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quinta-feira, 20 de junho de 2019

EVOLUÇÃO DE ITABUNA – Carlos Pereira Filho



              Muitas vezes Carlos Sousa conversava na farmácia com o Dr. Nilo de Santana, sobre o desenvolvimento extraordinário do município.

            Sem ajuda oficial, perturbado pela ação da política, pelos choques de ambições, que resultavam em assassinatos, assim mesmo crescia, se multiplicava em riquezas, se desdobrava em frente de trabalho. Principalmente depois das ligações rodoviárias o movimento se agigantava, o comércio aumentava, as pequenas indústrias se fixavam, os estabelecimentos de crédito cresciam, os lavradores possuíam uma mentalidade mais evoluída e tinham consciência do que se chamava solidariedade de classe.

            Mais de dez mil casas enchiam a cidade e a população não passava de noventa e seis mil habitantes, no município.

            Nas matas tudo estava povoado e cultivado. Ele, Carlos Sousa, na sua profissão havia percorrido a área do município. Conhecia a zona pecuária do Salgado e do Colônia, até a Fartura. Conhecia a zona do cacau de Jussari de Buerarema de Mutuns, de Ribeirão da Lama, do Boqueirão. Não existia nessa superfície territorial de 2731 quilômetros quadrados um palmo de terra ruim, inaproveitável. Onde acabava o cacau principiava o gado. A mentalidade de todo o cidadão era produzir e enriquecer.

            Havia o sentido de crescer e evoluir. Os “coronéis” ricos mandavam os filhos para as academias se ilustrarem. Não queriam que os filhos ficassem ignorantes como eles, que mal assinavam o nome. Nesse passo o município iria longe, muito longe, em civilização, em riqueza, em independência econômica. O cacau dava para tudo, pagava tudo, cobria as despesas e ainda sobrava algum dinheiro. O delegado Reinaldo Sepúlveda estava fazendo uma campanha muito grande contra o banditismo. Rolava a história do crime de Antônio Capenga, ligada à história do crime de José Luís, da Avenida Itabuna, na cidade de Ilhéus.

            Antônio Capenga tinha empreitado a eliminação de Garangau, seu filho de criação, que, por sua vez, empreitara um crime monstruoso, a mando de um fazendeiro de cacau, para se apoderar da propriedade de José Luiz, seu vizinho.

            Contava a imprensa que os contratados para o crime foram eliminados para não ficar uma pista.

            Um deles tomou uma sopa envenenada e morreu. Outro tomou um tiro e caiu fulminado. O último, Garangau, quando dormia tranquilo havia sido enforcado pelo pai de criação. E, por sua vez, o pai de criação, Antônio Capenga, desapareceu abatido a tiros e machadadas.

            A polícia estava atordoada.O doutor Reinaldo Sepúlveda junto ao regional de ilhéus, doutor Almir Brandão pinto, se esforçavam para descobrir o mistério que envolve tantas mortes, porém debalde.

            Chegaram a prender fazendeiros como Porfirio Ribeiro e tentaram um processo contra Otoniel Lima, mas não conseguiram coisa alguma.

            Esse Otoniel Lima era um homem forte, de uma natureza brava como as selvas do cacau. Nada o abalava, nem o demovia. Não tinha medo de coisa alguma, nem de polícia, nem de ameaças, nem de outro homem. Carlos Sousa gostava dele, pela lealdade e linha de conduta.

            Quando gostava, não via culpa nem crime nos amigos. Quando não gostava, era capaz de mandar matar, ou de matar pessoalmente.

            Que lhe importava que dissessem ser o autor de tantas mortes se não provavam coisa alguma?

            E não provaram nada, o processo rolou, foi para o tribunal e este mandou arquivá-lo e dele saiu inocente o acusado.

            Nessa época, a guerra europeia continuava acesa EO povo esqueceu os crimes cometidos. As forças aliadas se preparavam para o desembarque nas costas da França invadida e dominada.

            Quando o País entrou em guerra, os itabunenses se levantaram com o Brasil. Então, quando os navios foram torpedeados, os populares se revoltaram e prenderam os súditos do Eixo, invadindo e depredando a residência de dois alemães construtores, nazistas de primeira água.

            Até Emílio Niela, brasileiro nascido em Jequié, estava ameaçado de ser preso. A firma inglesa na qual era empregado havia muitos anos, aproveitou a oportunidade e o denunciou como italiano, porque assim se livraria do funcionário sem indenização.

            Niela provou que era brasileiro dos mais legítimos e continuou a desfrutar a sua liberdade, levando os exploradores ingleses a pagarem a sua indenização.

            Também esses ingleses eram conhecidos como os mais ferrenhos exploradores da lavoura cacaueira. Verdadeiros especuladores, que agiam no município como sugadores da economia. O chefe era um inglês, que morava nem Londres, e vivia dos lucros dos colonos brasileiros. Nunca havia plantado um pé de cacau e colhia sessenta mil arrobas, nas fazendas tomadas aos cultivadores de cacau. Para isso, atraía o lavrador como freguês, financiava-o, tratava-o bem, e quando surgia uma crise, executava a dívida e arrematava a propriedade em leilão público.

            Uns ladrões amparados pela lei e pelas libras inglesas. Só mesmo um país sem governo concordava com semelhantes espoliações em massa.

            Niela nunca mais poupou os ingleses imperialistas, que a guerra teve a virtude de enfraquecer economicamente e politicamente. Tanto assim que as cartas de Londres anunciavam que o chefe da firma havia perdido tudo com a conflagração. Não fossem as fazendas de cacau, estaria ele reduzido à miséria. O que possuía na Inglaterra a guerra devorou, destruiu, liquidou, como os inúmeros lavradores que caíram nas garras da sua firma.


(TERRAS DE ITABUNA – CAPÍTULO XXVII)
Carlos Pereira Filho  

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