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terça-feira, 3 de novembro de 2020

NECESSIDADE DOS RECURSOS DA IGREJA PARA NOSSA "ÚLTIMA VIAGEM" - Plinio Maria Solimeo

3 de novembro de 2020


Plinio Maria Solimeo


Em filosofia há um conhecido axioma que diz “Todo homem é mortal. Ora, Sócrates é homem, logo Sócrates é mortal”.

         Não há certeza mais evidente e mais insofismável do que a de que todos morreremos um dia. Isso leva a considerar que, para os que temos fé, nossas últimas horas neste mundo poderão decidir nossa eterna salvação ou eterna perdição.

         Daí a necessidade de nos prepararmos bem para esta nossa última grande viagem para a eternidade, com os benefícios que a Santa Igreja põe à nossa disposição para esse momento.

Assim, quando o gongo já soou para nós e estamos no leito de morte, além de nos confessarmos e recebermos a Sagrada Comunhão, podemos ainda nos valer de um outro sacramento que a misericórdia de Deus instituiu para essa hora suprema, a Extrema Unção ou Unção dos Enfermos. Esse sacramento produz na alma, e mesmo no corpo do enfermo, admiráveis efeitos, como o de abrir mais facilmente as portas do paraíso.

         O sacramento da Unção dos Enfermos foi deduzido das palavras do evangelho de São Marcos: “E, tendo partido [os Doze Apóstolos], pregavam aos povos que fizessem penitência, e expeliam muitos demônios, e ungiam com óleo muitos enfermos e os curavam” (6, 12-13).

         Contudo, é na epístola de São Tiago que vem descrito mais explicitamente esse sacramento: “Está alguém entre vós enfermo? Chame os presbíteros da Igreja, e orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o doente; o Senhor o levantará e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” (5, 14-15).



         Desse modo o apóstolo só deu a conhecer um rito estabelecido pelo próprio Redentor e prescreveu seu uso, como diz o Concílio de Trento, citado pelo Catecismo da Igreja Católica[i]“Esta santa unção dos enfermos foi instituída por Cristo nosso Senhor como sacramento do Novo Testamento, verdadeira e propriamente dito, insinuado por São Marcos (120 – Cf. Mc 6, 13.), mas recomendado aos fiéis e promulgado por São Tiago, apóstolo e irmão do Senhor”.

Das palavras de São Tiago vem a seguinte definição do Sacramento dos Enfermos: “Unção de óleo, acompanhada de súplica, feita sobre os doentes, pelos presbíteros, a fim de lhes procurar a saúde da alma — pela remissão dos pecados, quando necessária — e, querendo Deus, a saúde corporal”.

Sobre esse sacramento diz a Constituição sobre a Unção dos Enfermos promulgada por Paulo VI em 1973, citado pelo mesmo Catecismo: “O sacramento da Unção dos Enfermos é conferido aos que se encontram enfermos com a vida em perigo, ungindo-os na fronte e nas mãos com óleo de oliveira ou, segundo as circunstâncias, com outro óleo de origem vegetal, devidamente benzido, proferindo uma só vez, as palavras: ‘Por esta santa unção e pela sua infinita misericórdia o Senhor venha em teu auxílio com a graça do Espírito Santo, para que, liberto dos teus pecados, Ele te salve e, na sua bondade, alivie os teus sofrimentos”.

Segundo o ritual antigo, a pessoa podia receber só uma vez o sacramento durante uma mesma doença. Isso foi modificado por Paulo VI, pelo que, no decurso da mesma doença, este sacramento pode ser repetido se o mal se agrava. Ele pode ser também recebido “antes duma operação cirúrgica importante, e por pessoas de idade, cuja fragilidade se acentua”. O que amplia muito o âmbito dos que podem receber o sacramento.


Últimos momentos de Sto. Afonso Maria de Ligório


Sobre os benefícios sem nome ligados à Unção dos Enfermos, o Concílio de Trento definiu que: “A realidade causada pelo Sacramento é a graça do Espírito Santo, cuja unção: a) apaga os pecados a serem perdoados, se ainda os há; b) apaga também os remanescentes dos pecados; c) alivia e fortifica a alma do doente, nele excitando grande confiança na misericórdia divina. Por ela sustentado, o enfermo suporta melhor os incômodos e trabalhos da doença; resiste mais facilmente às tentações do demônio que lhe arma insídias ao calcanhar (Gen 3,15); d) por vezes, quando convém à salvação da alma, recobra a saúde do corpo”[ii].

De acordo com os teólogos medievais, a Unção dos Enfermos apagaria também as penas temporais merecidas pelo pecado. O que prepararia a alma que o recebesse para ir diretamente para o Céu. Mas a Igreja ainda não se pronunciou a respeito.

         Como com a morte não se brinca — e muito menos com a salvação eterna —, dizem os teólogos que é muito conveniente que o enfermo receba a absolvição de seus pecados pela confissão, apenas iniciada a gravidade, mesmo se não existir perigo próximo de morte. Diz o eminente teólogo Pe. Royo Marin, O.P., “Com isso se dissiparia em grande escala esse estúpido e anticristão pretexto — que a tantas almas terá custado sua salvação eterna — de que se vai assustar o enfermo se se fala de confissão. Este é um dos maiores crimes que se pode cometer, dos que clamam vingança ao Céu, e não ficarão sem castigo nesta vida ou na outra”.[iii]

É por isso que se deve ministrar esse sacramento condicionalmente mesmo a quem está aparentemente (mas não certamente) morto. Pois a morte aparente prolonga-se até meia hora depois do último suspiro nos casos de doença prolongada ou de velhice, e por duas horas mais ou menos após a morte aparente nos de morte súbita ou violenta. O que levava a que, nos tempos em que ainda havia fé no povo, tão logo ocorresse um acidente, a ir-se imediatamente chamar um sacerdote para atender o sinistrado. E com isso quantas almas se salvavam!

A morte do Imperador Dom Pedro I


Monsenhor Penido dá um exemplo para mostrar a eficácia desse sacramento: “Suponhamos um pecador inveterado, surpreendido por mal súbito. Perdeu a fala, e não mais pode confessar-se. Mas intimamente teme o inferno, quer reconciliar-se com Deus e sua Igreja, que tanto desprezou. Receba os santos óleos, e todos os pecados ser-lhe-ão perdoados sem tardança”, abrindo-lhe as portas do Paraíso!

         Sabemos, por experiência, quanto despedaça o coração propor a um enfermo mui estremecido que receba os últimos Sacramentos. Mas porventura não lhe proporíamos um tratamento penoso, por exemplo uma operação dolorosíssima, no afã de tudo tentar para lhe salvar o corpo? E para a alma, nada faríamos? Isso seria aterradora prova de materialismo prático, argumenta Mons. Penido.

         Afirmam portanto os teólogos que não se deve esperar que o doente chegue à derradeira extremidade, quando o enfermo já perdeu muito de sua lucidez, para chamar o sacerdote. Pois os santos óleos não são o Sacramento dos cadáveres, nem apenas dos agonizantes, mas o Sacramento dos enfermos, instituído para o reconforto espiritual e corporal dos doentes.

Mas não param aí os benefícios da Santa Madre Igreja em favor dos que nos precedem acompanhados do sinal da fé. Qualquer sacerdote que assista o enfermo pode conferir-lhe também uma benção papal com indulgência plenária. Diz o Pe. Royo Marin que, “Se [o agonizante]conseguir lucrar plenamente esta indulgência plenária, a alma ficaria totalmente isenta das penas do purgatório”. Quer dizer, irá diretamente para o Céu. Contudo, diz ele, “Para sua validade [dessa bênção] se requer que o enfermo pronuncie com a boca, ou ao menos com o coração, o santo nome de Jesus, que aceite com resignação, em expiação de seus pecados, as dores da enfermidade e a própria morte se Deus determinou enviá-la naquela ocasião”.

 Por que, hoje em dia, se priva nossos caros doentes de todos esses celestes benefícios, negando-lhes o acesso aos últimos sacramentos? Pode-se ser mais cruel?

