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quarta-feira, 7 de agosto de 2019

10 DE AGOSTO: DIA DE JORGE AMADO – singularidade


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(Pequim, 1987 - singularidade)


           Em Pequim, Fan Weixin, tradutor para o chinês de livros de língua portuguesa, de brasileiros traduziu José de Alencar e Herberto Salles, traz-me exemplar de tradução de Dona Flor e seus dois maridos, edição modesta, porém decente, Fan está contente com a repercussão do romance da moça baiana.

            Folheio o volume, relembro cenas de amor, dona Flor e Vadinho, os dois na cama, a rosa-chá e a pimenta malagueta, desconfiado pergunto a Fan Weixin:

            - Como traduziste as patifarias de Vadinho?

            Os lábios do tradutor abrem-se num sorriso malandro, quase brasileiro:

            - Ao pé da letra.

            No fim desse mesmo ano hospedamos na casa do Rio vermelho um jovem casal de amigos chineses. Ele é Ho-Ping, filho de Eva e Emi Siao (Siao Sam), Eva fotógrafa alemã, Emi um dos poetas mais famosos da China, foi íntimo amigo de Maiakowski*, deputado, biógrafo de Mao, durante vários anos representante da China no secretariado do Conselho Mundial da Paz, na Tchecoslováquia. Ho-Ping, dito Pupsik, nasceu em praga, alguns meses antes de Paloma: pais bobocas, inventávamos no Castelo dos Escritores* futuro noivado entre os dois infantes. Eva e Emi regressaram à China, gramaram dezesseis anos de prisão durante a mal denominada Revolução Cultural, Emi saiu da cadeia muito enfermo, logo faleceu.

            Ela é Ting-Li, esposa de Ho-Ping, filha de Liu Chao Shi, que foi Presidente da República Popular da China, Secretário-Geral do Partido Comunista, liquidado politicamente e assassinado durante os anos infelizes do domínio da Banda dos Quatro – os assassinos inventaram que Liu Chao Shi morrera num desastre de avião.

            Jovem casal encantador, trocam pernas nas ruas da Bahia, adoram a cidade, o casario, a culinária, os mercados, o povo alegre cordial. Nos intervalos dos passeios, no Jardim da casa do Rio Vermelho, Ting Li lê Dona Flor e seus dois maridos em chinês e em inglês. Pergunto e o que acha das duas traduções. Pensa um pouco, responde:

            - Ambas são boas, gostei das duas. Em inglês a história é mais picante, em chinês é mais romântica. Para você ter uma ideia dá singularidade de cada uma: em chinês dona Flor chama Vadinho de volta com o coração, em inglês ela o chama com aquilo o que tem debaixo das calcinhas.

            - E como se diz em chinês aquilo o que ela tem debaixo das calcinhas?

            Tim lê sorri, encabulada, pronuncia uma palavra, soou-me linda, um trino de pássaro, me esqueci, que pena.


*Maiakowski (18903/1930, poeta soviético.
**Castelo de Dobris, perto de Praga, onde J.A. viveu com a família de 1950 a 1952.


(NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM)
Jorge Amado
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            “Nenhum de meus detratores, esses tantos que não perdem vaza para dizer mal de mim, sabichões cuja missão crítica é negar qualquer valor a meus livros, nenhum deles conhece tão bem minhas limitações de escritor quanto eu próprio, deles tenho plena consciência, não permito que me iludam os oropéis e os confetes.

            Sei também, de ciência certa, existir nas páginas que escrevi, nas criaturas que criei, algo imperecível: o sopro de vida do povo brasileiro. Não carrego vaidade, presunção, e sim, orgulho.”

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JORGE AMADO - Quinto ocupante da Cadeira 23 da ABL, eleito em 6 de abril de 1961, na sucessão de Otávio Mangabeira e recebido pelo Acadêmico Raimundo Magalhães Júnior em 17 de julho de 1961. Recebeu os Acadêmicos Adonias Filho e Dias Gomes.

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