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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

TERRAS DE ITABUNA: O Rio Cachoeira

O Rio Cachoeira


          Os animais suados baixaram a cabeça e começaram a beber água do rio.      
          - Este é o velho rio Cachoeira.
          - Sim, companheiro, este é o rio Cachoeira. Há dez anos, Há vinte anos, há trinta anos, há muitos anos mesmo, o conheço correndo em busca de Itabuna, em procura, depois, de Ilhéus e do mar, onde ele desaparece. Tudo por esta Ferradas mudou. Onde está a casa da fazenda de Porfírio Ribeiro, a casa comercial de Arquimedes Amazonas, de Antonio Olímpio, do velho Botelho, de Antonio Pereira?
          - Trabalhei a estes homens, quando eles eram, ainda, pobres. Hoje são ricos, e Antonio Pereira já morreu.
          - Mas, companheiro, o rio também, lá em cima, em Itapé, mudou de nome. De lá, em diante, ele é conhecido, de um lado, como o rio Colônia e do outro como o rio Salgado. Assim também  é a vida da gente. Na mocidade, uma coisa, na velhice, outra coisa. Na mocidade a gente tem o corpo quente e as ideias fervilhantes, na velhice, o corpo começa a esfriar e as ideias também.
          - Conhece, você, companheiro, a história de Tabocas, que hoje é Itabuna. Conhece a vida de Firmino Alves, de Militão Oliveira, de Henrique Alves, de Gileno Amado, desses homens que descobriram e ajudarem a construir este município?
          Há tanta coisa na luta da vida dessa gente, que dá uma história, uma história das mais encantadoras das terras brasileiras, destas bandas do cacau.
          Mas deixemos isto para o lado. Vou narrar-lhe primeiro a de Ferradas, que estamos chegando, onde Frei Ludovico de Liorne fincou a cruz de Jesus, na obra da catequese dos índios, para, depois, os brancos desbravadores plantarem a civilização que cresceu nestas paragens e, agora, começa e regredir no povoado, como este rio, que principia a secar batido pelo sol e sacrificado pelas derrubadas das matas dos criadores de gado do Colônia.
          Já é tarde, companheiro, vamos apear ali, adiante, na rancharia, e passar a noite matando pulgas e conversando para passar o tempo...

(Capítulo I do livro TERRAS de ITABUNA)

Carlos Pereira Filho

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