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sexta-feira, 9 de março de 2018

MÁXIMAS SOBRE O ATO DE ESCREVER - Luiz Caversan

Máximas sobre o ato de escrever  


No começo da carreira, quando tentava de todas as maneiras absorver o máximo possível de tudo aquilo que julgava que um jornalista deveria saber - senso de discernimento, curiosidade, teimosia, espírito crítico, escrúpulo, respeito, humildade e sobretudo capacidade de respeitar a língua e por intermédio dela transmitir ideias -, tive o privilégio de conviver com um gênio do vernáculo.

Ele era copidesque --aquele que dá a forma final ao texto jornalístico-- dos então famosos editoriais do jornal "O Estado de S. Paulo", famosos principalmente por conta da linguagem erudita e da forma apuradíssima. Pois bem, Mário Leônidas Casanova era o responsável pela precisão e erudição daquele pedaço nobre do jornal. E, num tempo em que começava a germinar a transição da máquina de escrever para o computador, ele perpetrava seus textos com uma magnífica caneta Parker. Tinteiro, obviamente.

O homem era uma coisa. "Casanova, a palavra àquele leva crase", perguntava eu com a ignorância e impertinência típica dos focas (jornalistas em começo de carreira). "A crase é muito mais que uma manchinha sobre a letra a", dizia ele, antes de me mandar sentar e pespegar uma aula completa sobre esse acento que pouca gente sabe colocar no lugar certo (eu arrisco dizer que aprendi a usá-lo naquela época...).

Mas uma das máximas do Casanova era: "Meu filho, lauda em branco aceita tudo". Dizia isso para condenar a quantidade de sandices que se escreviam, e que certamente se escrevem até hoje, seja lá qual for a intenção.

Mas por que pensar agora no velho e generoso Casanova, que era, além de tudo, um conhecedor profundo do chorinho, esse gênero musical tão maravilhoso quanto relegado a um injusto esquecimento no cenário da música deste país?

Porque recebi de uma amiga uma lista de máximas sobre a escrita que o faria sorrir por trás daqueles vastos bigodões, como que a afirmar: "É o que sempre digo...".

Esta lista vai agora publicada de bate-pronto, por isso pode eventualmente conter imprecisões, mas corro o risco porque ela é sem dúvida muito interessante.

São descrições do ato de escrever:


"Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias." (Pablo Neruda)

"Escrever é, simplesmente, uma maneira de falar sem que nos interrompam." (Sofocleto)

"É preciso escrever o mais possível como se fala e não falar demais como se escreve." (Sainte-Beuve)

"O ato de escrever é a arte de sentar-se numa cadeira." (Sinclair Lewis)

"Somos todos escritores. Só que uns escrevem, outros não." (José Saramago)

"Escrever é ter coisas para dizer." (Darcy Ribeiro)

"Perdoe-me, senhora, se escrevi carta tão comprida. Não tive tempo de fazê-la curta." (Voltaire)

"Reescrevi 30 vezes o último parágrafo de `Adeus às Armas´ antes de me sentir satisfeito." (Ernest Hemingway)

"Uma história se conta, não se explica." (Jorge Amado)

"Escrevo para que meus amigos me amem ainda mais." (Gabriel García-Márquez)

"Quem não lê não escreve." (Wander Soares)

"Cada um escreve do jeito que respira. Cada um tem seu estilo. Devo minha literatura à asma." (Fabrício Carpinejar)

"Escrever é um ato de liberdade." (Martin Amis)

"Escrever é uma forma de a voz sobreviver à pessoa." (Margaret Atwood)

"De escrever para marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça. Mas para crianças um livro é todo um mundo." (Monteiro Lobato)

"Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer é porque um dos dois é burro." (Mário Quintana)

"Existem três regras para escrever ficção. Infelizmente ninguém sabe quais são elas." (W. Somerset Maugham)

"O autor escreve apenas metade de um livro. A outra metade fica por conta do leitor." (Joseph Conrad)

"Corrigir uma página é fácil, mas escrevê-la, ah, amigo! Isso é difícil." (Jorge Luis Borges)

"Escrever não é fácil ou difícil, mas possível ou impossível." (Camilo José Cela)

"Escrever é deixar uma marca. É impor ao papel em branco um sinal permanente, é capturar um instante em forma de palavra." (Margaret Atwood)

"Eu escrevo como se fosse salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida." (Clarice Lispector)

"Para escrever bem é preciso uma facilidade natural e uma dificuldade adquirida." (Joseph Joubert)

"Escrever não é nada mais senão ter o tempo de dizer: estou morrendo." (Gaëtan Picon)

"Uns escrevem para salvar a humanidade ou incitar lutas de classes, outros para se perpetuar nos manuais de literatura ou conquistar posições e honrarias. Os melhores são os que escrevem pelo prazer de escrever." (Lêdo Ivo)

"Escrever é sacudir o sentido do mundo." (Roland Barthes)

*Reproduzido de http://www1.folha.uol.com.br/


ABAIXO, chamada e imagem publicadas na capa na edição que trouxe este Luiz Caversan ao Tyrannus 
escrever sobre o ato de escrever. Eis o que temos hoje para servir aos internautas visitantes do Tyrannus. De autoria do cara da foto abaixo, experiente jornalista, é a crônica da hora, encorpada por uma lista de frases de diversos escritores a respeito do ofício da escrita. Particularmente, gosto de algo que ouvi no milênio passado, cuja autoria me esqueci: "quem lê muito escreve bem". Claro que acredito nisso assumindo o grave pecado da generalização...

Luiz Caversan é jornalista e sua produção pode ser conferida no endereço http://blogdocaver.com.br/

http://www.tyrannusmelancholicus.com.br/cronicas/8238/maximas-sobre-o-ato-de-escrever

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