16 de julho de 2018
No século XII, como consequência do estabelecimento do Reino
Latino de Jerusalém, muitos peregrinos da Europa vieram se juntar aos
solitários da santa montanha do Carmelo [foto abaixo], na Palestina,
aumentando-lhes assim o número. Pareceu bom dar à sua vida, até então mais
eremítica que conventual, uma forma que fosse mais de acordo com os hábitos
ocidentais. Foi quando o Legado Aimeric Malafaida, Patriarca de Antioquia, os
reuniu em uma comunidade sob a autoridade de São Bertoldo, a quem foi dado pela
primeira vez o título de Prior Geral. Santo Alberto, Patriarca de Jerusalém e
igualmente Legado Apostólico, completou, nos primeiros anos do século seguinte,
a obra de Aimeric, concedendo uma Regra fixa à Ordem, que começou a se expandir
em Chipre, na Sicília e nos países de além-mar, favorecida pelos príncipes e
pelos cavaleiros, de volta da Terra Santa.
Logo depois, tendo Deus abandonado os cristãos do Oriente
aos castigos merecidos por suas faltas, tornaram-se tais — nesse século de
adversidades para a Palestina — as represálias dos sarracenos vitoriosos, que
uma assembleia geral, realizada no Monte Carmelo, sob os auspícios de Alain le
Breton, decretou a emigração total dos religiosos, não deixando para cuidar do
berço da Ordem senão alguns poucos sedentos de martírio. No preciso momento em
que ela se extinguia no Oriente (1245), Simão Stock foi eleito Geral, no
primeiro Capítulo do Ocidente, reunido em Aylesford, na Inglaterra.
Na noite do dia 15 para 16 de julho do ano de 1251, a
graciosa Soberana do Carmelo confirmava a seus filhos, por um sinal externo, o
direito de cidadania que Ela lhes havia obtido nas novas regiões para as quais
os havia conduzido seu êxodo. Senhora e Mãe de toda a Ordem religiosa, Ela lhes
conferia de suas próprias e augustas mãos o escapulário, parte do vestuário que
caracteriza a maior e mais antiga das famílias religiosas do Ocidente. São
Simão Stock, no momento em que recebia da Mãe de Deus essa insígnia [representação
na pintura abaixo], enobrecendo-a ainda pelo contato de seus dedos sagrados,
ouviu a própria Virgem Santíssima dizer: “Todo aquele que morrer dentro
deste hábito não sofrerá de maneira nenhuma as chamas eternas”.
A Rainha dos Santos manifestou-se posteriormente a Jacques
d’Euze, que o mundo iria saudar em breve como novo Papa sob o nome de João
XXII. Anunciava-lhe Ela sua próxima elevação ao sumo pontificado, e, ao mesmo
tempo, recomendava-lhe publicar o privilégio de uma pronta libertação do
purgatório, que Ela havia obtido de seu divino Filho para seus filhos do
Carmelo: “Eu, sua Mãe, descerei por misericórdia até eles, no sábado que
se seguir à sua morte, e a todos que encontrar no purgatório livrá-los-ei e
levá-los-ei à montanha da eterna vida”. São as próprias palavras de Nossa
Senhora, citadas por João XXII na bula em que ele disto deu testemunho, e que
foi chamada Sabatina em razão do dia designado pela gloriosa libertadora, no
qual Ela exerceria o misericordioso privilégio.
A munificência de Maria, a piedosa gratidão de seus filhos
pela hospitalidade que lhes dava o Ocidente, a autoridade, enfim, dos
sucessores de Pedro, tornaram logo essas riquezas espirituais acessíveis a todo
o povo cristão, pela instituição da Confraria do Santo Escapulário, que faz
seus membros participarem dos méritos e privilégios de toda a Ordem do Carmo.
Quando o Papa Bento XIII, no século XVIII, estendeu a festa
do dia 16 de julho para a Igreja inteira, ele, por assim dizer, nada mais fez
do que consagrar oficialmente a universalidade do fato de que o culto da Rainha
do Carmelo havia conquistado quase todas as latitudes do orbe.
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Prosper Guéranger, L’Année Liturgique – Le temps après la
Pentecôte, Maison Alfred Mame et Fils, Tours, 1922, tomo IV, excertos das pp.
149-153.
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