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quinta-feira, 3 de novembro de 2016

JOIA DA PRAINHA - Lei HOJE (29/10/16) no "PENSAR" de A Gazeta

30 ANOS DO MUSEU ATELIER HOMERO MASSENA

Museus que exibem permanentemente suas coleções são instituições contemporâneas. Surgiram na queda da monarquia e na ascensão da burguesia, com o poder mais próximo do povo. Montados como apoio à formação do cidadão, têm importância fundamental na Educação Artística, matéria curricular de todas as escolas do 1º Grau. Entretanto, no Estado, temos apenas um Museu de Artes Plásticas: o modesto, mas substancioso Museu Atelier Homero Massena, em Vila Velha.

Museus nem sempre tiveram vida tranquila. Por conservarem o passado, foram violentamente atacados pelos Futuristas. Marinetti, o autor do “Manifesto Futurista” (1909), delirando ao som das metralhadoras que dizia ser a mais bela sinfonia, propôs desviar o curso do rio Sena para que arrastasse até alto mar as velharias do Museu do Louvre. Se os franceses tivessem topado essa parada, estariam se lamentando junto aos italianos, ainda inconformados com o fim trágico de “Leda e o Cisne”, tela de Leonardo da Vinci, queimada pela Inquisição.

No início dos anos 1980, D. Édy, viúva de Homero Massena, por insistência do médico Jayme Santos Neves, foi obrigada a deixar a casa da Prainha, onde viveu com Massena durante 23 anos. A casa, hoje Museu Atelier Homero Massena, fica em plano inferior ao da rua, num “buraco”. O Estado construiu atrás dela o Colégio Godofredo Schneider, que despejava grande parte da água da chuva, que caia sobre o seu telhado, dentro do quintal da D. Édy, inundando inclusive a casa. Reclamações foram feitas insistentemente, mas o problema persistiu. As paredes úmidas, a lama que passou a brotar das frestas do assoalho e frequentes alagamentos tornaram a casa extremamente insalubre. Como era alugada (Massena nunca teve casa própria) foi entregue aos proprietários, que não resolveram o problema e não alugaram o imóvel. Abandonada, após a saída de D. Édy, teve as janelas arrombadas e, quando ficava seca, abrigava mendigos. Eles usavam paralelepípedos improvisando um fogão e cozinhavam com a madeira arrancada do forro e do assoalho.

Há muito estava no ar a ideia de se fazer um museu, tornando patrimônio público a obra do mestre. Contatos feitos por um grupo de amigos influentes da viúva vinham se arrastando por 12 anos. A casa tombada pelo Conselho Estadual de Cultura (1983), entregue aos cupins, ameaçava desmoronar. Até que surgiu um fato determinante: a doença agressiva da D. Édy.

Diagnosticada no Rio, ela voltou para o apartamento que havia alugado na Prainha, sabendo que tinha pouco tempo de vida. Depois de uma conversa decidimos levar o projeto do museu adiante o mais rápido possível, na esperança de que ela assistisse à inauguração. Convidei dois voluntários: Pierre Debbané, publicitário, e José Luiz Frisso, engenheiro. Formamos uma equipe afinada, ligeira e entusiasmada.

Numa época em que ainda não existia nenhuma das famigeradas leis de incentivo à cultura, conseguimos, sem dinheiro público, mas com o apoio financeiro de empresários lúcidos e com boa vontade para promover a cultura (Helmut Meyerfreund, Jonice Tristão, Carlos Lessa, Ramiro Leal Reis, Camilo Cola, Claudinor Lorenzutti), que dessem de presente ao Espírito Santo o primeiro e ainda único Museu de Artes Plásticas, com coleção em exibição permanente. A confiança e a cooperação dos prefeitos de Vila Velha (Vasco Alves, Aucélio Sampaio e Carlos Malta, os três se sucederam em 6 meses no governo da cidade, tempo do desenvolvimento do nosso projeto) foram fundamentais para que a ação se desenrolasse em curto prazo. Infelizmente D. Édy, que acompanhou o dia a dia do projeto, não assistiu à inauguração, no dia 30 de outubro de 1986. Faleceu pouco antes.

O Museu Atelier Homero Massena tem suas portas abertas ao público há 30 anos. Mostra a obra do Mestre, seu estilo de vida e hospeda, no antigo quarto de hóspedes da residência, obras dos artistas contemporâneos de Massena, que atuavam no Espírito Santo.

Vila Velha, que recebeu tão preciosa prenda, saberá zelar e promover esse patrimônio. Embora modesto na forma, será sempre gigante no conteúdo. Principal artista da coleção do Palácio Anchieta e autor do teto do Teatro Carlos Gomes, Massena será sempre lembrado pelos capixabas como o artista que trouxe a pintura para o Espírito Santo. Foi o primeiro diretor da nossa Escola de Belas Artes fundada em 1951, transformada em Centro de Artes da Ufes. Conheçam a obra do Mestre. Visitem o Museu.


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com outubro, 2016

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