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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

PAINEL ARTÍSTICO VALIOSO E MALTRATADO – Cyro de Mattos

Painel Artístico Valioso e  Maltratado
                                 
           Cyro de Mattos
         
            Com sua beleza enorme em que se retrata a  história da civilização cacaueira baiana, representada em figuras, símbolos, cenas e paisagens, o painel composto de azulejos, criado pela arte genial de Genaro de Carvalho, que fica no prédio Comendador Firmino Alves, e que alojava o antigo Banco Econômico, entre a avenida do Cinquentenário e a praça Adami, nos idos de 1953, é indiscutivelmente um dos patrimônios artísticos de incalculável valor pertencente ao  município.
  
           Não se concebe como essa obra de arte magnífica esteve entregue à indiferença de prefeitos, secretários de educação e cultura durante décadas, sendo alvo de toda espécie de mazela. Sobre a sua superfície foram pregados  folhetos de propaganda comercial e política,  vários azulejos estavam quebrados ou rachados, outros tantos não mais existiam.  Havia uma banca de jornal e revistas na frente, erguida na rua,  junto ao meio fio, que obstruía sua  visão. Faixas estendidas de um poste ao outro, anunciando algum evento, poluíam a visão do painel montado na parede como um monumento de um povo, além do tempo.

           A recuperação do painel deveu-se  à nossa iniciativa quando exercíamos o cargo de gestor cultural da cidade. Atuou como parceiro desse desafio o Instituto de Patrimônio Artístico e Cultural – IPAC, sediado em Salvador. Houve a intervenção diplomática para a remoção  da banca de revista e jornal, além  do comércio informal de vendedores ambulantes, que com a  exposição de seus produtos, pregados na superfície dos azulejos trabalhados, escondiam, também,  o painel.
Reconhecimento maior deve-se à atuação de Richard Wagner, um mestre da arte em murais, artista com fama mundial. Usou seu talento, paciência, amor, técnica exemplar e material apropriado, adquirido em São Paulo,  para recuperar o painel.
   
        Hoje, passados tantos anos da sua recuperação, o painel sofre os mesmos abandonos de tempos passados. Existem agora, em frente ao painel,  duas  mesas com guarda-sol de praia para proteger óculos e outros produtos vendidos por camelôs.  O gradil, erguido como protetor do painel, serve para que sejam expostos óculos pendurados em mantas para atrair eventuais compradores.  Por trás do gradil, guarda-se bicicleta;   papelão, cadeiras quebradas, jornal velho  e lixo  são jogados dentro.   As faixas, estendidas de um poste a outro,  voltaram com seus anúncios de algum produto novo e barato  para  aumentar a poluição visual sobre o painel. Ó quão amarga é essa agressão a uma peça artística tão valiosa, de inegável valor, do patrimônio de um município onde nasceu Jorge Amado, o autor mais lido da língua portuguesa.
 
          Até quando  vai continuar essa indiferença, deixando o que é belo ao imenso largado ao sabor da sorte?  Só depende de boa vontade das autoridades responsáveis pelo setor para que se reverta o quadro.  Não requer muito esforço a mudança na atitude omissa, apenas uma vigilância atenta,  adicionada a uma política de educação cultural perante a comunidade. Como se diz, antes tarde do que nunca.

        Prefeito, por favor, dê uma chance ao painel artístico, que retrata a civilização do cacau nos tempos áureos,  do esplêndido Genaro de Carvalho.


     
Cyro de Mattos é autor publicado em vários países europeus, Estados Unidos e México. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Itabuna e Academia de Letras de Ilhéus. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

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