         Para concluir, citamos um efeito colateral da Unção dos Enfermos, que é a cura do corpo. Pois, no ritual desse sacramento, não ocorre uma só vez a palavra “morte”. Mas pede-se a Deus que “expulsai todas as dores do espírito e do corpo, e misericordiosamente restitui-lhe a saúde da alma e do corpo, a fim de que, restabelecido por obra de vossa misericórdia, ele possa voltar a suas atividades de outrora”.

         Como é rica e magnífica a doutrina católica, e como está voltada amorosamente para o amparo e a direção de seus filhos para levá-los com segurança à pátria celeste!


[i]Catecismo da Igreja Católica,

http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap1_1420-1532_po.html

[ii] In Mons. Dr. M. Teixeira-Leite Penido, Iniciação Teológica – Volume II,

O MISTÉRIO DOS SACRAMENTOS, Editora Vozes Limitada, Petrópolis, 1961, Capítulo V, O Sacramento dos Enfermos, pp. 391 e ss.

[iii] A Extrema Unção ou “Unção dos Enfermos”, Pe. Royo Marin, O.P., Teologia de la Salvacion, Biblioteca de Autores Cristianos, Madri, 1959, pp. 252 e ss.

https://www.abim.inf.br/necessidade-dos-recursos-da-igreja-para-nossa-ultima-viagem/

 

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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

POEMAS DO NEGRO - Cyro de Mattos


Poemas do Negro

Cyro de Mattos

  

Negrinha Benedita 

Por causa

dum frasco

de cheiro

apanhou

de chibata.

Os outros

assombrados

não puderam

fazer nada.

 

Sem andar

dias ficava.

Quando sarou,

falou ao vento

que ia embora.

Pelo mato

foi voando,

escapou

da cachorrada.

Teve sede,

teve fome,

levou espinho

pela cara.

 

Para trás

não olhava.

Com uma

espada afiada

que lhe deu

uma mão oculta

um dia viu

no quilombo

que ali era

a sua morada.

 

Aconteceu

que depois

a cabeça

da sinhá

amanheceu

decepada.

Ninguém viu

como se deu

na escuridão

daquela noite

a revanche

assim marcada.

Por causa

dum frasco

de cheiro

que ela pegou

pra ser cheirada.

 

Nação

Gritos como sinais

ecoam na planície,

saltam centelhas

das vozes ligadas

na corrente frenética

embarcada na África

para a Bahia negra

caindo no transe.

Nenhum outro batuque

trepidando na alma

tem mais grandeza

do que esse que faz

as distâncias perto,

joga raios do céu,

bate envolto em magia.

Canta, trepida, embala,

precipita ventos, falas

nesse tum-tum febril

que o coração arrebata.

 

Voz do Negro

Saltava do peito o céu

pela savana infinda,

célere alcançava

a terra, a água e o ar.

 

Arrancada do ventre,

açoite e tormento,

no ferro do porão

carregava lamentos.

 

Presa pelo açúcar,

lenta, entorpecida.

Não jogava raios,

sem asas o vento.

 

Para onde fosse

os ossos doendo,

em rigor oprimida

pelo açúcar sedento.

 

Virgindade

Da cabaça o mel

para servir a seu dono,

que deixava o fel.

 

Pra matar a sede

do que batia nos dentes

e arrancava a flor.

 

No mês mais um tanto

comido pelo senhor

calmo por enquanto.    

 

Ama de Leite

Seio puro e farto

lambido, bebido

para que o anjinho

não sucumbisse.

 

Cantiga baixinha,

monótona, serena,

dava soninho bom, 

o sonho aquecendo.    

 

Senhores bigodudos,

sisudos doutores,

quantos provaram

e saíram ilesos?

 

A paga na roupa

lavada, engomada.

No fogão, no asseio

a vida continuava.

 

O tempo as dores

moendo, remoendo.

Como devia ser,

o céu ordenava.

 

Banzo

O que é, sei não.

Difícil de dizer

dessa coisa triste, 

difícil de saber.

 

Bebida que desce

pra esmorecer,

dentro de mim

sem compadecer.

 

Não desgarra

quando agarra

meus passos, sós,

sem esperança.

 

Dá pena quando ouço

essa voz de África

com brilho forte do sol,

o que ficou pra trás.

Dá vontade de sumir.

