28 de outubro de 2017
Em sua coluna de hoje, Merval Pereira fala sobre corrupção e
democracia, mostrando como a crença popular no sistema democrático tem sido
abalada pelos constantes casos de corrupção.
Eis um trecho:
A conclusão é que a democracia latino-americana está em
crise, e uma das principais razões é o descrédito dos sistemas políticos, dos
partidos, das lideranças. O Latinobarômetro mostra que 70% dos cidadãos da
região criticaram seus governos por pensarem apenas em seus interesses
individuais e não no bem comum, sendo que no Brasil, esse percentual alcançou
97%.
Não é por acaso, portanto, que a questão da corrupção, a
partir do caso brasileiro, tenha se espraiado pela América Latina, já que o
esquema montado pelo PT nos governos Lula e Dilma exportou para diversos países
chamados “bolivarianos” o mesmo sistema de compra de apoio político com o apoio
da empreiteira Odebrecht.
Esse sistema de corrupção que agora está sendo desvelado,
corroeu os frágeis sistemas democráticos em diversos países da região e fez com
que a descrença na democracia representativa aumentasse nos últimos anos.
Após falar do “capitalismo de estado”, a simbiose nefasta
entre governo e grandes grupos, Merval conclui: “Crise econômica,
desmoralização da classe política pela prática sistemática da corrupção, e
violência urbana são ingredientes que se misturam para desacreditar a
democracia representativa”.
Em sua coluna na Gazeta do Povo, Alexandre Borges, que esteve
recentemente em seminário sobre a operação Mãos Limpas na Itália, fala que mais
leis e prisões não bastam, que é preciso um resgate de valores éticos, e também
a redução do estado, principal causa da corrupção:
A lição mais importante que se pode tirar do alegado
fracasso da megaoperação italiana é que o combate ao crime não pode e não deve
ser baseado apenas em ações penais mas numa mudança estrutural das relações
entre estado e sociedade em que o judiciário é uma parte de um esforço muito
maior de refundação do país em bases mais morais e éticas. Sem o envolvimento e
o apoio direto da população, o remédio não só não vai curar o paciente como ele
acabará pior do que antes do tratamento.
[…]
O combate da corrupção sistêmica, que envolve os principais
escalões do governo e estatais, passa necessariamente por uma diminuição das
garras do estado, a descentralização da administração pública e a devolução do
poder aos estados e municípios. No lugar dos corruptos atuais, não basta
“profissionalizar” o estado, como imaginam certos liberais iludidos e inocentes
que compram a ideia positivista de uma burocracia científica em substituição
aos cleptocratas atuais. Sempre que houver alguém com poder para criar
dificuldades, haverá venda de facilidades. Não adianta trocar a CUT por
ex-alunos de Harvard, é preciso menos estado.
O descrédito com a democracia foi também o tema do nosso
podcast Ideias esta semana. Eu, Borges e Narloch trouxemos pensadores diferentes
para mostrar que o excesso de confiança no estado pode estar por trás dessa
decepção. É preciso ser mais cético, acreditar menos no governo, e reduzir a
esfera da política em nossas vidas, diminuir o escopo do estado:
Debater os limites da própria democracia é uma forma de
salvá-la, não de ser antidemocrático. Falta um debate sério sobre isso em nosso
país.
Rodrigo Constantino
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Economista pela PUC com MBA de Finanças pelo IBMEC,
trabalhou por vários anos no mercado financeiro. É autor de vários livros,
entre eles o best-seller “Esquerda Caviar” e a coletânea “Contra a maré
vermelha”. Contribuiu para veículos como Veja.com, jornal O Globo e Gazeta do
Povo. Preside o Conselho Deliberativo do Instituto Liberal.
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