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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

ITABUNA CENTENÁRIA UM SONETO: As Pombas - Raimundo Correia

As Pombas


Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... Mais outra... Enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada.

E à tarde, quando a rígida nortada,
Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...


RAIMUNDO CORREIA 
ANTOLOGIA NACIONAL,
de Fausto Barreto e Carlos de Laet, 31ª ed.,
Livraria Francisco Alves, 
São Paulo, 1954.
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RAIMUNDO DA MOTA AZEVEDO CORREIA nasceu em 1859, a bordo de um navio, em águas do Maranhão. Formou-se em Direito pela Faculdade de São Paulo e exerceu a magistratura, tendo sido promotor e juiz. Era, em tudo, de escrupulosa honestidade e retidão. Faleceu em Paris, em 1911.
            Era um introvertido, uma alma inquieta e torturada pelo sentido transitório e doloroso da vida; daí o travo de amargo pessimismo que sentimos nos seus poemas.
            Mas, a par desse traço característico da poesia do poeta juiz, avulta um inigualável colorido descritivo, que mais se acentua diante da melancolia e dos aspectos fugitivos da paisagem.
            Raimundo Correia, que escreveu alguns dos sonetos mais belos da língua portuguesa, figura entre os maiores poetas parnasianos, ao lado de Olavo Bilac, com o qual irmanou-se no culto da forma perfeita.
            Sua obra poética resume-se nos seguintes livros: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias (1882), Versos e Versões (1887), Aleluias (1891) e Poesias (1898).
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Raimundo Correia foi o fundador da cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e foi sucedido por Osvaldo Cruz.

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