13/abr/2018
FOTO: Marcos Bizzotto
As romarias, os cânticos em seu nome, a louvação às suas
palavras, tudo leva a crer que os adoradores de Lula já o colocaram em um
pedestal de divindade, no qual nenhuma acusação de crime, nenhuma prova ou
evidência pode alcançá-lo. Nem mesmo erros conhecidos, a clamorosa afronta às
instituições, o descaso que demonstrou com a Lei e a ordem, a incitação à baderna
– sugerindo aos seguidores “queimar pneus”, “fazer passeatas” e “ocupações no
campo e na cidade” – serão capazes de denegri-lo. Não para esses fiéis, cegos
na veneração.
Não importa, não tem valor os desmandos, não maculem a
imagem do protetor dos desassistidos – mesmo que ele tenha se locupletado com o
dinheiro alheio, justamente daqueles a quem prometia a salvação. É perjúrio
dizer isso, pecado capital. Bem-aventurados os que creem porque esses seguirão
ao lado do todo-poderoso. O próprio Lula, como diz na pregação que fez de
autorreferência, nos momentos derradeiros do martírio rumo ao calabouço,
descortinou o caminho da fé: “eu não sou mais um ser humano, sou uma ideia”.
Talvez o grau etílico
no momento da fala, naquele sábado de paixão petista, tenha contribuído para o
delírio. Mas há de se supor que Lula acredita na própria profecia. A ascensão
do mundo dos mortais à esfera dos deuses se dá com a sagração de seus
apóstolos.
Cada um deles,
congressistas de carteirinha, tratou logo de pedir à plenária daquela casa de
tolerância a inclusão da menção “Lula” em seus respectivos nomes parlamentares.
Assim Gleisi “Lula” Hoffmann, Paulo “Lula” Pimenta e quetais, da noite para o
dia, devotaram sua existência política ao redentor. Eis a mensagem da fé! Aleluia
ao Senhor. Seria cômico, não fosse triste. O Partido dos Trabalhadores agoniza
engolfado pelo devaneio. Deixou de lado programas, bandeiras, a própria
essência ideológica que dava corpo à agremiação, para virar seita. Tal qual a
de reverendos suicidas que conclamam incautos para a reclusão e o fim trágico
coletivo em nome de uma crença. A cúria petista, nos dias que se seguiram a
prisão de seu líder maior, arrastou uma patológica massa de romeiros para
Curitiba, sede da masmorra/recanto de seu mentor, e ali fincou acampamento,
revezou hordas de peregrinos nos gritos de saudação “bom dia, Lula”, “boa
noite, Lula” e maquinou a ressurreição do demiurgo. Levou governadores
partidários para visitas improváveis, articulou comissões no Senado para a
averiguação das condições da cadeia, promoveu algazarra e violência a intimidar
os locais. Em suma, rezou conforme a cartilha de insanidades do lulopetismo. No
enredo do calvário que culminou com a rendição midiática o ingrediente das
vaias e fogos a comemorar o feito da Justiça não poderia faltar. Lula aquiesceu
na última das quedas de sua paixão, em pleno heliporto da atual morada.
Horas
antes, do palanque improvisado em um carro de som, como numa missa de corpo
presente, exibiu-se à imagem e semelhança de um cadáver político. Dava para
notar no tom soturno de suas imprecações, inconformado com o próprio fim, que
rogava por uma plateia maior que a avistada ali de cima. Lula almejava a
reencarnação em “um pedacinho de célula de cada um de vocês”. Pedia a
militância de muitos “lulinhas”, dos “milhões e milhões de Lulas”. Já era o
ente falando. Os exegetas bíblicos deveriam rapidamente rever as encíclicas
para incluir o nome do novo santo. Lula tem certeza de seu direito divino a
figurar nos versículos do livro sagrado. Disse em certa ocasião que “as pessoas
deveriam ler mais a bíblia para não usar tanto meu nome em vão” e cravou a
memorável lembrança de que “não existe uma viva alma mais honesta do que eu”.
A mística do Salvador da Pátria em pessoa deu o tom do
desvario de lá para cá. Não há na política brasileira mais espaço para um
messias oportunista. De mais a mais, as previsões apocalípticas não se
confirmaram. O mundo não acabou com a sua prisão, como ele e a parolagem
petista vaticinaram. Lula é agora apenas um número no Cadastro Nacional de
Presos (CNP). Detento ficha 700004553820. Até ressuscitar vai uma penosa
provação. Aleluia.
Sobre o autor
Carlos José Marques é diretor editorial da Editora Três
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário