Total de visualizações de página

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

TERRAS DE ITABUNA: A chegada do trem de ferro

A chegada do trem de ferro


          Olinto Leone teve as suas falhas, mas foi uma personalidade marcante na vida administrativa e política de Itabuna. Dotado de uma força de vontade incomum só deixou a chefia do Partido quando estava para morrer, minado por terrível enfermidade.

          Alimentava a impressão de que se finaria num dia treze e se acabou num dia vinte e nove.

          Antes de falecer, recomendou ao irmão Arlindo Leone que elegesse deputado estadual a Gileno Amado. Efetivamente, assim sucedeu. Nas eleições, que posteriormente se processaram, Gileno Amado, embora candidato avulso, se empossou deputado estadual.

          O município Itabunense começava a pesar na balança da produção de cacau, do desenvolvimento comercial e alguns desbravadores aventureiros principiavam a procurar as terras do seu oeste para explorarem a pecuária ao longo do rio Salgado e do vale do rio Colônia. Nesse ano, extraordinário melhoramento fez vibrar a terra e o seu povo, com uma nova força de cooperação aos que tanto penavam pela falta de transporte.

          O trem de ferro, como se dizia naquele tempo, apitou em Itabuna, resfolegou, estremecendo a terra, alegrando os meninos, impressionando as mocinhas, surpreendendo os velhos mateiros, afugentando os animais, deixando o passado, montado nos lombos dos animais e colocando a cidade nos trilhos, ao nível das terras servidas pelos transportes modernos.

          Naquele agosto de 1913, dera-se a inauguração oficial da estrada de ferro para servir aos vinte mil habitantes da nova terra do cacau. A civilização entrava pelas rodas das locomotivas, com aplausos de muitos e restrições de poucos. Esses poucos diziam: “Eu é que não vou trocar o meu cavalo bom por este cavalo de ferro”.

          Tertuliano Guedes de Pinho externava a sua opinião favorável, elogiava os ingleses, donos da estrada de ferro, sem pronunciar-lhe os nomes porque não acertava, não fazia como o Tourinho da farmácia, metido a letrado, e que dizia tudo errado, como Paulino Vieira que denominava a estrada do “Bento Berilo” e desses “ingrêses”.

          Havia opiniões contrárias à estrada de ferro. Henrique Félix e José de Aguiar eram formalmente adversários do trem de ferro,  que chamavam de invenção da “peste”. Da “peste” porque, pela estrada a polícia chegaria com mais facilidade e eles se dedicavam ao cangaço, possuíam jagunços, tomavam empreitadas, as mais desgraçadas, e temiam a polícia.

          No rio Cachoeira, uma criança pescava quando ouviu um rapaz dizer a uma moça: - Você gosta de mim? E a moça respondeu: - Gosto, sim. E combinaram para fugir no trem, no dia imediato.

          Realmente, foi aquele o primeiro casal que fugiu no trem de ferro da antiga Tabocas embalado por um amor do pecado e correndo das perseguições paternas. Ele era palhaço de circo, ela uma moça da sociedade.

          Ao saber da notícia, Henrique Félix exclamou: “Eu não disse que esta estrada só serve para fazer o mal?” – com o que concordou o seu comparsa amigo José de Aguiar.


(TERRAS DE ITABUNA)

Carlos Pereira Filho

* * *

Nenhum comentário:

Postar um comentário