 

Estes poemas ora publicados pertencem ao livro Poemas de Terreiro e Orixás, das Edições Mazza, BH, 2019.

 

 


CYRO DE MATTOS
- Jornalista, cronista, contista, romancista, poeta e autor de livros para crianças. Publicado em Portugal, Itália, França, Espanha, Alemanha, Rússia, Dinamarca, México e Estados Unidos. Premiado no Brasil, Portugal, Itália e México. Membro efetivo da Academia de Letras da Bahia, Academia de Letras de Ilhéus e Academia de Letras de Itabuna. Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

* * *

ALGUMAS FRASES PARA MEDITARMOS NESTE DIA DE FINADOS


 1 de novembro de 2020


A Santa Igreja sempre nos recorda da vida eterna após a morte, mas de modo especial no dia de Finados.

Lembremo-nos de rezar pelo sufrágio das almas que padecem no Purgatório e não nos esqueçamos de visitar as sepulturas de nossos parentes e conhecidos, pedindo que misericordiosamente Deus permita que as almas padecentes sejam levadas para o Céu.

Ocasião também para seguir o conselho da Igreja “Em todas as tuas obras, lembra-te dos teus novíssimos, e jamais pecarás” (Ecl. 7, 40), ou seja, meditar na Morte, no Juízo Final, no Céu e no Inferno. Com esse objetivo, seguem alguns pensamentos. 

*       *       *

“Uma flor sobre a sepultura, murcha; uma lágrima sobre as recordações, seca; mas uma oração por uma alma, Deus a recebe”.

(Santo Agostinho)

.

“Não existe arrependimento para os Anjos após a queda, assim como não há arrependimento para os homens após a morte”.

(São João Damasceno)

.

“Tudo o que não serve para a eternidade, não é senão vaidade”.

(São Francisco de Sales)

.

“Ó meu Deus! Que vergonha teremos quando o dia do Juízo Final nos fizer ver toda a nossa ingratidão! Compreenderemos então… mas já não será tempo. Nosso Senhor nos perguntará: ‘Por que me ofendestes?’ E não saberemos o que responder”.

(Santo Afonso de Ligório)

.

“Quereis saber o que é a alma? Olhai um corpo sem ela”.

(Padre Antonio Vieira)

.

“A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se”.

(Pitágoras)

.

“Entramos e gritamos, é a vida; gritamos e saímos, é a morte”.

(Ausone de Chancel)

   

https://www.abim.inf.br/algumas-frases-para-meditarmos-neste-dia-de-finados/

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C O N V I T E




A CÂMARA MUNICIPAL DA CIDADE DE SALVADOR tem a satisfação de

 

convidar para a Sessão Solene de outorga da Medalha Zumbi dos Palmares ao

 

Sr.Cyro Pereira de Mattos, nos termos da Resolução nº 2.948/20, de autoria do

 

Vereador Edvaldo Britoa ser realizada de forma remota no dia 3 de novembro, às

 

20h, pela plataforma Zoom através do link:

 

                                                  https://zoom.us/j/99890871530

 
 
Gabinete Edvaldo Brito
Vereador PSD
End.: Edf. Bahia Center, Rua Ruy Barbosa, 27 Centro - Salvador -Bahia
CEP.: 40020.070
Tel.: 71-3320-0444

 

domingo, 1 de novembro de 2020

PALAVRA DA SALVAÇÃO (208)


31° Domingo do Tempo Comum | Solenidade de Todos os Santos – 01/11/2020

Anúncio do Evangelho (Mt 5,1-12a)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— PROCLAMAÇÃO do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Mateus.

— Glória a vós, Senhor.

Naquele tempo, vendo Jesus as multidões, subiu ao monte e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e Jesus começou a ensiná-los:

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos, porque serão consolados.

Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.

Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus”.

— Palavra da Salvação.

— Glória a vós, Senhor.

https://liturgia.cancaonova.com/pb/

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Ligue o vídeo abaixo e acompanhe a reflexão do Pe. Roger Araújo:


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A santidade ativa a alegria

 


“Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus” (Mt 5,12)

À luz do Evangelho, alegria e santidade, não se dissociam; ao contrário, implicam-se mutuamente.

