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sábado, 25 de novembro de 2017

CONHECENDO E DISSEMINANDO A MENSAGEM – Clóvis Silveira Góis Júnior

4.1.  A Era dos Colportores


            O primeiro adventista do sétimo dia a pisar em Itabuna foi um colportor! A palavra colportor tem origem no idioma francês colporteur, que significa vendedor ambulante, aquele indivíduo que negocia de porta em porta, através de cidades diversas. O colportor bíblico, portanto, é aquela pessoa que vende ou distribui literatura de origem sagrada. No período da disseminação inicial do Adventismo, o Brasil era uma nação quase totalmente rural ou composta de cidades diminutas que não possuíam livrarias e com agências de correios precárias. Adquirir uma literatura não católica ou mesmo uma Bíblia fora das capitais era tarefa praticamente impossível. Estava criado, portanto, um campo de atuação perfeito para os colportores. As primeiras igrejas protestantes deles se utilizaram largamente para produzir a difusão da fé cristã.

            Eram, em sua maioria, pessoas sem preparo acadêmico e de origem humilde, porém destemidos e com bom conhecimento bíblico. Não eram trabalhadores assalariados, sobreviviam dos ganhos advindos das suas vendas. O lucro acabava sendo pequeno, pois precisavam arcar com despesas de transporte e hospedagem e, o que sobejava, desprendiam para o sustento da família, invariavelmente residentes em locais distantes. O sucesso para eles estava mais diretamente ligado às conversões resultantes da literatura vendida do que propriamente com a receita obtida.

            Durante a primeira fase da implantação do Adventismo no Brasil, os colportores foram decisivos, pois eram os principais obreiros, tendo em vista a insuficiência de pastores ordenados. O termômetro denominacional chamava-se colportagem. Quanto mais literatura era vendida ou distribuída, a liderança de igreja sabia que estava ocorrendo um interesse maior na mensagem e um consequente crescimento numérico de membros. “Entre os líderes adventistas, era considerado praticamente um axioma que a distribuição de literatura denominacional consistia numa pré-condição para o crescimento da Igreja”.

            Os colportores vendiam livros, distribuíam folhetos, davam estudos bíblicos, estabeleciam postos de pregação, faziam conferências bíblicas e formavam congregações. O pastor Clarence Emerson Rentfro, que passou oito anos no Brasil, tendo sido inclusive presidente da Missão Minas Gerais, período em que batizou mais de quatrocentas pessoas, afirmou num Concílio nos Estados Unidos, em 1924, que “os colportores eram os principais  responsáveis pelas conversões.” No mesmo evento, W. H. Williams (tesoureiro da Divisão Sul Americana), corroborando a afirmativa, avaliou que, “dois de cada três membros da União Este Brasileira haviam entrado para a igreja por causa da colportagem”. O evangelismo por literatura foi um fenômeno importantíssimo para o crescimento de igreja no Brasil.

            Possuíam um labutar muito difícil. Locomoviam-se das formas mais inusitadas para chegar ao destino desejado, muitas vezes a pé ou em lombo de mulas ou burros. Às vezes à noite, sob lama intensa ou por locais ermos. Os livros produziam  carregamento de transporte complexo. Eram profundamente pesados, mas ao mesmo tempo frágeis, os quais deviam chegar ao endereço final em boas condições. Isso demandava muito esforço físico e responsabilidade dobrada. Dormiam muitas vezes ao relento, ou em estalagens precárias, não poucas vezes sujeitos às pulgas, percevejos e ácaros, próprio de lugares com poeira e humidade. Sem falar na dificuldade em conseguir alimentação saudável e condizente com os ensinos constantes da literatura que socializavam,

            Outro grande obstáculo, este diretamente ligado ao objeto comercializado, era o analfabetismo. Como oferecer livros a uma população em que poucos sabiam ler? F. W. Spies, um dos primeiros missionários a chegar ao Brasil (1896), retrata a situação com a qual se deparou no final do século XIX: “O povo aqui é pobremente educado, não mais do que 15 por cento da população é capaz de compreender o que lê”.

            A mensagem bíblica adventista teve acesso ao Sul da Bahia, mais precisamente a Itabuna, primeiramente por meio dos colportores evangelistas que passavam rotineiramente por aqui. Há notícias esparsas disso já no ano de 1905. O crescimento rápido da população local, o aumento da circulação de dinheiro advindo do plantio e comercialização do cacau e a proximidade do porto de Ilhéus justificavam a presença deles. Durante o Juízo Milenar, teremos a oportunidade de folhear o Livro Memorial e constatarmos boquiabertos o que fizeram por esta região nomes como Manoel Margarido, Francisco Fernando Lobo Queiroz, Pedro Baptista de Mello, Camillo José Pereira, Joaquim de Souza Porto, Zacharias Martins Rodrigues e Generoso de Oliveira.

(A GÊNESE DO ADVENTISMO GRAPIÚNA Cap. 4.1.)
Clóvis Silveira Góis Júnior

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        Ao começar a ler este livro, “A Gênese do Adventismo Grapiúna”, o leitor é levado a entrar em contato com os fatos históricos relacionados à colonização da região cacaueira e à fundação de Itabuna, para em seguida conhecer os principais acontecimentos e personagens responsáveis pela implementação da igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade.
          Com linguagem simples e acessível, o autor, Clóvis Júnior nos envolve num roteiro fascinante, fruto de um incansável trabalho de pesquisa, que nos permite conhecer toda a trajetória de fé e determinação dos pioneiros, desde o final do século XIX até o ano de 1960, data da inauguração da atual sede central da igreja em Itabuna.

          Graças à iniciativa do autor, a nossa comunidade adventista dispõe agora deste livro-documento, com registros e fotos do início da história do Adventismo na região. Ao término da leitura, certamente o leitor irá compreender porque Itabuna é a cidade do interior com o maior número de adventistas da região Nordeste do Brasil. (1ª orelha do Livro)

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