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terça-feira, 24 de abril de 2018

LOUQUINHA POR CAPETINHA - Continho de Cyro de Mattos


Louquinha por Capetinha
Continho de  Cyro de Mattos


Quem quiser que prove
Do danado do amor,
Ora é riso, ora é mel,
Ora arde com dor.

          I

               Noivo de outra ele,  prestes a casar.
               Ela nova, amava  o namorado mais que nunca. Louquinha para se entregar a ele mais uma vez. Queria demonstrar que era perfeita, insubstituível. Tentar, quem sabe, fazer com que ele desistisse do casamento.
                                                
        II
               Carro estacionado na garagem. Entram no motel. Esperam viver momentos de amor. Ele chama de molequinha  aquele  montinho de penugem com o seu ponto crítico embebido de fogo, oculto entre lábios que vagalumeiam com  ardor. Ela chama de  capetinha aquele pino enrubescido, num instante incontido de furor. Ela desfila de calcinha preta no quarto de espelhos. Escreve com o batom no espelho da penteadeira: Por Você Faço Tudo.
               Após alguns minutos de louca paixão, ele sai do quarto só de cueca. Grita aterrorizado por socorro. Segura o capetinha, que sangra bastante. A dor é tanta que esquece ter vindo no seu carro. Pede ajuda a um casal jovem que acaba de chegar.
                                              
        III

            -  Por favor, estanque esse sangue, enfermeira, será que arrancou algum pedaço? – chora, grita. Os policiais de plantão na sala da enfermaria do pronto-socorro incrédulos. A enfermeira, nervosa, sem saber o que fazer para acalmá-lo.
                                               
        IV
                         
           Atendido pelo médico plantonista. Menos agitado,  ao saber que o seu insubstituível  capetinha não tinha sido mutilado.
                                      
        V

           A radiopatrulha trouxe a namorada aflita. Aguardava o namorado na sala de recepção, chorando e alegando que não fizera aquilo por maldade.
                                  
        VI
                       
         - Senhor policial, não coloque o incidente no livro de ocorrência, a imprensa vai divulgar; também não quero nada de queixa, nem delegacia, foi minha namorada que começou a beijá-lo, e daí pedi a ela que desse só uma mordidinha, pedi só de brincadeira, só que ela mordeu com tanta força, que veja o que fez, quase  arranca.
                                       
      VII

            Nomes não foram divulgados, nem endereços.
                                
      VIII

            No bairro onde ele mora, já ocorreram várias brigas, bate-bocas, discussões entre  os noivos. As noivas teimam em ver o  ardente  capetinho ali embaixo das pernas do noivo, cujo melhor desempenho é quando se transforma  em fereza, verificando todas elas  se está ou não ferido, como resultado de namoro assanhado com mulher inconsequente, para adotarem as medidas cabíveis, que o caso prontamente exige.
                                   
        IX

           Bom anotar que no hospital os dois se abraçaram e confirmaram a verdade do ocorrido. Alegaram que foi tudo por causa do amor.

       X
     
         Não deixaram de voltar ao motel, agora casados.
                    
     XI

        Cada vez mais felizes.
          


*PS -  Qualquer coincidência do fato com pessoas vivas ou mortas não é mera coincidência . (CM)

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Cyro de Mattos - Escritor e poeta. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Publicado nos Estados Unidos, Dinamarca, Rússia, Portugal, Espanha, Itália, França e Alemanha. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia. Doutor  Honoris Causa pela  Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC

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