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quarta-feira, 23 de maio de 2018

PHILIP ROTH, ESCRITOR AMERICANO, MORRE AOS 85 ANOS NOS ESTADOS UNIDOS


Vencedor do prêmio Pulitzer, premiado autor de 'O complexo de Portnoy' é considerado um dos maiores autores do século XX.
Por G1
23/05/2018

O escritor Philip Roth durante entrevista em março de 1993 (Foto: Arquivo / AP Photo )



            O escritor americano Philip Roth, um dos ícones da literatura dos Estados Unidos do século XX, morreu nesta terça-feira (22), aos 85 anos.

O premiado romancista, autor de de mais de 30 livros, morreu em um hospital em Nova York de insuficiência cardíaca, informou o seu agente literário, Andrew Wylie.

Roth conquistou praticamente todos os prêmios literários relevantes em mais de 60 anos de carreira. Morreu, no entanto, sem o Prêmio Nobel de Literatura, para o qual foi considerado favorito em diversas ocasiões.


Nascido em 1933 na cidade de Newark, Nova Jersey, em uma família judaica, Roth teve sua obra associada a esta comunidade.
Muitos de seus romances refletem as questões de identidade dos judeus dos EUA, o que o vincula a outros autores como Saul Bellow, laureado com o Nobel de Literatura de 1976, e Bernard Malamud.

Roth era ateu e se considerava antirreligioso. Seus relatos provocadores sobre a moral pequeno burguesa judaico-americana, sátiras políticas, reflexões sobre o peso da história, ou mais recentemente sobre o envelhecimento, ficam com frequência na fronteira entre a autobiografia e a ficção.

"Escrevo ficção e me dizem que é autobiografia. Escrevo autobiografia e me dizem que é ficção. Então, como sou tão bobo e eles tão espertos, deixem que eles decidam o que é e o que não é", afirmou.

Ele é conhecido sobretudo por seus romances, embora também tenha escrito contos e ensaios. É dono de um estilo realista, direto e irônico. Parte da sua obra explora a natureza do desejo sexual e a autocompreensão.

A marca registrada da sua ficção é o monólogo íntimo "O complexo de Portnoy", livro que lhe rendeu fama mundial. Nele, o jovem protagonista fala ao seu psicanalista, sem qualquer reserva, sobre a sua obsessão pela masturbação e o relacionamento com a mãe possessiva, os Estados Unidos e o judaísmo.

"Fico feliz de escrever sobre sexo. Um tema extenso! Mas a maioria das coisas que conto em meus livros nunca aconteceram. No entanto, são necessários alguns elementos de realidade para começar a inventar", disse anos depois.

Representantes da comunidade judaica consideraram que o romance estava impregnado de antissemitismo. Outros enxergaram pura e simplesmente pornografia. Mas o fato é que ele mudou a cara da literatura norte-americana, derrubando barreiras entre a comédia e a alta literatura.

Nos últimos anos, Roth se virou para uma crise existencial e sexual de média idade, sem nunca abandonar o seu compromisso de explorar a vergonha, o constrangimento e outras culpas secretas do ser humano, ainda que sempre com uma dose de humor.

Pouco antes de morrer, o escritor se dedicava à produção da sua biografia, que está sendo escrita por Blake Bailey.

Além do "Complexo de Portnoy", entre as suas obras mais conhecidas, estão a coleção de contos “Goodbye, Columbus” (1959) e a trilogia americana, publicada na década de 1990, composta por “Pastoral americana” (1997), “Casei com um comunista” (1998) e “A marca humana”.

Morre, aos 85 anos, em Nova York, Philip Roth

No Brasil, a maior parte da obra é editada pela Companhia das Letras.

