22/03/2019
Conta a fábula que uma grande comunidade de ratos vivia
tranquila e se reproduzia rapidamente num velho armazém. Por mais que seu
proprietário tentasse envenená-los, não conseguia. Ratoeiras? Nem pensar,
cardápio diferente... Era melhor continuarem nos grãos. Até que cansando, o
dono do depósito resolveu botar um gato. Na primeira noite, três vítimas.
Durante o dia ou a qualquer hora, o gato atento, mesmo dispensando refeição
extra, matava-os por instinto predatório. Em uma semana, as baixas foram
grandes. Os ratos acuados se reuniram para discutir o destino da comunidade.
Surgiu a ideia de botar um chocalho no gato, pois ao andar, com o som do
chocalho, eles localizariam onde estava o bichano. Todos concordaram. Então
veio a pergunta irrespondível: quem vai botar o chocalho no gato? Não apareceu
o voluntário.
No sábado (17.03.2019), um dia antes de o presidente Bolsonaro viajar para os
Estados Unidos, o irreverente Rodrigo Maia convidou-o para um churrasco íntimo
em sua casa, onde discutiriam “minúcias” sobre a reforma da Previdência. No encontro,
apenas ele, o ministro Onyx Lorenzoni e o convidado (Jair Bolsonaro).
Desconfiado da cortesia e conhecedor da “malandragem carioca”, o presidente
foi. Mas, levou consigo 17 convidados. Dentre eles, alguns generais, o ministro
Heleno do Gabinete de Segurança Institucional. Para surpresa de todos, quem
estava lá era o Ministro Dias Toffoli, presidente do STF, David Alcolumbre
(presidente do Senado) e seu ex-ministro da Casa Civil, Gustavo Bebianno (?).
A ousadia do destemido Rodrigo Maia, pressionado e instigado pelo famigerado “centrão”, é de um afoito inominável. Ao lado de David Alcolumbre – presidente do Senado - “armaram” para tentar botar o chocalho no gato (Bolsonaro). Mas, para o bem geral da nação, o ímpeto foi abortado pelo excesso de testemunhas. A partir da “cabeça” do ministro Sérgio Moro, ocupação de cargos estratégicos (com dinheiro) pelo centrão; barrar pedidos de impeachment de ministros do STF; impedir instalação da lava-toga e fim da lava-jato, tudo seria discutido e pleiteado. Um registro fotográfico discreto seria providenciado, e espalhado nas redes sociais, fato que geraria suspeitas no eleitorado de Bolsonaro e em toda a sua equipe de abnegados da causa de mudar o país. A foto ainda foi feita e divulgada. Mas, não conseguiram esconder o Gen. Heleno, delegado Waldir, ministra Damares...
O “centrão” é um movimento de deputados federais suprapartidário, que surgiu das cinzas do “baixo clero” - aglomerado de parlamentares espertos - que elegeram em 2005 o pernambucano Severino Cavalcanti para presidência da câmara, uma candidatura avulsa, derrotando o pretendente do governo (PT) e adversários lançados por composições das grandes legendas de então, PMDB, PFL; PDT; PTB... Severino Cavalcanti durou pouco mais de 07 meses como presidente. Em manobras para abortar o mensalão, fazendo todo tipo de negociação espúria e trancando a pauta com o apoio da gang que o cercava, foi alvo do MPF em investigação destinada, onde descobriram um “mensalinho” pago a ele pelo concessionário que explorava os serviços de restaurante da câmara. Temendo ser cassado, renunciou à presidência e seu mandato.
A tática do centrão é levar o governo de plantão ao desgaste. Na medida em que
o governo se impopulariza, cresce o centrão, passando a ocupar a esplanada dos
ministérios e negociando pessoalmente (deputado por deputado) votos para
projetos que tragam benefícios diretos para o povo e o governo brasileiro. De
bolsos cheios, renovam seus mandatos com folgas. Até as eleições de 2014, os
campões de votos por estado, eram todos do centrão. O “baque” veio em 2018.
Mas, com o aprofundamento da crise, a pressão do centrão empurra o presidente
da câmara para chantagear o executivo até que ele ceda. O destempero do
presidente Rodrigo Maia não é por acaso. Já disse que “a câmara não é cartório
para registrar queixas do povo” (?). Depois disparou com outra: “a câmara e
seus deputados são soberanos...” Um internauta respondeu que “soberano” não se
elege, já nasce soberano. O povo vota em representantes. Quarta-feira (20.03.2019)
foi a vez de agredir e humilhar um dos nomes mais respeitados do país, o Juiz
Sérgio Moro. “Ele é funcionário de Jair Bolsonaro... Está trocando as bolas, eu
converso com o presidente”. Ontem, quinta-feira, veio a prisão de seu sogro,
ex-governador do Rio Moreira Franco. Seus comparsas quiseram atribuir a uma
retaliação corporativa do Juiz Marcelo Bretas, em defesa de Sérgio Moro.
Rodrigo Maia conferiu que o mandado de prisão foi expedido um dia antes
19.03.2019.
Queiram ou não, para aprovar a reforma da Previdência,
Bolsonaro terá que botar um “gato” (PF e lava-jato) na câmara. E Rodrigo Maia,
se tiver juízo, renuncia imediatamente a presidência e seu mandato. Imagine se
na busca e apreensão na casa de seu sogro, a PF tiver encontrado algo como
“doação de campanha não declarada”?
Júnior Gurgel
Jornalista político e memorialista
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário