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domingo, 12 de novembro de 2017

ITABUNA CENTENÁRIA UM POEMA: Amar – Carlos Drummond de Andrade

Amar – Carlos Drummond de Andrade
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Por Fabio Rocha, para A Magia da Poesia.

Desde 1999, este projeto divulga poemas de grandes poetas sem erros ou falsas autorias. Hoje temos uma média de 5 mil visitantes por dia, muitos desses sendo estudantes e professores.
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Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, 
e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, 
e na secura nossa,
amar a água implícita, e o beijo tácito, 
e a sede infinita.



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