A alegria é um sentimento central da santidade cristã. Nisto consiste a verdadeira alegria: sentir que um grande mistério, o mistério do amor de Deus, nos visita e plenifica nossa existência pessoal e comunitária.

Alegria que brota do interior e é um dom do Espírito. “O fruto do Espírito é: amor, alegria” (Gal 5,22). Este dom nos faz filhos(as) de Deus, capazes de viver e saborear sua santidade e bondade.

Não é correto que os cristãos associem, com tanta frequência, a fé à dor, à renúncia, à mortificação, mas à alegria, à vida em plenitude.

A vida cristã, por vocação e missão, deve ser alegre. Toda ela é profecia de alegria e esperança. A participação afetiva na alegria de Cristo é a forma de expressar o desejo da íntima comunhão no amor que reforça o seguimento. “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria” (Papa Francisco).

A alegria na vida cristã aninha-se e cresce na vivência do mistério pascal. A ressurreição de Jesus causou uma imensa alegria na comunidade dos discípulos. Alegria que é contagiosa e tem uma dimensão social e comunitária. Nós não estamos alegres porque Jesus está vivo, mas porque nos fez partícipes de sua ressurreição, de sua nova vida. Assim nossa alegria é também a alegria de Jesus. 

Os Santos e Santas, por viverem profundamente no amor de Deus, são testemunhas da alegria.

Este amor é o que nos faz sair de nós mesmos, reencontrar-nos e viver em sintonia com outros. E aqui está o “peso” do amor, o vigor da alegria. O amor que Deus nos tem desperta a alegria e esta motiva, dá energia, gera confiança. O amor é o princípio que ordena a vida e a alegria irradia harmonia e bem-estar àqueles que nos rodeiam. Quem vive a partir da alegria, vive a partir do essencial e sabe discernir o autêntico das aparências e o útil do supérfluo. A alegria mantém alta a utopia e não se cansa em sua irradiação. Seguimos o conselho agostiniano: “A felicidade consiste em tomar com alegria o que a vida nos dá, e deixar com a mesma alegria o que ela nos tira”.

Quem é transparente e coerente transmite alegria em seu falar e em seu agir. Costumamos dizer: “alegrar a casa”, “alegrar a cor”, “alegrar o fogo”... ou seja, dar-lhe vida.

Desse modo, alegria confunde-se com plenitude, com vida em cheio, com entusiasmo, com a sabedoria que permite harmonizar tudo isso com a nossa fragilidade, com as nossas feridas e dores, perdas e desencontros, erros e tristezas. 

Ser testemunhas e profetas da alegria constitui a essência da santidade cristã.

O profeta da alegria, longe de fugir dos conflitos da vida, os enfrenta e os integra com sentido. Não tem fronteiras, não exclui gênero, classe social, cor, língua, religião, não descarta o aparentemente inútil. Por isso, sua vida e sua palavra querem ser anúncio e compromisso de concórdia e comunhão nos conflitos, unindo pontos, integrando diferenças, curando feridas. Sua presença alegre desmonta a hipocrisia, as ambições, a intolerância, o preconceito...

Quem vive a santidade na alegria se sente sereno, livre, pensa positivamente, está próximo dos pobres, acolhe as adversidades, integra suas contradições, ama sem pôr condições, louva, canta e bendiz sem cessar...

No pensamento hebraico, quando se diz que uma pessoa é santa não significa que ela seja apenas virtuosa, que tenha um comportamento ético impecável, mas, sim, que essa pessoa é diferente, é “outra”, que manifesta sua alteridade no mundo, revela uma maneira original de viver, uma outra maneira de amar.

Significa uma pessoa que introduz amor onde há ódio, que revela a paciência onde existe intransigência, que manifesta compreensão onde existe revolta, comunica paz onde existe a violência, deixa transparecer uma presença alegre onde impera a tristeza. 

É assim que a santidade está ao alcance de todos aqueles e aquelas que reconhecem sua própria finitude e desejam ser transformados pelo amor que é maior e os faz plenamente humanos. Ser santo(a) não é para campeões de perfeição, mas para pecadores que se reconhecem como tais e se deixam conduzir pelas asas da Graça de Deus  e pelo clamor que vem da alteridade desfigurada de todo aquele(a) que sofre e necessita cuidado e atenção.

“Ser santo(a)”  é sermos dóceis para “nos deixar conduzir” pelos impulsos de Deus, por onde muitas vezes não sabemos e não entendemos. Seus caminhos não são os nossos caminhos. Ser santo(a) é “arriscar-nos” em Deus; é navegar no oceano da gratuidade, da compaixão, da solidariedade...

Nesta atitude de “deixar-nos conduzir” é que entramos no fluxo da Santidade de Deus, nos atrevendo a planar sobre ela para mobilizar todas as possibilidades da nossa existência.

Essa é a nossa essência: em Deus, somos todos(as) santos(as). 

Nesse sentido, as bem-aventuranças desvelam o verdadeiro rosto do(a) santo(a). Quem é ditoso(a)? Quem é bem aventurado(a)? Quem é feliz? As bem-aventuranças são a exposição mais exigente e, ao mesmo tempo mais fascinante, da mensagem e da “intenção de Cristo”.

Não temos de pensar somente nos “santos e santas” canonizados(as), nem naqueles que viveram virtudes heroicas, mas em todos os homens e mulheres que descobriram a marca do divino neles(as) mesmos(as), e sentiram-se impulsionados(as) a viver com intensa humanidade. Ser santos(a) é ser humano por excelência.

Não se trata de nos fixar nos méritos de pessoas extraordinárias, mas de reconhecer a presença de Deus, que é o único Santo, em cada um de nós. Assim, no chamado à santidade, aspiramos somente a sermos cada dia mais humanos, ativando o amor que Deus derramou em nosso ser.

Para humanizar nosso tempo, os(as) santos(as) revelam atitudes e critérios que nos fazem mergulhar de cheio nos desafios e problemas que afligem grande parte da humanidade. Os(as) santos(as), de hoje e de sempre, não são encontrados nos pacíficos ambientes dos templos ou dentro dos limites da instituição eclesial, mas nas encruzilhadas da pobreza e da injustiça, nas “periferias existenciais”, em perigosa proximidade com o mundo da violência e da marginalidade, em situações de risco, onde a luz do amor brilhará mais do que nunca. 

Quem são esses Santos e Santas que celebramos cada ano e que são multidões ao longo dos tempos?

Santas e Santos desconhecidos, mínimos, ocultos, simples, com biografia que não aparecem na Wikipédia. Pessoas anônimas que estão presentes em todos os lugares, como fermento na massa, despertando esperança em tempos difíceis.

Numa cultura de morte e de violência como a nossa, as Santas e os Santos são os anônimos que arriscam suas vidas na defesa daqueles que não tem voz, agindo como samaritanos em favor da vida. Sua presença faz toda a diferença. Santa diferença! 

Texto bíblico:  Mt 5,1-12 

Na oração: O melhor modo de rezar as bem-aventuranças é seguir um dos“modos de orar” proposto por S. Inácio, ou seja: “Contemplar o significado de cada palavra da oração” (EE. 249).

* Rezar as dimensões da vida que estão paralisadas, impedindo-lhe viver a dinâmica das bem-aventuranças.


Pe. Adroaldo Palaoro sj

https://centroloyola.org.br/revista/outras-palavras/espiritualidade/2176-a-santidade-ativa-a-alegria

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sábado, 31 de outubro de 2020

HALLOWEEN: a gargalhada de Satanás

30 de outubro de 2020


O artista plástico Steven Novak transformou todo o jardim de sua casa, em Dallas (EUA), em uma cena de terror macabro

Luis Dufaur

Na Festa de Todos os Santos (1º de novembro) se comemora a memória de todos os santos e mártires, conhecidos ou não, com a certeza de que eles já estão no Céu, intercedendo por nós junto a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Entre eles desejamos que estejam nossos antepassados mais queridos. E rezamos para que, se pela Justiça Divina se encontrem no Purgatório, a Misericórdia de Deus pela intercessão de Maria Santíssima os resgate e os leve logo ao Céu. Intenção pela qual devemos rezar especialmente no dia de Finados (2 de novembro).

