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terça-feira, 23 de abril de 2019

LATIM E PORTUGUÊS Por Odilon Pinto



            Até 1759, as escolas brasileiras, sob o domínio dos jesuítas, só usavam o português na alfabetização. No resto do ensino, era estudada apenas a gramática latina.

            Foi então que, nas “Instruções para os professores de Gramática Latina, Grega, Hebraica e de Retórica”, o Marquês de Pombal ordenou o ensino de gramática normativa da língua portuguesa. Nessa época, Antônio José dos Reis Lobato conseguiu, de D. José I e de Pombal, que sua “Arte da Grammática da Língua Portugueza”, editada em Lisboa no ano de 1770, fosse a única gramática a ser usada nas escolas, o que lhe trouxe considerável ganho financeiro.

            Por isso, Lobato, na introdução da sua gramática, elogia o rei de Portugal, como o “Restaurador das Letras arruinadas quase por dous séculos nos seus vastos domínios”, dizendo que eles deram  à Nação Portuguesa “a grande glória de ser a primeira” a imitar “a sábia política Romana, em mandar ensinar à mocidade a Gramática da Língua natural”.

            Vemos, portanto, que o lucro de editoras e autores didáticos normativistas, com a venda de livros didáticos e de gramáticas pedagógicas, já vem de longe.

            Ainda hoje o governo brasileiro, concede, não a exclusividade dada a Lobato, mas a preferência por certos livros didáticos, através da sua classificação “estrelada”.

            Ao mesmo tempo, nos PCN, critica o uso desses livros em sala de aula e sugere que os professores os substituam por projetos pedagógicos e textos correntes na sociedade.

            O ensino de gramática normativa só tem um relativo sucesso com alunos das classes média e alta, na escola particular. Com alunos das classes populares, na escola pública, tem sido um fracasso. Nos dois casos, no entanto, é um ensino inútil.

                                                           DIÁRIO BAHIA, 25/09/2018

Odilon Pinto Mestre e doutor em linguística, pela Universidade Federal da Bahia. Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC. Membro da Academia Grapiúna de Letras- AGRAL.

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