine a presença econômica, seu poderio militar e os
interesses estratégicos do país. O Itamaraty, que poderia ser esse corpo
permanente de Estado — e não de governo — para elaborar propostas de interesse
nacional, de há muito abandonou o papel de indutor da política externa. É uma
tradicional repartição pública. Um escritório burocrático, cinzento,
modorrento. Sua principal preocupação são as festas, coquetéis e intrigas
internas que desservem à República.
É urgente que o País tenha uma política externa de, no
mínimo, médio prazo. Um passo positivo foi ter abandonado a relação de amizade
e aliança com os países bolivarianos. Mas só isso não basta. É necessário
pensar grande, pensar do tamanho do Brasil. A nossa inserção no mundo não pode
ocorrer de forma subordinada. Precisamos ter um diálogo de igual para igual com
as potências de um mundo multipolar.
Marco Antônio Villa é historiador, escritor e comentarista
da Jovem Pan e TV Cultura. Professor da Universidade Federal de São Carlos
(1993-2013) e da Universidade Federal de Ouro Preto (1985-1993).
É Bacharel (USP) e Licenciado em História (USP), Mestre em Sociologia
(USP) e Doutor em História (USP)
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