Mas nesta crise de descristianização que se alastra desde o Concilio Vaticano II, está entrando um outro costume com aparências de brincadeira.

É o Halloween, durante o qual se veste e decora-se a casa com objetos e cenas que se inspiram em coisas demoníacas. Destaca-se neste ano a aterradora exibição “artística” de Halloween em Dallas (EUA) feita pelo artista plástico Steven Novak [fotos acima e abaixo], noticiada pelo periódico “La Nación”1.

Ele montou no jardim dianteiro de sua casa uma cena de terror com manequins-cadáveres sadicamente assassinados entre poças de sangre.


Tal cena provocou forte indignação de vizinhos

Os vizinhos chamaram à polícia, que não fez nada porque, alegava-se, era mais uma forma lúdica de festejar o Halloween!

Em outros lugares fazem lanternas de abóbora, fogueiras, jogos de adivinhação, atrações “assombradas”, contam histórias assustadoras e se assiste a filmes de terror.

O termo Halloween foi criado por volta de 1745 pela contração do termo escocês All Hallows’ Eve, ou véspera do Dia de Todos-os-Santos.

Alguns falam, não sem fundamento, de uma sobrevivente de práticas supersticiosas ou diabólicas de povos pagãos que habitaram a Gália e as ilhas da Grã-Bretanha entre os anos 600 a.C. e 800 d.C.

Essas comemoravam o “dia das bruxas”, ou Samhain entre os celtas. Desde fins do século II, a evangelização foi banindo essas torpes práticas primitivas.


Essa questão do Halloween me veio à mente, lendo um cuidadoso depoimento da explosão de satanismo que culminou recentemente no incêndio e destruição de duas igrejas históricas no centro da capital chilena.

No depoimento me deparei com pungentes perguntas levantadas por Juan Antônio Montes Varas, diretor da associação chilena “Credo”, e publicadas em “Cidade Eterna”.2

O autor observa que em nossa era secularizada, as manifestações de ódio satânico eram geralmente disfarçadas de secularismo. Porém, agora em Santiago do Chile, ouviu-se um rugido de ódio incendiário contra Deus como nunca antes.

Igrejas históricas foram entregues às chamas ateadas por centenas de vândalos, que celebraram freneticamente a queda da torre de uma das igrejas.

Juan Antonio visitou os escombros dos dois templos e entre muitas outras blasfêmias leu pichada na parede uma consagração a Lúcifer… Na parede oposta outro grafite condenava Nosso Senhor: “Morte ao Nazareno” [Foto ao lado].


Com suas roupas impregnadas de cheiro de fuligem, Juan Antonio saiu se perguntando: como é possível que tantos tenham participado desta verdadeira orgia satânica? De onde veio essa geração de chilenos? Como eles poderiam ser pervertidos dessa maneira?

E veio à sua mente o fato tantas vezes comprovado que esses jovens que pretendem ser a fina ponta da modernidade cresceram num ambiente saturado de demandas ilimitadas de mais igualdade, mais liberdade e mais fraternidade.

O auge dessa igualdade só pode consistir em equiparar Deus e Satanás, segundo se deduz da narração bíblica sobre a revolta de Lúcifer.

Se todos somos “irmãos” sem restrições, segundo a última encíclica de Francisco e a pregação de organismos internacionais, todos não deveriam se alegrar com as “comemorações” dos “irmãos” ainda que incluam os piores horrores?

Concluindo a leitura do depoimento, meus olhos se voltaram para o Halloween anunciado nas redes sociais. Assim, achei uma ponta de explicação dos inenarráveis crimes religiosos praticados em Santiago do Chile e que suscitaram as perguntas do chileno Juan Antônio Montes Varas.

Nesse sentido, foi muito claro o Monsenhor Rubens Miraglia Zani, Exorcista Oficial da Diocese de Bauru (SP) e Delegado Coordenador da Associação Internacional dos Exorcistas, que explicou no Curso da Associação Internacional dos Exorcistas na cidade de São Paulo:

“Halloween faz parte de um projeto mais vasto, que quer induzir a opinião pública, em particular as crianças, os adolescentes e os jovens, a se familiarizar com mentalidades ocultas e mágicas, estranhas e hostis à fé e à cultura cristã.

