Oportunidades não faltavam
Trinta
dias tinham-se passado da visita de Carlos Sousa ao distrito de Ferradas.
Como
andava o arraial em decadência! Ferradas, que em 1856 possuía cacau e café, que
se fundou antes de Tabocas e que teve visitas ilustres, como a de Martius, de
Maximiliano e daquele Guilherme Frederico, Barão Von Den Bussche, estava
parada...
Parou como
vila, acabaria como um simples arraial ou mesmo como uma rua comprida,
acompanhando o rio Cachoeira.
Ferradas
de frei Ludovico não existia mais. Ferradas agora era dos lavradores de cacau,
dos boiadeiros que passavam.
Mas os
cacauais de Ferradas lá estavam belos, frondosos, frutíferos, multiplicando as
rendas em todas as safras, atestando a pujança das suas terras e dos seus
proprietários.
Carlos
Sousa gostou da fazenda que foi correr, na encosta da serra. Uma baixada
magnífica plantada de cacau e um pé de serra de terras colossais. Os cacaueiros
novos e frutíferos, com o tronco preto, Sinal do terreno excelente. A
dificuldade estava em realizar o negócio muito alto para as suas posses. Suas
economias eram pequenas, ganhas na especulação de negócios de cacau, como
intermediário. Um capitalista prontificou-se a emprestar-lhe o dinheiro. Mas o
capitalista exigia juros altos e hipoteca da propriedade. E que capitalista!
Que fama que possuía! Homem frio, sem entranhas. Era preferível não comprar a
fazenda e continuar a dormir o seu sono sossegado. Não faltariam roças para
adquirir, mais baratas, mais longe, lá
para o lado do Ribeirão de Lama, de Una. Era melhor assim do quem cair nas
garras do usurário capitalista. Também, que infeliz era esse capitalista! Vivia
sozinho, isolado, jurado, malquisto, odiado, comia de pensão, vestia mescla,
brim ruim, sapatos ordinários, mas se vingava cobrando juros altos, acionando,
penhorando, espalhando a miséria.
Não
compraria a fazenda, esperaria outra oportunidade. Em Itabuna, na terra do
cacau, as oportunidades não faltavam, se repetiam, apareciam como as chuvas do
seu inverno, diariamente, constantemente, não era como no sertão de Sergipe,
que chovia uma vez por ano, quando chovia.
Até o
padre que tinha chegado pobre, estava rico, fazendeiro, sem fazer esforços, sem
furtar, porque em Itabuna, com as suas terras maravilhosas, seus vales férteis,
seus negócios fáceis, o homem ativo acabaria rico com o cacau, que é um “pé de
dinheiro”.
Em
Sergipe, terra dos seus avós, na Vila Cristina, que dificuldade para um homem
melhorar de sorte! Tinha de roer as unhas, guardar tostão por tostão, e, no
final, amealhar alguma coisa. Em Itabuna era diferente: bastava comprar um
pedaço de terra boa ou uma roça de cacau, e pronto, anos depois, deixava de ser
fulano ou beltrano para ser chamado de “coronel” fulano ou beltrano, patente de
riqueza, de fortuna, de abastança.
Isto é que
era lugar. Não devia ter pressa, “a sua vez chegaria, nas asas de um anjo bom”,
como dizia o anúncio da loja dos irmãos Maron.
(Capítulo IV do livro TERRAS de ITABUNA)
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