Alguns dos livros de Roth traduzidos para o português:

"Adeus, Columbus" (1959)
"O Complexo de Portnoy" (1969)
"O professor de desejo" (1977)
"Diário de uma ilusão" (1979); publicado pela Círculo do Livro, mas esgotado
"Zuckerman Acorrentado" (1981)
"O avesso da vida" (1986)
"Os fatos" (1988); autobiografia
"Patrimônio" (1991); relato biográfico do pai
"Operação Shylock" (1993)
"Teatro de Sabath" (1995)
"Pastoral americana" (1997)
"Casei com um comunista" (1998)
"A marca humana" (2000)
"O animal agonizante" (2001)
"Entre nós" (2001)
"Complô contra a América" (2004)
"Homem comum" (2006)
"Fantasma sai de cena" (2007)
"Indignação" (2008)
"A humilhação" (2009)
"Nêmesis" (2010)
"Nêmesis" (2010) foi o último romance publicado pelo escritor, que vivia entre seu apartamento no Upper East Side de Nova York e uma casa em Connecticut.
Em 2017, ele publicou "Why Write" (sem tradução em português), uma coleção de ensaios e trabalhos não-ficcionais escritos entre 1960 e 2013.
Roth é o único autor americano a ter suas obras completas publicadas em vida pela Library of America, que tem como missão editorial preservar as obras consideradas como parte da herança cultural americana.

Aposentadoria

Depois de mais de meio século de uma carreira que o tornou famoso em todo o mundo, em 2012 o autor anunciou que não tinha "mais nada para escrever".
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"Não tenho mais energia suficiente para suportar a frustração. A escrita é frustração, uma frustração cotidiana, para não dizer humilhação", declarou ao 'New York Times'.

"Não posso mais enfrentar os dias em que escrevo cinco páginas e jogo fora", completou Roth, que escrevia de pé desde que percebeu que andar de um lado para o outro liberava sua mente.
Em agosto de 2017, ele voltou a explicar a decisão ao jornal francês "Libération":

"Contar histórias, isto que foi tão precioso durante toda minha existência, já não é o centro da minha vida. É estranho. Nunca imaginei que algo assim poderia acontecer".

Vida familiar e acadêmica

Philip Roth era filho de um vendedor de seguros e pertencia à segunda geração de uma família judaica que emigrou da região europeia de Galícia (Polônia/Ucrânia).

Formou-se pela Universidade Bucknell (Pensilvânia) e obteve o pós-graduação em literatura inglesa pela Universidade de Chicago, onde atuou como professor de escrita criativa. Também lecionou nas universidades de Iowa, Pensilvânia e Princeton (Nova Jersey).

Ele largou o programa de doutorado em 1959 para escrever críticas de filmes para a revista "New Republic" antes de publicar “Adeus, Columbus”.

Roth ensinou literatura comparativa na Universidade da Pensilvânia. Ele se aposentou da carreira de professor em 1992, quando o sucesso editorial era tão grande que teve que se dedicar integralmente à carreira de escritor. Suas obras eram sempre alvo de escândalo e impacto na sociedade americana.

Foi casado duas vezes. A primeira com Margaret Martinson (1959-1963), que morreu em 1968, em um acidente de carro. A segunda com a atriz inglesa Claire Bloom, da qual se divorciou em 1994 após um casamento turbulento. Ela se sentiu traída ao ler o manuscrito de "Engano" (1990), que continha uma mulher de meia-idade entediada chamada Claire, casada com um escritor adúltero chamado Philip.

Principais prêmios

Philip Roth recebe em 2010 do então presidente dos EUA, Barack Obama, a Medalha Nacional de Humanidades (Foto: Mark Wilson / Getty Images / AFP Photo)

1960: National Book Award, por "Adeus, Columbus"
1987: National Book Critics Circle Award, por "O avesso da vida"
1991: National Book Critics Circle Award, por "Patrimônio"
1994: PEN Faulkner, por "Operação Shylock"
1995: National Book Award, por "O Teatro de Sabbath"
1998: Prêmio Pulitzer de Ficção por “Pastoral americana”
2001: Prêmio Franz Kafka
2001: PEN Faulkner, por "A marca humana"
2006: PEN/Nabokov
2007: PEN Faulkner, por "Homem comum"
2011: Prêmio Internacional Man Booker
2012: Prêmio Príncipe das Astúrias de Literatura


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