“Querem o desaparecimento da visão cristã da vida e que se retorne àquela pagã. […] a mentalidade ocultista se está introduzindo subliminarmente e as crianças estão sendo acostumadas a essa linguagem e simbologia como diversão, brincadeira, atividade lúdica”.

O padre italiano Aldo Buonaiuto, exorcista e coordenador de um serviço de ajuda a vítimas do ocultismo, acrescentou no livro “Halloween: a travessura do diabo”:


“O Halloween não é uma festa de máscaras para crianças como gostariam de dar a entender, mas é a principal celebração mágico ocultista-satânica do ano! Para compreender melhor os perigos implícitos no aspecto oculto do Halloween, recordemos o significado de alguns termos que já fazem parte da linguagem popular.”3

“Todas as práticas do espiritismo são proibidas, porque são supersticiosas, e muitas vezes não estão isentas de intervenção diabólica, e por isso foram justamente interditas pela Igreja” ensina o imutável Catecismo de São Pio X, na resposta à pergunta nº 366.

E ainda no mais recente Catecismo da Igreja Católica, mandado publicar no pontificado de João Paulo II lemos:

“Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente ‘reveladoras’ do futuro”. (nº 2116).

Em 30 de outubro de 2019, Mons. Virgil Bercea, Bispo Greco-Católico de Oradea, do norte da Romênia, que sofreu na própria pele o ódio satânico na forma de torturas da polícia comunista, afirmou: “Esta festa foi combinada para destruir a solenidade de Todos os Santos”.

O Halloween é uma festa presente no Calendário Satânico e é considerado para os satanistas o início do ano novo de Satanás (noite de Sabbá).4

O Padre Francesco Bamonte, Exorcista de Roma e Presidente da Associação Internacional dos Exorcistas adverte:

“Até as escolas são decoradas com fantasmas, cabeças de abóbora e máscaras monstruosas, que constituem uma real exaltação do macabro. O objetivo desta festa não é apenas comercial, mas sobretudo o de induzir a opinião pública, em particular as crianças, os adolescentes e os jovens, a familiarizar-se com a mentalidade ocultista e da magia, […] enquanto assistimos à tentativa de eliminar os crucifixos dos locais públicos e à proibição de montar o Presépio.

“Na noite de Halloween também se registra um aumento impressionante de todos os rituais do satanismo, […] na qual o ritual de consagração a Satanás ocorre em moldes perversos e desumanos”.

Quando o famigerado satanista Charles Manson comandou a macabra chacina ritual, durante a qual a atriz Sharon Tate — que estava grávida — e quatro amigos do casal foram baleados, esfaqueados e espancados até a morte, o sangue das vítimas foi usado para escrever mensagens nas paredes.

Naqueles anos se espalhava o convite de Anton LaVey, fundador da Igreja de Satanás:

“Estou feliz por ver os pais cristãos deixarem seus filhos adorarem ao diabo pelo menos uma noite por ano. Bem-vindos ao Halloween!”

Alinhavando tudo isso, me pareceu poder formular melhor uma resposta às perguntas acima mencionadas pelo diretor da associação chilena “Credo”.

E creio que se pode entender as violências incalculáveis que as esquerdas comuno-ecologistas aliadas à teologia indigenista-tribalista preparam contra nosso país, nossas cidades, nossas propriedades e nossas famílias.

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Notas:

https://www.lanacion.com.ar/lifestyle/halloween-hiperrealista-decoro-su-casa-como-escena-nid2493605

https://www.aldomariavalli.it/2020/10/21/cile-quelle-profanazioni-che-nascono-dallideologia-delluguaglianza-assoluta/:

(Paulinas, 2019, pág. 82) https://pt.aleteia.org/2015/10/29/halloween-mera-diversao-pois-quem-se-diverte-mesmo-e-o-iabo/?fbclid=IwAR1SXIVAes2CbZPZ_lGYJE3RbRoYo9hg9Qx8bXb3SE0mhJLoCaRsPoYi_TY

https://curaelibertacao.com.br/se-voce-e-cristao-por-que-comemora-o-halloween/

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