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quinta-feira, 30 de março de 2017

PODÃO - Geraldo Maia


Podão

Pra Eglê


No rito do bago melado de azul,
no rastro da barca no horizonte nu
barcaça na caça de fala bem buna
há barca na pele do Rio Cachoeira
rito de poeira e lava da noite
arreganha e goza na ponte
que o mar engole no açoite.

Pode a poda capadócia afrontar o poder do poema?
podão cego sem punho forte pro verso
ou corte o bacanal de bagos nus que o sol perverte
em mel e pó atoa que o poeta voa à margem
do que não seja com o coração.

Pois é, menina, saudades mesmo da terrinha onde cheguei à luz, onde andei catando sonhos nas barcaças, de fazenda em fazenda onde meus pais peregrinaram à cata de sobrevivência nas terras da injustiça sem fim onde o ouro verde escreve com letra rubra a obscura cartilha dos coronéis nos cacauais. O amor por essa terra tem uma carga de doer a memória e vez por outra deixa escapar um sorriso de esperança que faísca na lâmina do facão e na lágrima que o coração escava.

Com certeza, amiga, amo essa terra sofrida de glória podada pela usura dos coronéis que sugaram inutilmente as entranhas do cacau e o sangue das estrovengas, sim amiga, estamos do mesmo lado dessa terra de luz e pedra, aí teci as primeiras palavras da infância, foi em sua beleza selvagem que lavrei os primeiros versos, e nos trilhos das barcaças embarquei para os territórios da saudade nas estradas abertas a sonho e a soluço.

Geraldo Maia


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Geraldo Maia, poeta
Estudou Jornalismo na instituição de ensino PUC-RIO (incompleto)
Estudou na instituição de ensino ESCOLA DE TEATRO DA UFBA
Coordenou Livro, Leitura e literatura na empresa Fundação Pedro Calmon
Trabalha na empresa Folha Notícias,

Filho de Itabuna/BA/BRASIL, reside em Louveira /SP.

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2 comentários:

  1. Beleza, amigo Geraldo Maia! Te agradeço por ter dedicado a mim, tão terna peça literária. Como Itabuna se orgulha de ser mãe de uma pessoa do teu tamanho, amigo! PAZ E BEM!

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  2. Diante do poema vivo que você é, Eglê, esse poema é um improviso de carícia. Grato, abraço e fica com Deus.

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