16 de Março de 2018
Carlos Eduardo Schaffer
Os jornais vienenses “Die Presse” e “Der Kurier” publicaram
recentemente a seguinte notícia:
“A administração da Universidade de Viena decidiu, ‘por
razões administrativas’, não mais colocar crucifixos nas novas salas de aula da
Faculdade de Teologia Católica. O vice-decano da Faculdade fala de uma
‘interferência e ruptura simbólica com histórico significado’”.
A Faculdade de Teologia Católica é uma das dezenove
faculdades da Universidade de Viena, com a qual foi fundada pelo Duque Albrecht
III em 1384, com a aprovação do Papa Urbano VI.
Se as novas salas da Faculdade de Teologia não terão mais
cruzes, é bem evidente que elas tampouco estarão nas salas onde serão ensinadas
matérias não religiosas.
A Faculdade de Teologia ocupa apenas três salas da
Universidade, nas quais a cruz sempre esteve presente. Contudo, no final do
último semestre, os alunos foram transferidos para outros recintos, pois a
diretoria queria que fossem feitas reformas nas salas. Quando, no inicio do
novo semestre, os alunos voltaram às antigas salas, os crucifixos haviam sido
removidos e não havia autorização para recolocá-los.
Houve reação de professores e alunos, bem como artigos
escritos em jornais católicos, mas a reação foi insuficiente para que as cruzes
voltassem para as salas de aula.
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Vem sendo discutido na universidade se símbolos religiosos
pertencem ou não a recintos públicos, e se nas salas de aula, não só de
teologia, mas também onde assuntos seculares são ensinados, deve ou não haver
crucifixos.
Desde a Idade Media — podemos até mesmo dizer que desde a
sua fundação — a Igreja vem criando estabelecimentos de ensino. Pode-se também
afirmar, com toda certeza, que a existência de universidades tal como nós hoje
as conhecemos, se deve principalmente à Igreja Católica, que desde tempos muito
remotos foi ordenando e difundindo o ensino entre camadas cada vez mais amplas
dos povos convertidos ao Cristianismo. E isso a tal ponto, que hoje, na
maioria, se não em todos os países cristãos, o ensino básico é obrigatório e o
superior amplamente oferecido, o que não acontecia entre os povos pagãos em
geral, onde o maior conhecimento era difundido apenas entre as classes altas.
O próprio nome Universidade surgiu em Bolonha, a
primeira universidade da Europa. A palavra vem da ideia de que o
estabelecimento deveria estudar a universalidade das matérias existentes,
abrangendo todas as ciências.
A Igreja sempre entendeu que o ensino, mesmo de matérias
temporais, deve estar ligado a Ela de alguma forma, pois a história, a
biologia, a física, a química e todas as outras matérias têm seus fundamentos
em verdades metafísicas e religiosas. Como, por exemplo, no campo da pura
matéria, pode-se perguntar se a matéria existiu desde sempre ou se foi criada?
Ela não existiu desde sempre, mas foi criada por Deus.
Vê-se que não pode ter existido desde sempre, pois se
degrada e, degradando-se, tenderia a transformar-se no seu estado mais
primitivo, ou seja, nos seus componentes mais elementares. Só os seres vivos
organizam a matéria em sistemas mais complexos. Por exemplo, as plantas retiram
do solo e do ar substancias inertes e as transformam em tecidos vivos. Os
animais, alimentando-se de plantas, de outros animais e de minerais,
multiplicam-se e assim geram matéria viva.
Deus criou a matéria e os seres vivos, e sustenta a
existência de todos os seres do universo. Se Ele cessasse de manter sua
existência, eles simplesmente cessariam de existir.
Todos esses princípios nos mostram como Deus está presente
em todos os aspectos de nossa vida.
Sua presença deveria ser manifestada
quando, por exemplo, um professor transmite a seus alunos conhecimentos sobre
as coisas da religião, da natureza, ou sobre os homens e sua ciência. Razão pela
qual toda aula bem dada, sobre qualquer matéria que seja — religião, filosofia,
matemática, química ou arte culinária —, deveria ter como pressuposto que Deus
está presente em absolutamente todas as coisas, e que todas elas deveriam ser
tomadas como o melhor meio de conhecer amar e servir a Deus, até mesmo a
culinária.
Para que os alunos possam ter sempre presente que todas as
ciências, até mesmo aquelas aparentemente mais distantes da religião, como a
química, a geografia ou o estudo de uma língua, por exemplo, devem nos conduzir
a um maior conhecimento, amor e serviço de Deus através das coisas criadas ou
elaboradas pelos homens, é altamente conveniente ou mesmo indispensável que
toda sala de aula tenha um crucifixo, uma imagem da Santíssima Virgem ou outro
símbolo religioso que lembre sempre aos alunos a relação da matéria que estudam
com o sagrado. Toda transmissão de conhecimento tem, portanto algo de
religioso.
Nada melhor para lembrá-lo do que ter um crucifixo bem
visível. Na Universidade de Viena isto parece que não será mais assim.
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Der Kurier
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