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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

DUAS "PÉROLAS" DO POETA GERALDO MAIA

Ris, mas é só

Canta a chuva em teus dedos enquanto ouço
o frio do silêncio que roça tua rua e eu
não sei mais ficar sem o solo de tua saliva
sem tua maçã eriçada sem a cantiga de teus
pelos em frente ao azul da espera
tinge o mar de outono e solidão
e só teu porto pode acalmar alma de
vento saciar a sede de horizonte só
teu beijo sem medo de abismo e sem
cor de soluço pode lamber dos olhos
as minúsculas palavras de esquecer e
há em mim um relógio com a gravata
taluda que dança sem asas e nenhum
tango com o estopim desvairado
há minha calma aos berros
um soluço a ferros
há tua queixa de janelas opacas
e tua fome de tempo carícia dentro
e por um momento escuto que ris mas é só
o carteiro bêbado que vomita histórias de
aniversários e outras doses de partir
e então caminho a caminho há carinho
tua sombra parece pétala de fala
fala de perder o que me fazes falta em
meio à chuva sem mais sentido que o
fogo de tua demora mesmo se estás
nua de água em pelo escorre
uma flor de delírio diante de
ti nada em si se traduz ou
tem cheiro de amor vencido
apenas tornar teu sim admissível
e ao chegar por fim tua lua cante para acalmar
o soco da madrugada em sonhos sustenidos
cifras de certas sentinelas açodadas
soldados
sem sentido em celas insignes selam
certas células sibilantes de sol e
alguns signos de malícia

Geraldo Maia

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Gosto

Te gosto com gosto gostoso de goiaba no galho
gosto de gostar de ti sem o sabor de agosto
gosto de tira-gosto de sapoti
gosto do teu rosto em forma de gota
tua pele de puba o abismo do púbis
o mel de tua vulva o volume que abunda
em teu rastro o elástico das mamas
o drástico som de tua gruta
a bruta dança de corpos no encalço
do abraço sem fim nos confins
de teus braços

Geraldo Maia
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Geraldo Maia Santos (Geraldo Maia) - Nasceu em Itabuna (Ba), no dia sete de outubro de 1951. Começou a escrever aos seis anos e ainda se considera um aprendiz repetente da escrita numa sociedade ágrafa com forte ascendência oral. Tem nove livros publicados, seis de poesia (Triste Cantiga de Alguma Terra (esgotado) é seu livro de estréia, em 1978, Kanto de Rua (esgotado) (1986), Em Cantar a Mulher (esgotado) (1996), Sangue e palavra (1998), O chão do meu destino (2000), ÁGUA (2004) (esgotado) e dois de ficção (Atol ou o mar que se perdeu de amor  por um farol (esgotado) (1991) e PUNHAL, prosa de cangaceiro (esgotado) (1992). Todos os livros editados de forma independente, exceto Sangue e Palavra, editado pelo Selo Bahia. E um de cordel: "CORDEL DO MENSALÃO".

Recebeu menção honrosa no concurso de poesia do Banco Capital em 2004 participando da coletânea, Os Outros Poemas de Que Falei, junto com mais seis poetas. É casado com a artista-plástica e  poeta, Márcia Santos, tem três filhos, Pedro Santos, José Flávio Maia Santos e Zag Bertim Maia Santos. 
Ex-aluno de engenharia civil (ufba), jornalismo (puc/rj), é ator, diretor teatral, editor, ambientalista, ecotrofoterapeuta, arte-educador, tendo atuado nos CEUs, em São Paulo, realizando oficinas de poesia e teatro. É um dos fundadores (em janeiro de 1979) do extinto, Movimento Poetas na Praça, que produziu e popularizou a poesia universal através de recitais diários nas praças da cidade, principalmente na Piedade,  nas décadas de oitenta e noventa, reunindo os mais ousados, libertários, criativos e revolucionários poetas da Bahia, a exemplo de Zeca de Magalhães, Ametista Nunes, Antonio Short, Miguel Carneiro, Joelsom Meira, Douglas de Almeida, Eduardo Teles (também biógrafo de Castro Alves), Beto Silva, Gilberto Costa, Gilberto Teixeira, Jairo Rodrigues, César Lisboa, Edésio Lima, Semírames Sé, Margareth Castanheiro, Agenor Campos, Dorival Limoeiro (Dori), "Pica-Pau", e tantos outros que a praça acolheu e escolheu para enfrentar e vencer as trevas da ditadura militar mas que estão excluídos como criadores de literatura, momentaneamente, pelas trevas da intolerância (ditadura) acadêmica. Pertence à Escola Baiana de Poesia.

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