A Ideia
De onde ela vem? De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
Num mulambo da língua paralítica!
(AUGUSTO DOS ANJOS – Coleção NOSSOS CLÁSSICOS: AUGUSTO DOS ANJOS – POESIA, Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960.)
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UM POETA “SUI-GENERIS”
AUGUSTO DE
CARVALHO RODRIGUES DOS ANJOS nasceu na Paraíba, em 1884. Formado em Direito (Recife), não
exerceu a advocacia, tendo-se dedicado ao ensino da Literatura. Em 1910,
mudou-se para o Rio de Janeiro e daí, tuberculoso e neurótico, transferiu-se
para Leopoldina, MG, onde faleceu em 1914.
Augusto
dos Anjos é um poeta “sui-generis”: sua poesia não encontra classificação
dentro das escolas estudadas. Deixou um único livro – “EU E OUTRAS POESIAS”, de
um estilo mesclado de forte realismo, pessimismo doentio e linguagem
científica.
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