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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

ESPIRITISMO – Francisco Benício dos Santos


Espiritismo 

De como me tornei adepto desta consoladora filosofia


            Viajava eu da antiga Tabocas para Bahia, e ao aportar, num domingo, ao atracar do saveiro, que me conduzia da lancha à terra, “ao cais das amarras”, onde hoje está o prédio dos Correios, lá encontrei Pio, espantado pela coincidência de achar-se ele ali, à minha espera.

            Perguntei-lhe depois de estreitá-lo num longo abraço:

            - Que coincidência agradável?!

            - Já lhe esperava, na sessão disseram-me que você vinha ali...

            Trocei. Era lá possível tal coisa?

            Fomos para a república. Lá estavam todos os amigos e fizeram-me ruidosa recepção.

            À noite, fomos passear, como de costume, e ai voltarmos, não consegui conciliar o sono. Passei a noite insone. Sentia que algo mexia com a minha rede, onde repousava.

            No dia seguinte, segunda feira, havia sessão em um grupo, por Pio e Santos frequentado. Convidaram-me, relutei, porém fui.

            O grupo era em Itapagipe, em casa de um ferreiro de nome Antonio, que era médium, de faculdades desenvolvidas.

            As sessões eram presididas pelo próprio Antonio, que acumulava as qualidades de médium e presidente dos trabalhos.

            Fiquei na terceira fila e bem distante da mesa dos trabalhos.

            Aberta a sessão e feitas as preces do ritual, faz-se silêncio e a concentração precisa para a incorporação das entidades do além.

            Acho-me possuído de medo terrível. O coração dá tais pancadas que parece pretender saltar fora da caixa peitoral.

            O médium estremece, toma de um lápis, escreve algo sobre um pedaço de papel pautado e, virando-se para mim, o entrega. Leio: “Deus vos guie e ilumine os vossos passos. Olimpia”.

            Fico petrificado.

            De novo o médium levanta-se, toma posição de tribuno, enrija-se, alça o peito e com ênfase diz:

            Augusto Conte. “As verdades e as mentiras de Augusto Conte”.

            E eloquente, fluente, faz verdadeira conferencia em torno do tema epigrafado.

            Perora brilhantemente, deixando a plateia deslumbrada, e eu espírita convicto.

            Havia recebido o meu batismo de fogo e encontrado a minha estrada de Damasco.

                        À noite, não consegui dormir. A minha mente despertava para pensar melhor e compreender coisas e fatos que mereciam esclarecimentos e estudos.

            Pio já possuía alguns livros doutrinários e filosóficos, de Kardec e Flamarion. Passei dos de Kardec aos de Leon Denis, e quanto mais lia, mais a leitura me atraía e achava gosto em saborear e assimilar os sublimes conceitos, os belíssimos ensinamentos e a pura moral naqueles livros. Com a fé sempre revigorada, com a chegada de Pio e Santos em Itabuna, fizemos sessões em casa de Santos, e,  tempos depois, fundamos um grupo espírita, que tomou o nome de “Deus na Natureza”, cuja presidência foi ocupada por Santos, servindo de médium a sua esposa, dona Rosa.

            Esse grupo proporcionou-nos belas sessões, depois mudaram para a casa onde tenho hoje e depósito da loja. Neste local, adquirimos biblioteca e organizamos a sociedade em molde mais completo, mais amplo.

            Martinho Conceição e Oscar Fontes já faziam parte dele e aí tínhamos sessões de assistência aos necessitados.

            A enchente de 1914 levou a casa, e nós nos mudamos para outra, que tomou nova denominação.

            Martinho fazia parte da diretoria do novo grupo espírita, que se chamava “Perseverança”, até que a mudança de Santos levou Martinho a assumir a presidência  e, finalmente, construir um prédio na praça da Boa Vista, onde tem o citado grupo a sua sede do qual eu e Loura fazemos parte.


(MEMÓRIAS DE CHICO BENÍCIO)
Francisco Benício dos Santos

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