A chegada do trem de ferro
Olinto Leone
teve as suas falhas, mas foi uma personalidade marcante na vida administrativa
e política de Itabuna. Dotado de uma força de vontade incomum só deixou a
chefia do Partido quando estava para morrer, minado por terrível enfermidade.
Alimentava a impressão de que se
finaria num dia treze e se acabou num dia vinte e nove.
Antes de
falecer, recomendou ao irmão Arlindo Leone que elegesse deputado estadual a
Gileno Amado. Efetivamente, assim sucedeu. Nas eleições, que posteriormente se
processaram, Gileno Amado, embora candidato avulso, se empossou deputado
estadual.
O município
Itabunense começava a pesar na balança da produção de cacau, do desenvolvimento
comercial e alguns desbravadores aventureiros principiavam a procurar as terras
do seu oeste para explorarem a pecuária ao longo do rio Salgado e do vale do
rio Colônia. Nesse ano, extraordinário melhoramento fez vibrar a terra e o seu
povo, com uma nova força de cooperação aos que tanto penavam pela falta de
transporte.
O trem de
ferro, como se dizia naquele tempo, apitou em Itabuna, resfolegou, estremecendo
a terra, alegrando os meninos, impressionando as mocinhas, surpreendendo os
velhos mateiros, afugentando os animais, deixando o passado, montado nos lombos
dos animais e colocando a cidade nos trilhos, ao nível das terras servidas
pelos transportes modernos.
Naquele
agosto de 1913, dera-se a inauguração oficial da estrada de ferro para servir
aos vinte mil habitantes da nova terra do cacau. A civilização entrava pelas
rodas das locomotivas, com aplausos de muitos e restrições de poucos. Esses
poucos diziam: “Eu é que não vou trocar o meu cavalo bom por este cavalo de
ferro”.
Tertuliano
Guedes de Pinho externava a sua opinião favorável, elogiava os ingleses, donos
da estrada de ferro, sem pronunciar-lhe os nomes porque não acertava, não fazia
como o Tourinho da farmácia, metido a letrado, e que dizia tudo errado, como
Paulino Vieira que denominava a estrada do “Bento Berilo” e desses “ingrêses”.
Havia
opiniões contrárias à estrada de ferro. Henrique Félix e José de Aguiar eram
formalmente adversários do trem de ferro,
que chamavam de invenção da “peste”. Da “peste” porque, pela estrada a
polícia chegaria com mais facilidade e eles se dedicavam ao cangaço, possuíam
jagunços, tomavam empreitadas, as mais desgraçadas, e temiam a polícia.
No rio
Cachoeira, uma criança pescava quando ouviu um rapaz dizer a uma moça: - Você
gosta de mim? E a moça respondeu: - Gosto, sim. E combinaram para fugir no
trem, no dia imediato.
Realmente,
foi aquele o primeiro casal que fugiu no trem de ferro da antiga Tabocas
embalado por um amor do pecado e correndo das perseguições paternas. Ele era
palhaço de circo, ela uma moça da sociedade.
Ao saber da
notícia, Henrique Félix exclamou: “Eu não disse que esta estrada só serve para
fazer o mal?” – com o que concordou o seu comparsa amigo José de Aguiar.
(TERRAS DE ITABUNA)
Carlos Pereira Filho
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